Comparativo – VW ID.3 e MG4: Alemanha contra China

Estabelecido no mercado europeu, o VW ID.3 foi recentemente melhorado. O MG4 é mais recente e a marca definiu o ID.3 como rival direto. A pergunta é a de sempre: qual o melhor, o elétrico feito na Alemanha ou o que vem da China com marca inglesa? Respostas no comparativo conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

Lançado em 2020, o Volkswagen ID.3 foi dos primeiros familiares compactos elétricos a ser produzido em grande série. Estreou a nova plataforma específica para modelos elétricos, a MEB, e estreou uma nova linguagem de estilo, muito mais austera que o habitual na Volkswagen, já conhecida por não ser propriamente exuberante. Este ano, o modelo do segmento C recebeu alguns retoques exteriores e um novo motor.

VW contra MG

Quanto ao MG4, lançado em 2022, tem praticamente as mesmas dimensões do ID.3 com 4287 mm de comprimento, contra os 4260 mm do VW. A distância entre-eixos, que determina o tamanho máximo da bateria, é de 2705 mm, no MG4 e 2770 mm no ID3. O estilo é muito mais ousado que o do ID.3, com um desenho da frente muito mais agressivo, um perfil mais conservador e depois uma face traseira ainda mais vincada, com luzes em “Y” deitado e um spoiler dividido em dois, colocado por cima do vidro. Ambos têm pilares dianteiros com um ângulo que dificulta a visibilidade nos cruzamentos.

Por dentro, as diferenças também não são poucas. O ID.3 melhorou a perceção de qualidade no habitáculo, apesar de ainda haver materiais duros, mas é superior ao MG4. O espaço é equivalente, tanto à frente como atrás, onde o piso alto deixa as pernas mal apoiadas no banco. Bom acesso em ambos os casos, devido às portas altas. Quanto à posição de condução, o MG4 tem um volante de formato que pretende imitar o logótipo da marca, de dimensões um pouco exageradas. Mas a sua posição em relação ao banco e pedais é correta. Ao banco falta apoio lateral, mas é confortável. No caso do ID.3, o banco é um pouco melhor, com mais apoio e conforto. O volante também tem um formato convencional que agrada mais. O comando da caixa de velocidades do VW é um botão rotativo no painel de instrumentos, enquanto no MG é uma roda na consola, mais intuitiva.

Ergonomia

Ambos têm um painel de instrumentos pequeno atrás do volante, apenas com a informação essencial e com uma leitura mais fácil no ID.3 que no MG4. Também o monitor tátil central do ID.3 é mais intuitivo nesta mais recente versão, mas continua a não ser um exemplo. No caso do MG4, a organização da informação é confusa e os caracteres são demasiados pequenos. O carro chinês, de uma marca nascida em Inglaterra e comprada pelo conglomerado SAIC, tem uma consola dupla, com uma prateleira inferior e um grande porta-objetos com tampa. O botão rotativo da transmissão está numa prateleira mais acima. O ID.3 também tem uma consola com muita arrumação. As capacidades das malas variam entre os 363 litros do MG4 e os 385 litros do ID.3 mas nenhum tem “frunk”.

Em termos técnicos, a VW usa a plataforma MEB e o MG4 usa a plataforma MSP empregue noutros modelos da SAIC. Neste comparativo temos um ID.3 Pro Urban com bateria de capacidade útil de 58 kWh e motor de 204 cv e 240 Nm. Quanto ao MG4, temos um Luxury Long Range, com uma bateria de 77 kWh brutos e motor de 245 cv e 350 Nm. Este VW pesa 1740 kg, enquanto esta versão do MG4 pesa 1751 kg. A Volkswagen anuncia uma autonomia de 428 km enquanto que a MG indica 520 km, para as versões em teste. O MG carrega a bateria a uma potência máxima de 144 kW DC, demorando 38 minutos a ir dos 10 aos 80%. No caso do ID.3, carrega até aos 165 kW DC e demora 24 minutos para ir dos 0 aos 80%.

Ligações ao solo

Ambos os modelos têm suspensão independente às quatro rodas, motor e tração atrás. O ID.3 está equipado com pneus 215/45 R20 enquanto que o MG4 tem pneus 235/45 R18. E isso faz diferença, pois o MG4 é menos confortável que o ID.3 nos pisos menos que perfeitos. A resposta de ambos os motores em cidade é muito semelhante, usando o modo de condução Eco, mas o VW tem uma entrega de binário ligeiramente mais suave. O VW também tem uma direção melhor calibrada, em qualquer dos modos de condução, e os pedais de travão também são mais progressivos.

Quanto a sistemas de regeneração na desaceleração, o VW apenas tem a função B, que está bem afinada e não obriga a habituação por parte dos condutores sem experiência de guiar um elétrico. Não faz função “one pedal” de imobilização no final da travagem, nem tem modo zero, para usar a inércia nas descidas. Pelo contrário, o MG4 tem três níveis de intensidade da retenção e ainda um modo automático, além da função “one pedal”. As escolhas no MG4 são mais, mas o VW acaba por fazer razoavelmente bem o serviço.

