Nos últimos anos, a atividade desportiva da Skoda tem estado ligada às versões de ralis do Fabia, na categoria Rally2 do WRC e em vários campeonatos nacionais e internacionais. Mas, nos anos setenta, a grande estrela da marca era uma máquina muito diferente. Tal como o Porsche 911, tinha motor e tração atrás e ganhava tanto nas pistas como nos ralis: o Skoda 130 RS.

A história da Skoda na competição automóvel é feita de vários modelos em diferentes disciplinas, ao longo dos anos. Mas é essencialmente feita do entusiasmo dos engenheiros encarregues de transformar modelos de produção em série, relativamente modestos, em carros competitivos, quer em corridas de circuito, quer em provas de estrada. A estratégia de produto da marca no pós-guerra assentou na produção em massa de veículos de baixa cilindrada, modelos de baixo custo, acessíveis a uma população pouco endinheirada. Na Checoslováquia das décadas de 1950 e 1960, não havia muitos compradores para carros dispendiosos e a importação de modelos de outros países estava muito limitada, com as divisões administrativas do território europeu. Mas, se o ponto de partida talvez não fosse dos mais fáceis, isso não significava que os mais entusiastas entre os responsáveis da Skoda não encontrassem maneira de levar a marca para o desporto automóvel. A divisão dos concorrentes dos ralis por classes de cilindrada, acabava por dar à Skoda uma oportunidade de se fazer notar, pelo menos entre modelos que se poderiam comparar aos seus.
Skoda 1000 MB
O Skoda 1000 MB (iniciais de Mladá Boleslav, a cidade sede da Skoda) de 1964 foi o princípio de um capítulo de grande atividade desportiva na marca. Tratava-se de uma pequena berlina de três volumes e 4,17 metros com cinco lugares e motor montado atrás do eixo traseiro, em posição longitudinal. Tinha quatro cilindros em linha, era arrefecido a líquido e a cilindrada ficava-se pelos 998 cc, anunciando uma potência máxima de 42 cv às 4650 rpm e binário de 68,5 Nm às 3000 rpm. A caixa de velocidades tinha quatro relações e a tração era, obviamente, às rodas traseiras. A suspensão da frente tinha braços sobrepostos e a de trás, braços oscilantes longitudinais, tendo molas helicoidais nas quatro rodas. A velocidade máxima era de apenas 120 km/h e o consumo de 7,0 l/100 km. Quanto ao peso, o 1000 MB ficava-se pelos 775 kg.




O modelo foi um sucesso entre as famílias do país e também no estrangeiro. Os orgãos de informação especializados em automóveis, elogiavam as soluções técnicas e a dinâmica, depois de o testarem, Sem ambições de grandes proezas na classificação geral, a verdade é que o 1000 MB era razoavelmente competitivo nas corridas do campeonato europeu de turismos, na classe até aos 1000 cc, lutando contra os Fiat Abarth 1000. Sobretudo quando a potência subiu aos 48 cv, em 1966 e mais ainda aos 52 cv, em 1969, depois de o motor subir aos 1107 cc, levando a uma mudança de nome para Skoda 1100 MB.
Skoda 110 R
No mesmo ano, o modelo foi substituído pelo Skoda 100/110, que mais não era do que um restyling mais ou menos profundo. A versão 100 tinha 998 cc e 48 cv e a versão 110 tinha 1107 cc e 53 cv, surgindo uma versão 110 LS com 62 cv, capaz de atingir os 140 km/h. Em 1970, é lançada a variante coupé designada 110 R, um 2+2 que só se diferenciava pelo número de portas e pelo desenho do tejadilho, partilhando a mecânica com o 110 LS.

No ano seguinte, 1971, o Ministro do Interior deu ordem para que se fizesse uma versão mais potente do 110, para uso pelas forças de segurança do Estado e o resultado foi o 120 S, com 1174 cc e 64 cv. Não era muito mais, mas era um ponto de partida muito melhor para daí se homologar uma versão de competição, o 120 S Rallye, com nada menos do que 120 cv às 7500 rpm, um enorme salto. Tinha dois carburadores Weber e atingia os 220 km/h, o que lhe dava argumentos para ser competitivo na sua classe. Vários pilotos privados usaram o 120 S Rallye, com carroçaria berlina de quatro portas, entre 1971 e 1974, com bastante sucesso.
Skoda 130 RS
Mas a maior evolução desta série de modelos da Skoda surgiu há 50 anos, em 1975, e foi designada 130 RS. O motor subia de cilindrada para os 1299,6 cc, ficando assim no limite da classe até 1300 cc. Ao contrário das versões de produção em massa, que tinham motor com bloco e cabeça em alumínio, a versão de competição tinha cabeça em ferro fundido. A potência subia aos 142 cv às 8500 rpm e a caixa de velocidades passava a cinco relações, com autoblocante. Mais tarde, a FIA obrigaria a marca a usar apenas a caixa de quatro, por ser a oferecida de série. Só estava disponível com a carroçaria coupé 2+2 e alguns painéis da carroçaria passavam a ser feitos em alumínio ou mesmo fibra de vidro. Este modelo recebeu o número de código interno Type 735 e a Skoda construiu 38 unidades, segundo as fontes oficiais, num total de 200 unidades, contando as que foram construídas por preparadores independentes.




