O Bigster representa o início da entrada da Dacia no segmento dos C-SUV, subindo assim de escalão face a uma gama até agora centrada nos segmentos A e B. Se as ambições são outras, a verdade é que a Dacia não quer deixar de lado o princípio que sempre a orientou, o “value for money”. Todos os detalhes em mais um Primeiro Teste conduzido por Francisco Mota e fotografado por Vico Ughetto.
É o primeiro passo da Dacia na direção de segmentos mais caros e mais lucrativos, dois outros modelos se seguirão no segmento C. Para acautelar os custos, o Bigster usa a mesma plataforma de todos os outros Dacia, à exceção do Spring. A conhecida CMF-B que permite ao modelo ser 150 kg mais leve que os concorrentes, diz a Dacia. O Bigster partilha muito com o Duster até ao pilar central do tejadilho.

Daí para trás é diferente, acrescentando 227 mm ao comprimento total. A distância entre-eixos sobe apenas 45 mm. Quanto à mala, usufruindo de um vão traseiro mais comprido, oferece 546 litros de capacidade, comparando com os 430 litros do Duster, considerando as duas versões híbridas. As costas do banco traseiro rebatem 40/20/40, através de duas alavancas nas paredes da mala.
Evoluções
O Bigster recebeu um conjunto de evoluções importantes. É o caso do sistema full hybrid, que viu a cilindrada do motor a gasolina atmosférico subir de 1.6 para 1.8 litros. Ganhou-se em elasticidade a baixo regime e potência em autoestrada, um ambiente tão importante para os clientes alemães, que a marca designa como alvo. Pior para os portugueses, pois mais cilindrada equivale a mais imposto. Com o mesmo intuito, e face ao Duster, a suspensão é mais firme além de estarem disponíveis jantes de 17, 18 e 19”.

Quem conhece o Duster por dentro vai também encontrar diferenças para o Bigster. A começar pelo maior espaço na segunda fila, sobretudo em comprimento. Os bancos da frente também oferecem melhores apoios laterais e foi feito um trabalho no isolamento acústico do habitáculo, com para-brisas e vidros laterais acústicos. Depois, o equipamento foi enriquecido com items como ar condicionado de duas zonas, com saídas de ar para os lugares de trás, teto de abrir panorâmico, banco do condutor com regulações elétricas e um sistema multimédia com monitor tátil de 10.1”
Mais equipamento
O sistema de colocação de acessórios em cinco pontos do habitáculo, designado YouClip também tem mais escolhas e estão continuamente a ser desenvolvidas novas ideias. Outro detalhe interessante é a disponibilidade de três consolas entre os bancos da frente, com três alturas diferentes, uma delas com compartimento refrigerado e carregador de smartphone por indução. Os plásticos continuam a ser predominantemente duros, mas o desenho de alguns componentes, como as saídas de ar da climatização com um Y” deitado, favorecem o ambiente a bordo. O mesmo tema é usado nos faróis dianteiros e nas luzes traseiras. Chave mãos livres e abertura elétrica da tampa da mala são outros equipamentos disponíveis no Bigster.




A falta de ajudas eletrónicas à condução tem impedido os modelos da Dacia de obter as famigeradas cinco estrelas nos testes EuroNCAP, que há muito deixaram de ser apenas testes de colisão, exercícios nos quais os Dacia não têm problema em obter boas classificações. Mas a dotação de ajudas tem sido gerida de forma a não subir o preço e tendo em conta os sistemas que os condutores realmente utilizam. O Bigster tem mais destes sistemas do que qualquer outro Dacia, mas o modelo ainda não foi testado para se saber se terá mais do que as três estrelas do Duster.
Novo full hybrid
Para este primeiro teste, a Dacia disponibilizou apenas a nova versão Hybrid 155, uma estreia absoluta no grupo. Face ao anterior sistema, o motor de quatro cilindros passa dos 91 cv aos 107 cv, complementado por dois motores elétricos, um de tração e 50 cv e outro motor/gerador ded 20 cv que garante o arranque, stop/start e gere as mudanças na caixa multimodal. A bateria é de 1,4 kWh (mais 0,2 kWh) e garante um funcionamento híbrido constante, se necessário com fases de carregamento a partir do motor a gasolina. Face ao Hybrid 140 com a versão 1.6 do mesmo motor, o Hybrid 155 ganha 15 cv e 20 Nm.A Renault afirma que esta nova versão do sistema reduz os consumos em 6%, devido à utilização de regimes mais baixos no motor a gasolina. Com tudo isto, a Dacia garante que o Bigster arranca sempre em modo elétrico e é capaz de o manter durante 80% do tempo, quando circula em cidade.



Neste primeiro teste, ficou claro que, em meio urbano, o sistema consegue de facto fazer avançar o Bigster apenas com o motor elétrico em períodos relativamente curtos, mas com grande frequência. Nota-se que o motor a gasolina não precisa de subir tanto o regime quando se carrega mais no acelerador e que as transições híbrido-elétrico são mais suaves.



Também mais suave é a caixa automática, que tem quatro relações ligadas ao motor 1.8 e duas ao motor elétrico, usando múltiplas combinações de ambas, de acordo com as prioridades do condutor: melhor consumo ou resposta mais imediata. Quanto ao minúsculo botão “B” de maior regeneração, faz realmente aumentar a retenção, o que facilita a condução em cidade. A Dacia anuncia consumos entre os 4,6 e os 4,7 l/100 km, valores que teremos de confirmar num teste mais prolongado.
Sem 7 lugares
Críticas para a direção, demasiado assistida e com pouco tato e para a pouca progressividade do pedal de travão, o “kick down” do acelerador é mais forte, também para agradar aos alemães. A maior firmeza da suspensão face ao Duster é sensível nos pisos em pior estado, sem ser um exagero. A outra face da moeda é que permite um bom controlo de massas, mesmo em autoestrada, útil porque o Bigster não é baixo. E foi mesmo a altura que impediu o lançamento de uma versão de sete lugares. Para ter algum espaço disponível para a cabeça na terceira fila, o Bigster teria que ter um “degrau” no tejadilho, o que afetaria o estilo e subiria o Centro de Gravidade e o peso. Ainda em autoestrada e passando do modo Eco para o modo normal, ganha-se um pouco de rapidez no acelerador, mas nada de espetacular.



A Dacia anuncia uma aceleração 0-100 km/h em 9,7 segundos, um valor aceitável para o Bigster, que pesa mais 80 kg que o Duster com uma motorização similar, chegando aos 1851 kg. Com as modificações na suspensão, o Bigster tem uma dinâmica mais estável, com menos inclinação lateral em curva que o Duster e um pouco mais de precisão na manutenção da trajetória. Mas não se pode dizer que seja um C-SUV envolvente de guiar, até porque a caixa multimodal não permite a instalação de patilhas, impedindo uma maior ligação com a mecânica, por exemplo numa estrada sinuosa.
Conclusão
Após ter ultrapassado os 2,5 milhões de unidades produzidas, a Dacia dá início a uma nova fase com a subida ao segmento C. O Bigster oferece mais do que o Duster e só custa cerca de 3000 euros mais, para motorizações comparáveis. Quer isto dizer que o modelo ensaiada custa 29 500 euros e que o o mais acessível, o Eco-G 140, um mild hybrid bi-fuel,gasolina, GPL, custa 24 250 euros. Significando que o “value for money” não deixou de ser o lema da marca.
Dacia Bigster Hybrid 155
Potência: 155 cv
Preço: 29 500 euros