Teste – MG3: Rival chinês do Yaris Hybrid

O modelo mais pequeno e acessível da gama MG está já há venda em Portugal, posicionando-se como um rival direto do Toyota Yaris Hybrid. São ambos “full hybrid” mas têm diferenças importantes. Para as descobrir, nada melhor do que o Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

O MG3 já vai na terceira geração mas só agora chega a mercados como o português. A primeira geração data de 2008 e tratava-se apenas de um Rover 25 Streetwise com um nome diferente e apenas vendido na China, isto após a SAIC ter comprado a marca inglesa. A segunda geração mudou tudo, para uma plataforma usada na China e motores a gasolina, apostando tudo no preço baixo que cativou alguns clientes no Reino Unido. Esta terceira geração volta a dar uma nova reviravolta, com uma plataforma nova e muito mais evoluída, bem como a disponibilidade de uma versão “full hybrid” que aponta ao Toyota Yaris Hybrid e ao Renault Clio E-Tech Full Hybrid como os seus rivais diretos.

Full Hybrid original

São os três “full hybrid”, ou seja, capazes de percorrer pequenas distância (3 a 5 km de seguida) em modo 100% elétrico, no caso do MG3 até aos 95 km/h. São percursos pequenos – mas a rapidez de carregamento da bateria híbrida, no caso do MG3 uma unidade de iões de Lítio de 1,83 kWh (0,92 kWh úteis) colocada sob o banco traseiro, ao lado de um depósito de gasolina de 36 litros – permite fazer isso de forma frequente que podem chegar aos 80% do tempo de condução em cidade. Além disso, o motor elétrico ajuda o motor a gasolina em arranques, recuperações e velocidade de cruzeiro, reduzindo consumos e emissões.

No caso do MG3, há algumas particularidades interessantes do sistema, diferentes do Yaris e do Clio. Desde logo a caixa de velocidades automática de apenas três velocidades, só viável porque o motor elétrico de tração tem 136 cv, mais do que os 102 cv do motor 1.5 de quatro cilindros a gasolina e ciclo Atkinson. Há ainda um segundo motor/gerador elétrico para funções de arranque e carregamento da bateria. A potência combinada é de 195 cv e 425 Nm de binário máximo, o que permite à MG anunciar uma aceleração 0-100 km/h em 8,0 segundos e 170 km/h de velocidade máxima. O peso é de 1210 kg.

Estilo cauteloso

O MG3 tem um comprimento de 4,11 metros, alinhado com a concorrência e um estilo que se insere razoavelmente na linguagem dos outros modelos da MG, apesar de haver uma grande disparidade entre eles. É um estilo pouco ousado, mas harmonioso o suficiente para não gerar reações, nem muito negativas, nem muito positivas. O conservadorismo habitual dos construtores chineses. E os estilistas nem recorreram ao habitual truque das rodas grandes, pois os pneus são apenas de medida 195/55 R16, uma escolha racional.

Por dentro, a primeira impressão vem do tato duro de todos os materiais plásticos, que dá ao MG3 um ambiente um pouco austero. É verdade que há algumas aplicações decorativas, mas não dão grande resultado. O painel de instrumentos digital de 10,25” é pequeno e não muito fácil de ler, o monitor tátil é mais largo que alto, o que facilita a visibilidade para a frente e liberta espaço por baixo para uma fila de teclas físicas para comando da climatização e volume do som. Mas a há muita informação afixada por linhas de texto que obrigam a desviar os olhos da estrada. Mais abaixo, há porta-objetos e porta copos.

Interior simples

Na consola entre os bancos está o comando rotativo da caixa automática com as habituais posições P, R, N, D, que ocupa demasiado espaço, é lento e não é intuitivo de usar em manobras. Ao lado estás a tecla para escolher um dos três modos de condução: Eco/Standard/Sport. É pena que a MG tenha deixado a regulação dos três níveis de regeneração na desaceleração para uma página do infotainment, seria muito mais prático estar na consola e nem há falta de espaço.

Quanto à posição de condução, os bancos são confortáveis mas falta-lhes maior apoio lateral, apesar do aspeto desportivo. O volante “quadrado” tem uma pega um pouco estranha que obriga a habituação, tem botões multifunções pouco explícitos, mas o pior é que não regula em alcance, condicionando a posição das pernas. É pena, pois a visibilidade é boa, a posição do banco não é alta e o diâmetro de viragem não é grande. O espaço à frente é adequado para um Segmento B, atrás o mesmo se pode dizer. Há um túnel ao centro que limita a largura, mas o acesso é razoável e a mala tem 293 litros. O banco de trás não rebate assento, só costas.

