Teste – Skoda Fabia 1.5 TSI Monte Carlo: “cheirinho” a ralis

Por Francisco Mota 11 Min leitura

Inspirado na versão de ralis RS Rally2, o Fabia 1.5 TSI Monte Carlo propõe um “cheirinho” a ralis, não só a nível visual. Saiba tudo em mais um Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

O envolvimento da Skoda no mundo dos ralis começou nos anos setenta, primeiro como resultado do entusiasmo dos líderes da companhia, chegando hoje a ser um negócio muito lucrativo. Há vários anos que a Skoda fabrica versões do Fabia para o segundo escalão dos ralis internacionais, a que agora se chama Rally2.

São versões muito específicas, exclusivamente para uso em competição e que, da versão de série só mantêm a estrutura base. Usam motor de competição, suspensão de competição, aerodinâmica muito desenvolvida e até tração às quatro rodas com caixa sequencial.

É o escalão mais importante em todos os campeonatos nacionais e internacionais de ralis mais importantes da Europa, com a excepção do WRC, em que os Rally1 híbridos são o primeiro escalão.

Com um mercado tão grande e uma experiência muito longa, não admira que o Fabia RS, assim se chama a mais recente evolução da versão Rally2, seja um dos preferidos das equipas privadas que dominam este escalão.

Um bom negócio

Para se ter uma ideia da dimensão deste negócio, a marca já vendeu 470 unidades das várias evoluções do Fabia para a classe Rally2, desde 2015.

Trata-se de carros completamente preparados para ser usados em ralis, com a Skoda a fornecer um serviço de apoio ao cliente que inclui peças de substituição, serviço de manutenção e até apoio “in loco”, com engenheiros da marca a deslocarem-se às provas para apoiar as equipas que assim o desejarem.

Com tudo isto, é natural que as vitórias à geral e na classe se tenham acumulado ao longo das últimas décadas, mesmo se, obviamente, as vitórias à geral no WRC não sejam possíveis.

Este capital de imagem desportiva talvez não tenha sido totalmente aproveitado pela Skoda, pois falta uma versão realmente desportiva na sua gama, um equivalente ao Polo GTI, com o qual partilha a plataforma. Mas a procura deste tipo de versões já não é o que era e o que nunca falta à Skoda é racionalidade.

Monte Carlo

Ainda assim, a marca da Chéquia não tem desperdiçado por completo o potencial de marketing do seu envolvimento nos ralis, nomedamente com as versões Monte Carlo.

Não são versões profundamente desportivas, como é claro. O motor mais potente em que o Fabia Monte Carlo está disponível é este 1.5 TSI, um quatro cilindros turbo de 150 cv, agora em versão Evo2, acoplado a uma caixa DSG7 de dupla embraiagem. A suspensão usa amortecedores desportivos e jantes de desenho específico, com pneus de medida 215/40 R18, uns Conti Sport Contact 5.

O resto são mudanças de decoração, com discretas placas alusivas ao mais famoso rali do mundo e detalhes no desenho dos para-choques, grelha e capas dos retrovisores pretos. Que na cor preta desta unidade de teste não se destacam.

Por dentro, as mudanças são mais visíveis, com mais placas Monte Carlo, pespontos em alguns locais, aplicações em imitação de fibra de carbono e frisos vermelhos, um pouco por todo o lado. E não falta o chapéu de chuva na porta.

Ambiente desportivo

O volante tem um desenho desportivo, com pega anatómica, pele perfurada e base achatada. Os pedais têm capas em alumínio e os bancos são desportivos, com bom apoio lateral. O painel de instrumentos também usa gráficos vermelhos e tem boa leitura, o ecrã tátil central é simples e fácil de consultar e o módulo da climatização está separado, a meio da consola.

A alavanca da caixa DSG7 é convencional e tem função “S” desportiva, além de setor paralelo +/- para comando sequencial. Também há patilhas no volante. O travão de mão é um tradicional de alavanca, para quem gostar de o usar em condução desportiva. Apesar de ter muito poucas superfícies macias, a sensação de qualidade é boa, pois as texturas e os acabamentos superficiais sem brilho foram bem escolhidos.

O espaço nos lugares de trás é bom para o segmento, com generoso comprimento para pernas e um acesso muito fácil, com a boa altura das portas a ajudar. A largura não permite levar a lotação máxima com conforto. A mala tem 380 litros, formas regulares e acesso fácil. A posição de condução tem ajustes mais que suficientes do volante e banco, que é confortável e encaixa bem o corpo. A visibilidade é fácil para quase todos os ângulos.