Modos de condução

Quanto a modos de condução, a MG também oferece mais, o que não quer dizer melhor. Tem os modos Neve/Eco/Moderado/Desporto/Pessoal, enquanto que o ID.3 se fica pelos Eco/Normal/Sport/Individual. Na verdade, o MG4 apenas tem o modo Neve a mais e desliga por completo o ESC, enquanto o ID.3 se fica pelo ESC Sport. Nenhum ajusta a suspensão, pois ambos têm amortecedores não adaptativos.

Em cidade, o ID.3 é melhor de conduzir, pois a posição de condução é mais cómoda e a suspensão/pneus são mais confortáveis. O motor é muito fácil de modular. Em autoestrada, o MG4 é um pouco mais ruidoso, tanto por causa de ruídos aerodinâmicos, de rolamento ou mesmo de motor. Mas ambos são muito estáveis e com boa estabilidade direccional. A autoestrada não os assusta, pelo contrário, mostram tanto à vontade em cidade como em vias rápidas.

Consumos reais

No habitual teste de consumos TARGA 67, começando pela cidade, no modo Eco, usando o modo B no VW e os vários modos de regeneração do MG4, obtive os seguintes valores: o MG4 gastou 10,9 kWh/100 km, em cidade o que equivale a uma autonomia real de 706 km em cidade. Em autoestrada, a 120 km/h constantes e usando o modo de mínima regeneração, obtive um consumo real de 21,2 kWh/100 km, o que equivale a uma autonomia real de 363 km em autoestrada.

No caso do VW ID.3  Pro com bateria de 58 kW, os resultados foram os seguintes: em cidade, gastou 14,1 l/100 km, o que equivale a uma autonomia real de 411 Km. Em autoestrada gastou 20,4 KWh/100 km, equivalente a 284 km de autonomia em via rápida. Como seria de esperar, o MG4, com uma bateria maior, consegue maiores autonomias. Mas também tem consumos menores, sobretudo em cidade, ou seja, melhor eficiência.

Com mais de 200 cv e tração traseira não resisti à tentação de testar ambos os familiares elétricos numa estrada secundária com curvas exigentes. Comecei pelo ID.3 e fui encontrar aquilo que já conhecia de testes anteriores. O ID.3 faz os 0-100 km/h em 7,6 segundos, um valor que lhe dá uma boa aceleração, logo desde baixos regimes. Em modo Sport, o binário é entregue de forma um pouco mais rápida o que ajuda à agilidade. Os travões estão à altura das prestações e do peso.

Quanto à dinâmica, entrando em curva com velocidade generosa, a frente resiste melhor do que esperava à subviragem, e se for preciso, o ESC, mesmo em posição Sport, toma conta da ocorrência com suavidade e eficiência. Sendo menos ambicioso na entrada em curva e depois aumentando gradualmente a velocidade, a tração atrás entra numa ligeira rotação que não necessita de correções, mas convém não exagerar para não alertar o ESC e perder-se a brincadeira. Pouca inclinação lateral e tração suficiente.

Dinâmica em estrada

Passando para o MG4, com os 0-100 km/h anunciados para 6,5 segundos, é claro que se nota uma aceleração mais forte, sobretudo no modo Sport. A sensação de aceleração é ligeiramente melhor e a travagem não tem problemas em lidar com isso. A direção é menos precisa que a do ID.3 e o controlo de massas não é tão rigoroso, mas os pneus mais largos fornecem maior aderência e tração, desde logo na entrada em curva, com muito pouca tendência subviradora.

Quando chega a altura de acelerar a fundo na entrada da segunda metade da curva, mesmo com o ESC em Sport, a traseira entra numa sobreviragem ampla que exige atenção e pede correções. Desligando o ESC, as derivas aumentam de ângulo e o MG4 pede então mais atenção, mas retribui em gozo de condução. Contudo, é preciso cautela, pois as derivas de traseira podem surgir de forma repentiva e menos divertida, sobretudo em piso de baixa aderência.

Conclusão

Tudo somado, admito que a dinâmica do MG4 numa estrada secundária me agradou mais do que a do ID.3, mas não é isso o mais importante num familiar do segmento C. O VW é mais confortável e igualmente espaçoso que o MG4. O ID.3 tem também um habitáculo de qualidade ligeiramente superior e bancos melhores.  A condução em cidade do VW é melhor também porque o diâmetro de viragem é mais curto e porque a calibração da direção, acelerador e travões é mais refinada. O MG4 tem alta eficiência energética, com consumos baixos. Tem prestações ligeiramente melhores e dinâmica mais divertida, mas isso não chega para bater o VW ID.3 como familiar elétrico competente. Claro que, entrando em conta com a diferença de preço o MG4 ganha mais algumas décimas de ponto.

Francisco Mota

(fotos de João Apolinário)

VW ID.3 Pro Urban

Potência: 204 cv

Preço: 43 077 euros

Veredicto: 4 estrelas

MG4 Luxury Long Range

Potência: 245 cv

Preço: 38 657 euros

Veredicto: 3,5 estrelas

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