Espaço razoável

Este sistema “Full Hybrid” tem cinco cenário de funcionamento, que são definidos pela sua gestão, não pelo condutor. O primeiro é o modo 100% elétrico; o segundo é o modo híbrido em série, em que o motor a gasolina carrega a bateria através do gerador; o terceiro é o Drive, igual ao anterior mas que faz também a carga da bateria; no modo Standard, o motor a gasolina move as rodas e carrega a bateria sem intervenção do motor elétrico de tração e no modo paralelo, ambos os motores de tração funcionam. É um sistema bastante completo, mais simples na transmissão que o do Yaris Hybrid, que substitui o trem epiciclodal por uma caixa automática de três relações.

Em cidade, a primeira impressão vem do conforto da suspensão e dos pneus, mesmo em pisos degradados, mostrando que é uma prioridade do MG3. A direção tem uma assistência não excessivamente leve e precisão suficiente. O pedal de travão é fácil de dosear, o que não acontece em todos os híbridos. O motor a gasolina é pouco ruidoso e tem uma resposta pronta e suave, mesmo em modo Eco. O motor elétrico dá uma ajuda muito significativa, tanto quando roda sozinho (com boa frequência) como quando ajuda o 1.5 a gasolina. O modo 3, o mais alto da regeneração, faz boa retenção, sem exageros, funcionando bem em cidade.

Bons consumos

No meu habitual teste de consumos reais em cidade TARGA 67, obtive um valor de 4,4 l/100 km, em modo Eco, regeneração nível 3 e A/C desligado. Um bom valor para um “full hybrid” deste segmento. Passando para a autoestrada,  O conforto mantém-se, se bem que se notam alguns movimentos parasitas se o piso tiver ondulações. Também dei por alguns ruídos de origem aerodinâmica, e alguns de rolamento dos pneus. Mas o motor 1.5 é bastante silencioso. A sensação de reserva de potência está presente, se for preciso. O teste de consumos reais a 120 km/h estabilizados, em modo Eco e no nível de regeneração 1, para aproveitar a inércia, resultou num valor de 5,8 l/100 km, mais uma vez um bom valor.

A potência máxima de 195 cv incentivou-me a procurar uma estrada secundária, com pouco trâsnsito e muitas curvas, para ver se algum do ADN da marca Morris Garage se mantém no MG3. Passando ao modo Sport, é clara a maior vivacidade do acelerador e um pouco menos de assistência na direção. A resposta do sistema motriz não é muito rápida, com a marca a anunciar a aceleração 0-100 km/h em 8,0 segundos, claramente abaixo do esperado, para impedir a degradação da potência disponível. A andar a um ritmo rápido, nota-se um atraso na resposta do acelerador a partir de baixa velocidade.

A caixa de três velocidades demora muito tempo a passar de uma relação para a superior, quando se acelera forte. Isto porque o sistema confia na força do motor elétrico, antes de ir pedir mais ao 1.5 a gasolina. A sensação de força sai assim um pouco abaixo do esperado. Em termos de dinâmica em curva, é claro que a relação entre a potência e a dimensão dos pneus acaba por gerar subviragem precoce na entrada em trajectória. E não há outra solução a não ser desacelerar rapidamente. Este pneus não são suficientes para explorar a potência, o que se nota depois na saída em aceleração forte, com perdas de tração a que o ESC é chamado a resolver. A inclinação lateral não é pouca, mas a suspensão resiste bem aos maus piso, mesmo a andar depressa. E os travões resistem bem, com um ataque inicial razoável e fácil modelação.

Conclusão

O MG3 Hybrid acerta no que é mais difícil, no funcionamento do sistema “full hybrid”, sobretudo numa condução normal e sem abusos. Quando se exagera um pouco, mostra-se algumas hesitações. O mesmo para a suspensão, muito virada para o conforto e pouco para uma condução mais inspirada a que os 195 cv poderiam incentivar. Por fim, a qualidade dos materiais e alguns pontos de ergonomia também precisam de ser revistos. Mas, para uma primeira tentativa de um “full hybrid” no segmento B, a que poucos construtores se deram ao trabalho de fazer, o resultado do MG3 está no bom caminho.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

MG3 HEV+

Potência: 195 cv

Preço: 22 161 €

Veredicto: 3

Ler também, seguindo o LINK:Teste – MG4 XPower: O elétrico que queria ser um Golf R

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