Sem modos…

Não há modos de condução e, francamente, não dei por falta deles. Em cidade, a direção pareceu-me bem assistida e precisa e o pedal de travão fácil de dosear. Em modo “D” automático, a caixa faz uma seleção criteriosa da mudança a usar em cada momento e as passagens de caixa são muito suaves.

O motor 1.5 TSI tem a suavidade típica dos quatro cilindros, muito silencioso e sem trepidações. A resposta do acelerador é mais que suficiente para o meio urbano, mostrando alguma vivacidade desde baixos regimes. O binário máximo de 250 Nm está disponível logo às 1500 rpm, por isso não se nota tempo de resposta do turbocompressor.

A suspensão de barra de torção atrás e os pneus Continental conseguem um nível de conforto adequado para um utilitário com algumas ambições dinâmicas. Não é o Fabia mais confortável, mas não reage mal aos maus pisos ou às bandas sonoras mais altas.

Consumos baixos

No meu habitual teste de consumos reais em cidade, obtive um valor de 6,6 l/100 km, que merece elogios pois esta versão “evo 2” do motor 1.5 TSI ainda não tem nenhum tipo de sistema híbrido.

Em autoestrada, a 120 km/h estabilizados e com o A/C desligado, o consumo real registado foi de 5,4 l/100 km. Aqui, merece destaque a desativação de dois cilindros, quando se usa pouco acelerador e a função “vela” da caixa de velocidades, que atua a função roda livre, em vias com declive favorável e quando não se está a usar o acelerador.

O conforto da suspensão mantém-se em autoestrada e vias rápidas, acrescentando-se um muito bom controlo dos movimentos da carroçaria, mesmo sobre bossas ou desníveis do piso. Os ruídos de origem aerodinâmica e de rolamento estão bem controlados.

Dinâmica satisfatória

Passando a uma estrada secundária, com curvas de todo o tipo e assumindo um estilo de condução mais rápido e desportivo, o Fabia 1.5 TSI Monte Carlo não desilude.

Os 150 cv do motor estão disponíveis com facilidade e permitem acelerações convincentes, com a marca a anunciar os 0-100 km/h em 8,0 segundos e 228 km/h de velocidade máxima.

A caixa de velocidades, usada em modo automático mas com a função “S” ativa, faz passagens no tempo certo, atrasando as passagens para cima, para deixar usar mais regime e usando as reduções para ajudar nas travagens mais fortes.

Mas, para ter uma experiência mais envolvente tem que se passar para as patilhas. É uma pena serem tão pequenas, pois o seu funcionamento é muito rápido e suave e quase sempre obediente. Só nas reduções de terceira para segunda a gestão mostra alguma preocupação excessiva com a fiabilidade, obrigando a baixar a rotação mais do que o desejável, antes de autorizar a redução.

Um “mild-sport”

A direção mostrou, também nestes terrenos, bom tato, rapidez e precisão, sem nenhum nervosismo em excesso. E depois os pneus desportivos têm a aderência suficiente para deixar colocar a frente na trajetória escolhida com rigor, resistindo muito bem à subviragem.

A aderência lateral também impressiona em curvas rápidas, se bem que com uma inlinação da carroçaria a provar que este Monte Carlo é apenas um “mild-sport”. Mesmo provocada, a traseira não é muito dada a ajudar a fazer a rotação do Fabia em curva, a sua atitude é muito neutra e eficiente.

O ESC não é demasiado intrusivo e a tração dianteira coloca toda a força no chão com enorme facilidade, quando se acelera a fundo para sair de uma curva mais fechada. Travões mais que suficientes.

Conclusão

O Fabia 1.5 TSI Monte Carlo proporciona momentos de condução rápida envolventes e satisfatórios, mostrando-se também muito competente em cidade e poupado em autoestrada. Mais do que um desportivo, é uma versão muito completa, capaz de agradar a vários tipos de condutor.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

Skoda Fabia 1.5 TSI DSG7 Monte Carlo

Potência: 150 cv

Preço: 31 594 euros

Veredicto: 4 estrelas

Ler também, seguindo o link:

Teste – Skoda Fabia 1.0 Monte Carlo: O peso de um nome

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