Alguns rivais já desapareceram, outros têm os dias contados e outros arrastam-se pelo mercado. Claro que as vendas já não são o que eram, mas o Golf continua a resistir. A oitava geração recebeu um restyling, descubra o que mudou em mais um Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

Foi apresentado em 1974 e revolucionou o mercado dos familiares compactos, a ponto de obrigar todas as marcas rivais a copiá-lo. O Volkswagen Golf já ultrapassou a barreira do meio século, com 37 milhões de unidades produzidas e já vai na oitava geração, que agora recebeu alguns melhoramentos. Nada de espetacular, pois o mercado continua a apreciar o modelo mais produzido de sempre da marca alemã. Mas o lançamento desta geração já foi em 2019 e está na altura do agendado restyling de meio ciclo de vida. Se está previsto, os alemães cumprem o plano, até porque o final da carreira desta geração não está para breve. Com o mercado a preferir SUVs – fazendo do T-Roc fabricado em Portugal o modelo mais vendido da VW na Europa – o Golf precisava de alguma atenção.

A primeira coisa a mudar foi a oferta de motores com o 1.0 TSI de três cilindros e 110 cv a desaparecer da gama, dando lugar a versões de 115 cv do 1.5 TSI e do 1.5 eTSI, o segundo motor move o protagonista deste Teste TARGA 67. Este quatro cilindros turbocomprimido a gasolina surge agora na segunda evolução, o evo2, com alterações na gestão eletrónica e redução de atritos internos, medidas para lhe aumentar a eficiência e reduzir emissões.
Semi-híbrido
O sistema semi-híbrido (mild hybrid) só está disponível com a caixa DSG7 de dupla embraiagem e sete relações, pois o motor/gerador de 18 cv está integrado nessa caixa, sendo alimentado por uma pequena bateria. A função do sistema é apenas fornecer binário nos momentos em que o motor a gasolina precisa, reduzindo assim o consumo de gasolina e tempo de resposta do turbo. Ao contrário de outros semi-híbridos mais recentes, este não permite circular a baixa velocidade, mesmo que somente por alguns metros, apenas com o motor elétrico. Mesmo com um binário máximo de 250 Nm, entre as 1500 e as 3500 rpm, face aos 200 Nm às 2000 rpm do anterior motor 1.0 TSI.




Quanto ao restyling, os pára-choques foram redesenhados, bem como as funções dos faróis, que passam a ter o sistema IQ.Light Matrix LED e luzes traseiras retocadas. O símbolo dianteiro passa a ser iluminado e há jantes com novos desenhos. Por dentro, o infotainment foi substituído por um da nova geração MIB4 com monitor maior de 12,9” e tem ChatGPT em opção. Há também novos revestimentos nos bancos e portas e o volante abandona os botões hápticos em favor de teclas físicas, bem mais fáceis de usar. Também o painel de instrumentos foi melhorado.
E por dentro…
As mudanças não são muitas, mas são as necessárias, na opinião da VW. A verdade é que o estilo desta geração do Golf nunca foi um dos mais elegantes na história do modelo. No habitáculo, a conversa é outra, a começar pela qualidade apercebida, feita de materiais macios na metade superior do tablier e das portas da frente. Os outros plásticos são duros, mas com acabamento superficial mate que resulta bem, além de aplicações decorativas de bom efeito.




O painel de instrumentos, como na maioria dos VW, assenta muita da transmissão de informação em frases e números, o que obriga a desviar os olhos da estrada mais do que seria desejável. O monitor central é mais fácil de usar e passou, finalmente, a ter os “sliders” de ajuste do som e temperatura iluminados. Mas a sua organização não é intuitiva: para escolher o modo Sport no ESC tem que se entrar pelo ícone “Travar”. Por baixo, há quatro botões de atalho para os modos de condução, climatização, ajudas à condução e menu de estacionamento automático. Dão uma ajuda, mas não resolvem tudo. E não há mais botões na consola.
Posição de condução
A posição de condução é muito boa, o volante está bem posicionado, tem uma pega anatómica e revestimento agradável ao toque. O banco é um pouco firme, mas confortável e com apoio lateral suficiente. Tanto um como o outro têm regulações muito amplas e os pedais estão bem colocados. A alavanca da caixa é na verdade um pequeno interruptor balanceiro, não muito prático de usar, existindo patilhas no volante para comando manual.



