Teste – Hyundai Santa Fé HEV: Estilo controverso

A quinta geração do SUV Santa Fé tem no estilo original o seu maior ponto de atração… ou rejeição. Mas este “full hybrid” mostrou muito mais que isso, no Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

Ouvi de tudo durante a semana em que fiz o Teste TARGA 67 ao novo Hyundai Santa Fé. O estilo único do grande SUV Sul-Coreano gera reações espontâneas de quem o vê na rua, em ambos os sentidos. Dos que não apreciam o desenho demasiado “fora da caixa”. Mas também dos que demoram um pouco mais a fazer a sua apreciação e acabam por admitir que há aqui “alguma coisa” capaz de atrair o olhar. Eu, estou no segundo grupo. Confesso que, nas primeiras imagens reveladas pela Hyundai, o conceito de estilo não me agradou particularmente, sobretudo a vista de traseira, demasiado vertical e alta, com as luzes colocadas muito em baixo e desniveladas com as da frente, colocadas mais acima. Num desenho tão geométrico como este, não me pareceu uma grande ideia.

Afinal…

Mas, quando o fui buscar para este Teste TARGA 67, a visão do Santa Fé, pintado num tom de castanho mate, mudou por completo a minha opinião. Original, sem dúvida, mas também capaz de prender o olhar com as suas proporções que, a mim, fazem lembrar as da primeira geração do Land Rover Discovery. E com detalhes que apetece apreciar, como os faróis com uma assinatura luminosa em “H”, a frente de linhas retas, sem curvas desnecessárias e o destaque dado às cavas das rodas e ao desenho das jantes de 20”. Na verdade, o Santa Fé tem um estilo que parece fácil de reproduzir em peças de Lego. Tem uma simplicidade refrescante, com poucos ou nenhuns adornos, tudo parece ter uma utilidade concreta, uma finalidade.

Em termos de dimensões, o novo Santa Fé tem 4830 mm, (tanto quanto um Kia Sorento) mais 60 mm que o anterior, 1900 mm de largura e 1770 mm de altura, sendo a distância entre-eixos de 2815 mm. É um SUV grande, sensação que se amplifica pelos volumes “quadrados” da carroçaria, tanto visto de fora, como ao seu volante, em que só a boa visibilidade e as câmaras impedem que seja um SUV intimidativo de guiar em ruas mais estreitas ou estacionar em lugares de garagem. O diâmetro de viragem de 11,6 m também dá uma ajuda.

Full Hybrid

Esta versão em teste é o 1.6 HEV, ou seja, um híbrido total (na tradução de “full hybrid”) capaz de circular durante uns poucos quilómetros seguidos em modo exclusivamente elétrico, mas com um sistema de regeneração e uma bateria que permitem fazer isso com grande frequência, sobretudo em cidade, onde o Santa Fé consegue circular mais de 50% do tempo em modo elétrico, somando todos os pequenos troços em que o faz. O sistema motriz usa o conhecido motor a gasolina de quatro cilindros 1.6 T-GDI da Hyundai, com turbocompressor e injeção direta, aqui debitando 160 cv e 265 Nm, acoplado a uma caixa automática de seis relações. E acrescenta um motor elétrico de 65 cv e 264 Nm para perfazer uma potência combinada de 215 cv e 350 Nm de binário máximo. Com tudo isto e ainda uma bateria híbrida de 1,49 kWh, o peso atinge os 2040 kg.

O habitáculo dispõe de sete lugares em três filas de bancos, sendo os dois da terceira fila rebatíveis quando não estão a ser usados, libertando uma capacidade de carga da bagageira de 628 litros. Infelizmente, não há espaço sob o piso para guardar o enrolador da chapeleira, quando se tem que o retirar. A sensação de espaço nas duas primeiras filas é realmente enorme, beneficiando das formas da carroçaria. Na segunda fila há imenso espaço em comprimento e o lugar do meio é utilizável por adultos. Esta fila desliza longitudinalmente, quer para ajustar o espaço para as pernas, quer para dar acesso à terceira fila. Como seria de esperar, o sexto e sétimo passageiros não têm o espaço nem o conforto dos outros, mas dois adultos conseguem entrar, com algum esforço, e fazer pequenos trajetos sem demasiado sacrifício a não ser levar os joelhos muito altos, pois a altura ao piso é curta.

Ergonomia criticável

Quanto à posição de condução, tem regulação em altura suficiente para poder ser alta ou baixa, como o condutor preferir. Os bancos são confortáveis, mas com falta de apoio lateral, em compensação, têm um apoio regulável para as coxas, cuja utilidade só a percebo com o carro parado e o condutor reclinado para fazer uma sesta. A coluna de direção está inclinada em excesso mas o volante tem uma pega confortável e teclas físicas fáceis de usar. A maior crítica vai para a colocação do comando rotativo da transmissão. É uma haste na coluna de direção e fica por trás do volante, às 16h00, imaginando que o volante é o mostrador de um relógio. Não é prático de usar, mas é uma solução que a Hyundai emprega em vários modelos. A única vantagem deste posicionamento é libertar espaço na consola, que é usado para dois carregadores indutivos de smartphones.

