Salão de Paris – O renascimento dos salões?

A edição deste ano do Mondial de L’Auto Paris deu esperanças sobre o renascimento destes certames internacionais, depois de quatro anos a perder relevância. Ao regresso de algumas marcas europeias e americanas juntou-se a chegada em força dos construtores chineses e o resultado foi mais interessante do que esperava. Reportagem TARGA 67 por Francisco Mota.

Tirando os salões automóveis que visitei na China, não me lembro de ter visto tantos construtores chineses reunidos num evento. O Mondial de L’Auto Paris juntou alguns dos regressados construtores europeus e americanos, juntando-os com muitas marcas chinesas, algumas pouco ou nada conhecidas no Ocidente. O resultado foi um salão de Paris que conseguiu dar um salto importante face à edição anterior, apresentando modelos acabados de lançar, casos dos Renault 5 e 4 E-Tech Electric; e ainda concept-cars de que ninguém estava à espera. Um salão que, por isso, deu esperanças de que este formato, ainda pode ter futuro, depois de muitas marcas terem afirmado que a fórmula já não tinha mais para dar, aquando da pandemia do Covid 19.

Redução de custos

Um dos aspetos que faz pensar que o salão de Paris possa crescer no futuro, foi a redução de custos dos stands das marcas. A organização disponibilizava um stand padrão, simples e funcional, que se encarregava de mandar montar, sem que a marca tivesse que fazer nada, a não ser pagar. Uma boa maneira de pôr marcas em pé de igualdade e de estancar a escalada de custos. Algumas marcas seguiram esta opção, mas outras decidiram construir o seu próprio stand personalizado, para criar maior destaque. Ainda assim, não se viu nada de exagerado, pelo contrário, mesmo os stands personalizados mostravam uma contenção de custos óbvia. A própria organização do salão não entrou em luxos nas zonas públicas, por exemplo deixando o piso sem alcatifas, que não fizeram grande falta.

Nem todos os CEO das marcas marcaram presença, mas alguns não podiam faltar, como Carlos Tavares, CEO da Stellantis e Luca De Meo, CEO do Grupo Renault. O primeiro confirmou que não vai renovar o seu contrato para lá de 2026; o segundo está empenhado em continuar a reviravolta à Renault, Dacia e Alpine, que considera ter a melhor gama nos últimos 30 anos. Não sem algumas polémicas pelo meio, como o fecho do departamento de motores de Fórmula 1 da Renault. Mas o investimento nos elétricos continua em força, com a EletriCity a perspectivar a fabricação total em França, incluindo das células das baterias, até agora quase um exclusivo dos chineses.

Renault dominou atenções

Mas, claro que as estrelas de qualquer salão são sempre os novos modelos e os “concept-cars”. Depois de o ter mostrado na segunda faceta, a Renault mostrou o Renault 4 E-Tech Electric final e o resultado parece ser um sucesso garantido. Partilhando a plataforma com o R5 elétrico, mas com maior distância entre-eixos, o 4L elétrico oferece mais versatilidade, mais espaço interior, mala com 420 litros e um desenho que se cola mais ao original. É um B-SUV, para todos os efeitos, mas é acima de tudo um 4L capaz de reavivar memórias a muitos potenciais compradores. O 4L foi produzido em 8 milhões de unidades, entre 1960 e 1980 em 15 fábricas diferentes. A versão elétrica anuncia 400 km de autonomia.

A outra grande novidade do Grupo Renault foi o Emblème, uma berlina que antecipa a nova geração de estilo dos modelos da marca, numa altura em que a Renault está a acabar de fazer restylings em toda a gama. É a demonstração do empenho que o grupo francês está a colocar não só na renovação do estilo, mas muito mais do que isso. Este “concept-car” utiliza uma inovadora motorização que junta uma bateria e um sistema fuel cell, para mover os motores elétricos, anunciando uma autonomia de 1000 km. Ainda não há datas para a entrada em produção, mas o projeto vai para diante. Datas já há para o novo Twingo elétrico (2026) mas não para o R17 Restomod, apenas um exercício de estilo.

