Da elegância e charme do CLE Coupé ninguém tem dúvidas. A versão 300e junta um híbrido “plug-in” que o eletrifica. Mas será que a autonomia em modo elétrico é suficiente? E quanto gasta, quando a bateria chega a zero? Respostas a estas e outras perguntas em mais um teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

A história que deu origem a este Mercedes-Benz CLE já aqui a contei, mas vale a pena recapitular. Em resumo, a marca da estrela tinha um coupé com base na Classe C e outro com base na Classe E. Ambos muito elegantes, mas talvez demasiado próximos no que tinham para oferecer. As vendas somadas de ambos não justificavam a existência de dois modelos e o que isso implica de custos a montante. Por isso a MB fez o lógico e substituiu os dois coupé por apenas um que fica algures entre os seus antecessores, em termos de tamanho. Para tornar as coisas mais racionais, decidiu usar a plataforma menos dispendiosa do Classe C para este CLE. Ainda assim, o comprimento chega aos 4,85 metros, contra os 4,75 metros do Classe C e os 4,94 metros do Classe E. A distância entre eixos de 2,87 metros é a mesma do Classe C, como seria de esperar.

Mas o que interessa mesmo é começar o teste. E começo pelo estilo, que é o tradicional em textos deste tipo. Um estilo muito convencional, que vai buscar o desenho da traseira dos outros coupé da marca, com uma silhueta clássica de três volumes, com portas compridas, pilares traseiros largos e vidros laterais traseiros pequenos. A frente tem um capót relativamente longo, com as duas habituais bossas longitudinais e uma frente com grelha destacada, entradas de ar e faróis com linhas orgânicas. As jantes multi-raios de 19” dão-lhe um ar clássico.
Muita classe
Por dentro, encontro componentes conhecidos de outros modelos da marca, a começar pelo volante com botões hápticos, demasiado pequenos, colocados em braços duplos. A consola central tem continuidade para o ecrã tátil colocado na vertical e fácil de usar, por cima do qual estão as três saídas de ar estilizadas. O painel de instrumentos digital é configurável, mas a vista mais prática acaba por ser a que imita um painel antigo de agulhas.

Claro que a qualidade dos materiais está no topo do que se faz neste e em segmentos acima, os bancos da frente são muito confortáveis, com ajustes amplos e razoável sustentação lateral. Deslizam eletricamente quando se puxam as costas para aceder aos lugares de trás, o que se faz com grande facilidade.
Espaço atrás
E nos lugares de trás há dois bancos quase tão confortáveis como os da frente e suficiente espaço para as pernas de adultos, claro que o tejadilho coupé não tornará a viagem muito confortável, para quem tiver dois metros de altura. A mala tem só 290 litros, devido à bateria híbrida, perdendo 130 litros para as versões não PHEV e ainda tem que levar os dois cabos de recarga em malas separadas. O acesso é baixo.




Esta motorização 300e conta com um motor 2.0 turbo de quatro cilindros a gasolina com 204 cv e 320 Nm. Está acoplado a uma caixa de nove velocidades automática com conversor de binário e no meio está o motor elétrico de 129 cv e 440 Nm. A potência combinada é de 313 cv e o binário máximo de 550 Nm.
Bateria grande
A bateria está alojada sob o piso e tem 19,5 KWh de capacidade, anunciando uma autonomia em modo elétrico e circuito misto de 111 km. Só pode ser carregada em AC, a um máximo de 11 KW, demorando 2h00 a fazer uma carga completa, nestas condições. O peso total é de 2175 kg, mais 385 kg que um CLE 200, que tem o mesmo motor a gasolina, mas sem sistema híbrido.

Como é hábito, comecei este teste TARGA 67 em ambiente urbano. A posição de condução é baixa mas muito boa, pois tanto o banco, como o volante e pedais estão bem posicionados e têm amplas regulações. A alavanca da caixa é uma haste do lado direito do volante, o que sobrecarrega a haste do lado esquerdo de funções, tornando-a menos intuitiva.
Intuição
O ecrá tátil central é fácil de usar, pois tem ícones grandes, comando por voz que funciona e uma organização lógica e atalhos em botões físicos em rodapé. Um deles serve para escolher os modos de utilização que são B/EL/H/S/I, ou seja, manutenção da carga da bateria/elétrico/híbrido/desportivo/personalizável.



Comecei em modo elétrico com a bateria a 100% e após 85,4 km a energia elétrica estava esgotada. O sistema passou a funcionar como um “full hybrid” e dei início ao teste de consumos reais em cidade TARGA 67 com a bateria a marcar 0%, A/C desligado e, tal como no modo elétrico, usando as patilhas, que (nos modos elétrico e híbrido) servem para ajustar a intensidade da regeneração em desaceleração em 3 níveis, incluindo o nível zero e ainda um nível Auto.
Patilhas inteligentes
Devo dizer que estas patilhas funcionam muito bem, sobretudo quando se passa de trânsito intenso para trânsito mais desafogado e depois para vias rápidas. O modo automático, que regula a intensidade de acordo com a proximidade ao carro da frente e ao perfil da estrada, também funciona bem e acabará por ser aquele que alguns condutores vão usar mais.