O 130 RS foi usado em provas de velocidade em circuito, com uma aerodinâmica específica, mas a verdade é que foi a versão de ralis que mais fama trouxe ao modelo. O 130 RS era baseado na estrutura do coupé 110 R, devidamente reforçada para lidar com a potência acrescida e com os esforços muito maiores a que era sujeita. O motor tinha oito válvulas à cabeça e os êmbolos tinham maior diâmetro (75,5 mm) que curso (72 mm) movendo uma cambota de três apoios. A lubrificação era por cárter seco, nesta versão. O arrefecimento contava com um radiador colocado na frente, ao contrário das versões menos potentes que o tinham atrás, perto do motor. Os carburadores Weber 40, da versão 120 S foram trocados por dois Weber 45 DCOE. Quanto à carroçaria, os guarda-lamas tinham alargamentos, para albergar pneus de medida 215/50 R13 atrás, além de vias mais largas: tinha mais 130 mm, à frente e mais 116 mm, atrás. Curiosamente, a via dianteira de 1410 mm era superior à traseira, de 1366 mm. A suspensão também recebeu braços oscilantes diferentes, atrás, numa geometria que acabaria por vir a ser utilizada mais tarde nos modelos de série.
A homologação
A homologação do 130 RS pela FIA também merece ser recordada. Pelos regulamentos, o modelo só podia ser homologado na classe A2 se pelo menos 1000 exemplares iguais tivessem sido produzidos durante doze meses consecutivos. O conhecido piloto e jornalista Paul Frère, então comissário da FIA, foi à Checoslováquia fazer a inspeção das 1000 unidades. Os responsáveis do departamento desportivo da Skoda receberam-no com toda a atenção e mostraram-lhe menos de dez unidades, dizendo que os outros estavam em patrulha, pois tinham sido encomendados para ser utilizados pelo Ministério do Interior. Por isso não era possível reunir todos. Paul Frére certamente terá estranhado, mas não levantou objeções, talvez por entender que o desporto automóvel na classe dos 1300 cc tinha mais a ganhar com a presença da Skoda. E os grandes construtores não estavam envolvidos nestas cilindradas.



O 130 RS foi inscrito em provas de velocidade em circuito e em ralis durante oito anos, até a sua homologação finalmente expirar. No campeonato local de ralis de 1976 ganhou várias provas à geral. Contudo a administração da Skoda não parecia muito entusiasmada com os sucessos na competição automóvel e não apoiava o departamento de competição como estes pensavam ser necessário



O desinteresse da direção levou a que os 130 RS passassem a ser preparados e assistidos por uma equipa exterior à marca, patrocinada pela cooperativa agrícola unificada de Slusovice, que considerava este um investimento com bom retorno, dada a popularidade dos ralis no país.
Campeão europeu
Entre os resultados internacionais mais relevantes, contam-se o título de marcas no campeonato europeu de turismos em 1981. As sucessivas vitórias na classe foram suficientes para bater as marcas que disputavam as vitórias à geral, como a Audi e BMW, para surpresa geral. Outro marco importante foi a vitória à classe no Monte Carlo de 1977, onde o 130 RS foi 12º da geral. No ano seguinte, outra vitória à classe no rali Acrópole, na Grécia, e nono da geral. Em 1979 terminou esta prova em oitavo da geral. Durante anos, o piloto John Haugland, concessionário da marca na Noruega, participou no rali RAC no Reino Unido e ganhou por várias vezes a classe 1300cc, ficando regularmente nos vinte primeiros da classificação geral.




Em 1983, o último ano em que o 130 RS pode correr, sagrou-se campeão nacional. Tinha chegado a altura de pensar no que fazer a seguir. Antes do início do projeto 130 RS, a Skoda tinha construído três protótipos com motores maiores, o 180 RS e o 200 RS, respetivamente com motor de 1771 cc e 1997 cc, baseados no anterior 110 R coupé, mas que só podiam ser usados em provas que admitiam protótipos, maioritariamente domésticas. Para 1984 era preciso algo mais realista, que se materializou no 130 LS de grupo A, uma versão de ralis da nova série de berlinas 105L que era mais uma evolução do conceito do 1000MB original. Mas isso, é outra história.
Conclusão
A história da Skoda na competição automóvel é mais rica do que alguns pensam, estendendo-se por várias décadas até aos nossos dias. O Skoda 130 RS faz parte dessa história, numa altura em que os meios à disposição do construtor checo eram bastante limitados. Com pouco, fez muito.
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