Quanto à habitabilidade, claro que não houve mudanças. O espaço nos lugares da frente é suficiente para a maioria das estaturas e na segunda fila o comprimento para pernas é bom, a altura e o acesso são muito bons e a largura é a esperada para um familiar compacto com 1789 mm de largura. O principal impedimento para o passageiro do meio é a existência de um volumoso túnel no chão, mas é óbvio que os dois lugares dos extremos são muito mais confortáveis. A mala tem 381 litros, um formato fácil de aproveitar e bom acesso.
Muito suave
Em andamento, as primeiras impressões chegam da direção, muito bem assistida e com um tato muito bom que não deixa dúvidas acerca do que as rodas da frente estão a transmitir ao condutor. O raio de viragem de 11,1 m não é muito grande e a visibilidade é boa, pois o Golf nunca cedeu à moda dos tejadilhos quase coupés. A caixa DSG7 de dupla embraiagem é suave a todos os regimes e a resposta do motor beneficia claramente da intervenção elétrica, sobretudo a baixas velocidades. Mesmo optando pelo modo Eco, não há falta de binário, menos ainda nos modos de condução Normal e Sport que têm um mapa de acelerador mais dinâmico, existindo ainda o modo Individual, que só ajusta direção e caixa de velocidades, pois o amortecimento não é adaptativo. Os travões são fáceis de dosear, mas não senti nenhum efeito de retenção nas desacelerações, proveniente do sistema híbrido.


A versão deste ensaio é a R-Line, com suspensão um pouco mais firme e pneus de medida 225/40 R18. Este duo revelou-se um pouco duro em excesso, em pisos menos que perfeitos. Considerando a performance disponível, sou da opinião que será preferível optar por uma medida de jante e pneu abaixo. De qualquer modo, a suspensão MacPherosn, à frente e barra de torção, atrás, proporciona um nível de controlo muito bom, que se nota mesmo a baixas velocidades e nunca passa pancadas mal amortecidas para o habitáculo.
Consumos
No meu habitual teste de consumos TARGA 67, em cidade, com modo Eco e o A/C desligado, obtive um consumo médio de 6,4 l/100 Km. Passando para a autoestrada e mantendo as mesmas escolhas, rodando a 120 km/h estabilizados, o consumo registado foi de 5,2 l/100 km. São valores muito bons, que mostram bem a importância de ter um sistema híbrido, nem que seja apenas um “mild hybrid”. Para comparação, o anterior Golf 1.0 TSI com 110 cv e caixa manual, que testei aqui no TARGA 67, gastou 7,1 l/100 km, em cidade e 5,6 l/100 km, em autoestrada.


O Golf sempre teve uma enorme estabilidade a velocidades mais altas, típicas de autoestrada, é feito “à prova de autobahn” como diz uma marca concorrente acerca dos seus próprios modelos. Dizer que o Golf 1.5 eTSI de 115 cv é um estradista, pode parecer exagero. Mas a verdade é que cumpre essa tarefa com enorme facilidade, poucos ruídos de origem aerodinâmica ou de rolamento e um motor realmente muito silencioso. Tudo isto com um bom nível de conforto pois, na autoestrada de bom piso, a suspensão e os pneus mantêm o Golf livre de oscilações parasitas. Boa nota para a ajuda à manutenção de faixa, que não é exagerada. A velocidade máxima anunciada é de 203 km/h.
Boa dinâmica
Mesmo tratando-se de uma versão de base, apesar de estar bem equipada e ter detalhes que contrariam essa noção, nesta versão R-Line, o Golf 1.5 eTSI 115 cv anuncia os 0-100 km/h em 9,9 segundos e tem o suficiente para entreter o condutor numa boa estrada secundária. Os pneus da frente garantem uma entrada em curva precisa e rápida, como seria de esperar. E depois sentem-se os esforços bem distribuídos pelas quatro rodas, numa atitude neutra que transmite confiança a qualquer condutor, beneficiando de um peso de apenas 1332 kg.



Para os mais “atrevidos”, uma entrada em curva mais rápida, seguida de uma desaceleração decidida é capaz de colocar a traseira a deslizar suavemente, ajudando o Golf a fazer a rotação, sem necessidade de correções e acrescentando algum divertimento. O modo “S” da caixa funciona bem, podendo confiar-se nele para fazer reduções no tempo certo durante as travagens. Mas as patilhas no volante são a melhor maneira de ter maior envolvimento na condução, só é pena serem tão pequenas. Num ritmo mais acelerado, a sexta e sétima velocidades são demasiado desmultiplicadas e acabam por não ser usadas.
Conclusão
Mesmo com a procura de “hatchbacks” a descer, trocados por SUV de todos os tamanhos e feitios, a verdade é que o Golf continua a propor uma fórmula que faz todo o sentido, para um familiar compacto. Tem espaço suficiente, alta qualidade, um bom motor nesta versão base e consumos reduzidos. E mantém aquele ar de semi-premium que lhe dá uma imagem como nenhum outro rival.
Francisco Mota
VW Golf 1.5 eTSI 115 DSG R-Line
Potência: 115 cv
Preço: 44 236 euros
Veredicto: 4 estrelas
Ler também, seguindo o link:Primeiro Teste – VW Golf 1.5 eTSI: restyling ligeiro