O conjunto painel de instrumentos e monitor tátil central partilham uma prancha colocada em frente do condutor. O primeiro tem algumas áreas de leitura difícil e o segundo tem uma organização nem sempre intuitiva, podendo demorar algum tempo até encontrar a função que se procura. A consola tem alguns botões físicos para funções mais urgentes e botões táteis para a climatização, além de uma segunda prateleira por baixo da principal. Há dois porta-luvas, um por cima do outro, além de um cofre sob o apoio de braços entre os bancos. A qualidade apercebida é boa, apesar de a Hyundai continuar a insistir num tom cinzento para os interiores, que faz parecer o habitáculo pior do que é. Há materiais macios e outros duros, além de alguns motivos decorativos e uso de linhas de LED.

Modos de condução

Este HEV tem os modos de condução normais: Eco/Sport/My Drive, com o terceiro a ser configurável. Os ajustes são os habituais, ou seja, a assistência da direção e a sensibilidade do acelerador, além do funcionamento do A/C. A suspensão é independente às quatro rodas e tem amortecedores passivos. Numa página do infotainment, pode regular-se a sensibilidade do pedal de travão, mais suave ou mais brusco. Preferi o primeiro, para uso em cidade e preferi também o modo automático de regeneração em desaceleração, que lê bem o trânsito e o desenho da estrada além de manter a bateria com, pelo menos, 50% de carga em cidade. Já a direção me pareceu demasiado assistida, ficando muito leve.

A caixa automática de 6 tem duas patilhas na coluna de direção, que são suficientemente obedientes e rápidas. A intensidade de regeneração nas desacelerações é discreta, mas existe um indicador que diz quando se deve levantar o pé do acelerador e deixar o Santa Fé ir à “bolina”. Mas a primeira coisa em que o condutor repara é o conforto da suspensão. É certo que o curso é um pouco longo, o que deixa a carroçaria oscilar em algumas situações. Mas são precisos buracos acentuados para que os passageiros sintam algum desconforto. O motor 1.6 T-GDI, mesmo em modo Eco, tem uma resposta mais do que suficiente, com a parte elétrica a ter um papel relevante na condução em cidade. O sistema usa muitas vezes apenas o motor elétrico, de forma suave, mas com boa disponibilidade de binário a baixos regimes.

Cuidado com a largura

Quando precisa de arrancar o motor a gasolina, o processo ocorre de forma suave e com pouco ruído. A condução em cidade usufrui de boa visibilidade para fora, com a ajuda de câmaras nos retrovisores, cuja imagem (muito útil) só surge no painel de instrumentos quando se liga a luz de mudança de direção de cada lado. A condução em cidade é muito mais fácil do que se poderia pensar, dadas as dimensões do Santa Fé, acabando por ser preciso mais atenção à largura do que ao comprimento.

No habitual Teste TARGA 67 de consumos reais em cidade, feito com o A/C desligado e no modo Eco, obtive um valor de 6,2 l/100 km. Já em autoestrada, a 120 km/h estabilizados, o consumo subiu aos 7,6 l/100 km. São valores razoáveis, considerando o tamanho e peso deste Santa Fé. A condução em autoestrada é muito confortável, sobretudo passando ao modo My Drive com transmissão em modo “smart” e direção em “sport”, ganhando alguma consistência na direção.

Silencioso

O conforto continua a ser de bom nível, mas há oscilações quando o piso não é perfeitamente nivelado. Os ruídos são poucos, nem o motor turbocomprimido se faz ouvir a velocidades típicas de autoestrada, nem a aerodinâmica emite silvos irritantes, nem os pneus fazem algum ronco maçador. Em estrada secundária o Santa Fé inclina bastante em curva e a suspensão oscila em pisos que não sejam perfeitos.

A direção continua leve, mesmo em modo Sport, que ganha alguma coisa na resposta do acelerador. A Hyundai anuncia uma aceleração 0-100 km/h de 9,6 segundos e 180 km/h de velocidade máxima.  Não é divertido de guiar, mas é seguro pois os pneus 255/45 R20 geram imensa aderência e as rodas dianteiras motrizes não têm dificuldade em pôr a força no chão.

Conclusão

O Santa Fé estreia um estilo novo na Hyundai (mais um…) e dá uma reviravolta na qualidade, conforto, dinâmica e sofisticação, em relação ao modelo quase rústico anterior. É um bom e grande SUV de sete lugares, acrescentando um estilo muito original. Há poucos assim.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

Hyundai Santa Fé 1.6 HEV

Potência: 215 cv

Preço: 67 363 euros

Veredicto: 3,5 estrelas

Ler também, seguindo o LINK:Primeiro Teste – Hyundai Kauai EV: Melhor em tudo menos numa coisa

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