O Volkswagen Golf foi apresentado em 1974 e representou uma revolução para a marca, que tinha vivido durante décadas sob o sucesso do Carocha. Meio século depois, o Golf já ultrapassou os 37 milhões de unidades vendidas em mais de 70 países. Uma história que vale a pena conhecer, contada por Francisco Mota
Um influenciador
O fenómeno em que se tornou o VW Golf ultrapassou em muito as soluções técnicas inovadoras ou até o estilo despojado e único que o distinguiu desde a primeira geração lançada em 1974. O Golf tornou-se desde muito cedo naquilo a que muitos classificam como um automóvel transversal a todas as classes sociais. Como afirma Thomas Schäfer, CEO da marca, “dentro de um Golf, todos estão vestidos com a roupa apropriada.” O modelo mais vendido de sempre da Volkswagen, que já ultrapassou os 37 milhões de unidades em meio século, é um exemplo de versatilidade na utilização e com um estilo que o integra em qualquer situação.







Mais do que qualquer outro rival, muitos deles apresentados depois e seguindo a mesma filosofia de produto; e ao longo de todas as suas oito gerações, o Golf conseguiu manter a fórmula viva. Sem nunca se transformar num modelo aborrecido, como o provam os inúmeros clubes de proprietários do Golf que existem por todo o mundo e que vão alimentando a sua paixão pelo modelo. O Golf é um daqueles automóveis que fez a faz parte das histórias de muitas famílias, quase um membro da própria família, em aguns casos. É também um modelo que se consegue adaptar às situações de condução mais variadas, estando à vontade em países com as condições meteorológicas e de circulação o mais diversas possível. E, na verdade, a simplicidade do conceito acaba por ser o segredo de tudo.
Como tudo começou
O gabinete de estudos avançados da VW deu início aos trabalhos do novo Golf em 1969, com um conjunto de três protótipos. O EA 266 já tinha uma carroçaria de dois volumes, mas mantinha o motor do Carocha e colocava-o a meio, sob o banco traseiro, o que se mostrava pouco prático em termos de manutenção. Seguiu-se o EA 276, já com motor e tração à frente, mas ainda com o mesmo quatro cilindros opostos do Carocha, finalmente, o EA 337 já experimentava um motor de quatro cilindros em linha e aproximava-se muito daquilo que seria a primeira geração do Golf.





Na verdade, em termos técnicos, o Golf foi uma revolução para a Volkswagen, que explorou o conceito do motor traseiro refrigerado a ar e tração traseira até não ser mais viável. O próximo passo foi inverter toda a arquitetura, passando o motor para a frente, tração às rodas da frente e arrefecimento a água. Sem esquecer a passagem da arquitetura dos quatro cilindros opostos horizontais, para os quatro cilindros em linha verticais. Mas não foi só a implementação mecânica que mudou. Também a arquitetura da carroçaria foi profundamente alterada, passando a ter um grande portão traseiro, para facilitar o acesso à mala e assim conferir ao Golf uma versatilidade de utilização muito superior à do Carocha.
Desenho minimalista
O desenho feito de superfícies planas aproveitava ao máximo o espaço disponível no habitáculo, tornando o Golf num pequeno familiar capaz de transportar quatro ou cinco ocupantes com conforto e ainda dispondo de uma bagageira com capacidade adequada. Claro que a evolução da segurança passiva e do equipamento também foram passos fundamentais para o crescimento do Golf nas tabelas de vendas da década de 1970 e posteriores.




O autor do estilo do primeiro Golf foi o reputado designer italiano Giorgetto Giugiaro, que desenhou toda a nova família de modelos da VW lançada em 1970. As linhas simples do Golf tinham duas características identificativas que perduraram no tempo. Giugiaro queria faróis retangulares, tal como eram os farolins traseiros, mas a VW achou isso um custo desnecessário e impôs os faróis redondos mais baratos. Em segundo lugar, para garantir boa rigidez na zona traseira, os pilares traseiros do tejadilho eram particularmente largos. Dois detalhes que se mantiveram durante anos nas sucessivas gerações do Golf.
Alargar horizontes
Mas o Golf não ficou estagnado na definição da primeira geração, pelo contrário. A segunda geração representou de imediato um alargar de horizontes, com aumento de dimensões que lhe reforçaram a vocação familiar e isso acabou por ser uma tendência ao longo dos 50 anos de vida do Golf. Uma tendência de atualização, de manter o modelo relevante à medida que as exigências do mercado se alteravam. Andreas Mindt, atual líder do estilo na VW, considera que “a passagem da primeira para a segunda geração foi o momento mais importante na história do Golf. O então chefe de estilo, Herbert Schäfer fez tudo certo. Ele modernizou o segundo Golf, mas manteve o ADN.”
Mindt explica assim o sucesso do Golf ao longo das gerações: “com o Golf, experimentações são sempre um grande risco. Um Golf não deve polarizar opiniões, mas deve introduzir algumas inovações.”