Ainda falando do modo elétrico, posso afirmar que a gestão de binário está muito bem feita, com o acelerador bem calibrado a permitir acelerações decididas, mas nada bruscas. O pedal de travão também é fácil de dosear, o que nem sempre se pôde dizer dos PHEV da Mercedes-Benz. A direção está bem assistida, não é muito direta mas é suficientemente informativa e confortável.
Consumos
No modo híbrido, o sistema é capaz de rolar durante pequenos percursos em modo elétrico, mesmo com a bateria a marcar 0%, com bastante frequência, sobretudo em cidade e a baixa velocidade. Quando entra em ação, o som do motor de quatro cilindros não é muito agradável ao ouvido, felizmente está bem isolado, acusticamente. Ainda assim, por vezes é mantido pelo sistema em regimes mais altos do que julgava necessário.


No final do teste de consumos reais TARGA 67, usando as patilhas da forma que pareceu a mais lógica, o consumo em cidade foi de 8,4 l/100 km. Um bom valor considerando o peso deste CLE 300e. Já em autoestrada, a 120 km/h e com a regeneração a zero, para aproveitar os declives favoráveis, o consumo registado foi de 6,3 l/100 km, um valor excelente que mostra bem a eficiência deste motor a gasolina, pois o sistema híbrido tem poucas chances de ajudar em autoestrada.
Estradista nato
A condução em autoestrada é aquilo que se espera de um Mercedes-Benz que não tem as letras AMG em lado nenhum. Tal como em cidade, a caixa automática é muito suave nas passagens, fazendo-as no tempo certo. A suspensão continua a ser muito confortável, absorvendo bem as variações de nível do piso das nossas autoestradas e os ruídos de origem aerodinâmica ou de rolamento estão muito bem isolados. Resta o som do motor, que merecia ser mais melodioso. A velocidade máxima anunciada é de 236 km/h.


Para terminar este Teste TARGA 67 só faltava uma passagem por uma estrada secundária sinuosa e com pouco trânsito, afastada dos grandes centros. A Mercedes-Benz anuncia a aceleração 0-100 km/h em 6,3 segundos, 1,1 segundos mais rápido que o CLE 200, que tem o mesmo motor a gasolina, mas não tem a parte híbrida. Passando ao modo Sport acontecem várias coisas, a primeira é uma maior rapidez do acelerador, que se nota, sem ser fantástica. A segunda é uma ligeira diminuição na assistência da direção e a terceira, e mais útil, é a mudança de funções das patilhas, que agora servem para fazer as passagens de caixa, ganhando-se maior envolvimento na condução.
Dinâmica
Claro que, com uma suspensão que tem no conforto a sua prioridade, o controlo de massas em condução mais brusca não é milimétrico, deixando o CLE mover-se bastante. Nas travagens fortes, sente-se bem o peso e ao fim de umas quantas solicitações o pedal começa a aumentar o curso, se bem que não pareça perder potência.


A entrada em curva não é muito rápida, mas é precisa e os pneus GoodYear Eagle F1 de medida 245/40 R19, na frente e 275/35 R19, atrás colocam borracha no chão mais do que suficiente para evitar a subviragem até velocidades de entrada muito exageradas. As patilhas são rápidas e obedientes, acrescentando controlo à condução e o ESC até tem posição Sport e Off, mas o Off retorna a Sport se achar que se está a entrar numa situação perigosa.

Acelerando forte a partir do meio da curva, nota-se bem o ADN da tração traseira e motor dianteiro dos MB mais desportivos. O carro roda e é possível provocar algumas derivas de traseira, muito fáceis de controlar, mas nunca muito perfeitas, pois a suspensão macia não controla firmemente as massas. Como esperava, não há aqui um temperamento desportivo, pelo contrário.
Conclusão
O CLE Coupé 300e (ver nome completo abaixo) tem numa utilização tranquila em cidade e rápida em autoestrada o seu forte, até pelos baixos consumos que de que o sistema PHEV é capaz. Não quero com isto dizer que rejeita uma estrada secundária, mas é muito mais sedutor conduzindo sem grandes exageros, do que tentando fazer o melhor tempo.
Mercedes-Benz CLE 300e Coupé com tecnologia híbrida EQ
Potência: 313 cv
Preço: 74 350€
Veredicto: 3,5 estrelas
Ler também, seguindo o LINK:Teste – MB CLE 200 Cabrio: Tradicionalista