O designer atual da VW define o que deve ser um Golf com uma mistura de conceitos técnicos e estilísticos em que se incluem uma silhueta onde a relação entre a zona vidrada e o contorno global tem que se manter. Os pilares de tejadilho largos dão-lhe estabilidade e as superfícies devem transmitir alguma tensão em todas as direções, conferindo-lhe um aspeto robusto. Finalmente, um Golf deve “sorrir”, afirma Mindt.
Claro que a história do Golf estaria incompleta sem uma forte referência à versão desportiva GTI, que nasceu em 1976 de uma iniciativa não oficial de um grupo de engenheiros da VW entusiastas pelo desporto automóvel. Foi o seu trabalho feito fora de horas que apresentaram á administração e que foi aprovado para um volume de produção inicialmente reduzido a 5000 unidades. A receção do mercado foi tal – em 1977 foram vendidos 22 000 só na Alemanha – que o GTI nunca mais deixou de fazer parte da gama Golf.
Primeira geração





A primeira geração do VW Golf foi apresentada em 1974, primeiro com carroçaria de três portas e mais tarde com carroçaria de cinco portas. Um descapotável de duas portas, com arco de proteção chegou também à gama em 1979, logo nesta geração, com grande sucesso. Mas também existiram carroçarias pick-up, a Caddy, e um três volumes, o Jetta. O motor arrefecido a ar foi um sucesso, sobretudo em termos de fiabilidade, dando continuidade a um dos valores de sempre da VW. Esta geração terminou com um total de 6,9 milhões de unidades vendidas.
Segunda geração





Seguiu-se a segunda geração em 1983, com uma carroçaria mais aerodinâmica, mais espaço no habitáculo, motores mais económicos e a introdução de dispositivos com o ABS e a tração às quatro rodas. As maiores dimensões davam-lhe também maior conforto e a direção assistida passou a estar disponível. Em 1989, a VW projetou a versão dedicada aos ralis mundiais, o Golf Ralllye G60, com compressor “G” e tração integral, entrando com a equipa oficial na classe mais alta do WRC na altura, o Grupo A. Total de unidades produzidas desta geração foi de 6,3 milhões.
Terceira geração





A terceira geração de 1991 marcou mais um degrau na evolução do estilo, com os faróis alongados que juntavam os faróis duplos opcionais nas duas gerações anteriores. A Volkswagen apostou forte no reforço da segurança passiva, com uma nova geração de airbags, frontais e laterais, além de barras nas portas e outros reforços. O modelo crescia em termos de oferta de motores, sendo introduzido o icónico 1.9 TDI, um Diesel de injeção direta que faria história na marca. Outra novidade foi a chegada da primeira versão carrinha do Golf, a Variant em 1993, ainda com mais espaço. Ao todo, esta geração foi fabricada em 4,8 milhões de unidades.
Quarta geração





A quarta geração do Golf foi lançada em 1997 e teve no aumento da qualidade de construção um dos seus pontos mais fortes. O Golf passava a estar ao nível de modelos de segmentos mais caros, neste aspeto. O Golf passava a ser um modelo premium por mérito próprio. Nesta geração, a versão de três volumes passou a chamar-se Bora e tinha um estilo diferenciado, ao contrário da versão carrinha e do cabriolet que se mantinham alinhados com o Golf. A VW continuava a investir nas versões desportivas e, além do GTI, lançou em 2002 o Golf R32, com um motor VR6 e tração às quatro rodas 4Motion. Foram vendidas 4,9 milhões de unidades desta quarta geração.
Quinta geração





Em 2003, a quinta geração surge com um desenho evolutivo, continuando a apostar no posicionamento premium. A suspensão foi muito evoluída, recebendo pela primeira vez uma arquitetura multi-braço atrás, com a nova estrutura a subir 35% na rigidez. Foi a altura da introdução da caixa de dupla embraiagem DSG7, faróis bi-Xenon e a tecnologia TSI de injeção direta de gasolina. Além da Variant, e do regresso do nome Jetta, a gama passou a ter uma versão MPV, o Golf Plus, que contribuiu para uma produção total de 3,4 milhões de unidades.
Sexta geração





A sexta geração chegou em 2008, mais uma vez com um reforço de qualidade de construção e de materiais no habitáculo. Mais investimento em tecnologia e no estilo levaram o Golf a vencer o mais prestigiado prémio da industria automóvel, o The Car Of The Year, em 2009. Em 2011, uma nova versão do Golf Cabrio foi lançada, com o aro do para-brisas reforçado e sem necessidade de arco central, o que lhe garantia maior elegância. O modelo fechou a produção com 3,6 milhões de unidades produzidas.
Sétima geração





A sétima geração do Golf surgiu em 2012, continuando a tendência de um posicionamento acima dos seus rivais do segmento C dos familiares compactos. A plataforma aumentou a distância entre-eixos mais uma vez e a dinâmica melhorou com isso. A gama de motores foi renovada, todas equipadas com start/stop e sistema de recuperação de energia. Também chegaram várias ajudas eletrónicas à condução e, em 2014, o Golf recebeu a versão 100% elétrica e-Golf, alem do “plug-in” GTE. Produção total ascendeu aos 6,3 milhões.
Oitava geração




Em 2019 é lançada a oitava geração do Golf, com foco na digitalização, no aumento da eficiência dos motores e na qualidade. Foram introduzidos mais sistemas de ajuda à condução, como travagem autónoma de emergência, assistente de manutenção de faixa de rodagem e outros, que lhe valeram um prémio da EuroNCAP. A introdução da suspensão DCC, com regulação do conforto dos amortecedores foi um aspeto importante. A versão mais desportiva, o Golf R, passou a ter 320 cv. Até 2024, a estimativa de produção desta geração é de mais de um milhão de unidades. Altura em que o Golf recebe um ligeiro restyling e um reforço tecnlógico.
Restyling 2024
O Golf de 2024 continua a ser a oitava geração, mas com os para-choques da frente e de trás redesenhados, este com um estilo de difusor. Os faróis têm LED Matrix iq.light e as luzes de trás são em LED com animações. O logotipo passou a ser iluminado na frente e o radar desceu na grelha. Há novos desenhos de jantes e novas cores.
O interior recebeu um novo ecrã tátil de 12,9” com novo software MIB4, mais intuitivo. O volante tem teclas físicas, o slider do infotainment é iluminado, há novas inserções decorativas e o ChatGTP estará disponível no final do ano.





Quanto à gama de motores, começa com o novo motor de quatro cilindros 1.5 TSi e uma versão 1.5 eTSI mild hybrid associada à caisa DSG. Depois há dois motores PHEV, o eHybrid de 204 cv e 140 km de autonomia em modo elétrico e o GTE com 272 cv, com 120 km de autonomia em modo elétrico, ambos com o novo motor 1.5 TSI e possibilidade de carregar a bateria híbrida em corrente contínua. O GTI passa a ter 265 cv, numa subida de 20 cv. Quanto a preços, o 1.5 TSI começa nos 28 620 euros, existindo uma versão comemorativa dos 50 anos, com equipamento reforçado e com um preço de 29 597 euros, também na versão 1.5 TSI. Além disso, ainda há versões Style e R-line. A carrinha Variant continua disponível, mas não em versão plug-in, custando 30 644 euros na motorização 1.5 TSI Life. Uma última nota curiosa, em Portugal, foram matriculados e não foram abatidos 190 000 Volkswagen Golf até hoje.
Conclusão
Apesar do crescimento das vendas dos SUV, a verdade é que o Golf consegue continuar a atrair um tipo de cliente que nele vê os méritos de um familiar compacto, de alta qualidade, versátil e atualizado em todos os aspetos que hoje são considerados mais importantes.