No stand ao lado, a Dacia mostrava o novo Bigster, o primeiro de três modelos do segmento C que a marca nascida na Roménia vai lançar, continuando a dar ao Grupo Renault muito bons resultados. O Sandero continua a ser o modelo mais vendido a clientes particulares na Europa e o Duster já ultrapassou os 2,5 milhões. Quanto ao Bigster, é um derivado do novo Duster, partilhando plataforma e o essencial da zona dianteira até ao pilar central. Depois é mais comprido (4,4 metros contra os 4,34 metros do Duster) e tem maior distância entre-eixos (4,60 contra 4,34 metros) para aumentar o espaço na segunda fila e a mala, que passa aos 667 litros. Em França, os preços são de 25 000 euros, para a versão a gasolina e de 30 000, para o full hybrid.

Para terminar o Group Renault, a Alpine mostrou o A110 R Ultimate, uma versão extrema e limitada a 110 unidades da “berlinetta”, com um agressivo tratamento aerodinâmico, mais potência e um preço que se aproxima dos 270 000 euros. Faz os 0-100 km/h em 3,8 segundos e tem 345 cv. A outra novidade é o primeiro SUV da marca, o A390 elétrico, ainda mostrado em versão “concept-car” que estará à venda em 2025, dando início a uma gama de sete modelos elétricos, três deles vão ser desportivos, só os outros vão ser SUV. O A390, é um C-SUV coupé desportivo, que se apresenta com portas traseiras de abertura inversa, coisa que não deverá chegar à produção. A Alpine evitou a frente de quatro faróis do A110 e fez muito bem. A novidade mais próxima é o A290, a versão desportiva do Renault 5 E-Tech Electric. Além das diferenças estéticas, exteriores e interiores, o A290 tem um habitáculo muito mais desportivo e está disponível em dois níveis de potência, 180 ou 220 cv.

Surpresa da Citroën

Além da nova geração do C3 e do restyling do C4 e C4X, a Citroën mostrou de surpresa o novo C5 Aircross ainda em versão concept. É o primeiro modelo da marca a usar a nova plataforma do grupo Stla Medium, já empregue nos Peugeot 3008/5008 e Opel Grandland. No C5 Aircross tem 4,65 metros de comprimento, mais 15 cm que a geração anterior, continuando a ser uma plataforma multi-energias, com versões “mild hybrid” de 136 cv, PHEV de 196 cv e versões 100% elétricas. A de maior autonomia tem uma bateria de 97 kWh e anuncia 700 km, para uma potência de 230 cv. Estará à venda no próximo ano.

Passando aos fabricantes não franceses, destaque para o Kia EV3, um B-SUV elétrico com dimensões mais próximas às de um C-SUV, com distância entre-eixos de 2680 mm. Segue as linhas lançadas pelo EV9, o maior SUV elétrico da marca, anunciando uma potência de 204 cv e tração à frente. Existem duas baterias à escolha, uma de 81,4 kWh (600 km de autonomia) e outra mais pequena de 58,3 KWh (410 km de autonomia).

A Skoda também trouxe uma novidade elétrica, o C-SUV elétrico Elroq que antecipa a nova linguagem de estilo da marca checa. Tem 4,48 metros de comprimento, muito espaço na segunda fila e a mala leva 470 litros. A plataforma MEB alberga três versões, todas de tração atrás: 170 cv, 204 cv e 285 cv, a que correspondem três tamanhos de baterias, 52, 59 e 77 kWh. A maior das baterias promete 560 km de autonomia. No próximo ano, o Elroq terá uma versão 4×4 com a adição de um segundo motor para as rodas da frente.

Depois do Countryman ter subido de tamanho, a Mini ficou com espaço para um B-SUV e não perdeu tempo, lançando o Aceman. Um pequeno SUV exclusivamente elétrico com formas inspiradas no Cooper e dimensões compactas com 4,08 metros de comprimento. Está disponível na versão Aceman E de 184 cv e Aceman SE de 218 cv e também na versão JCW com 258 cv.

A BMW juntou o Neue Klasse X, a versão SUV com tamanho de um X3 ao já visto Neue Klasse berlina. A berlina inspira-se mais nos modelos coupé da marca alemã nos anos sessenta e setenta, estreando uma nova plataforma e um desenho muito diferente do que temos vindo a observar nos últimos anos, oriundos de Munique. Versões finais esperadas para 2025. Maior novidade foi o novo X3.

O Capri C-SUV, coupé de cinco portas e motorização exclusivamente elétrica, fez a sua última aparição estática antes de começarem os testes dinâmicos da imprensa internacional. A plataforma é a MEB do Grupo VW, no âmbito de uma cooperação entre os dois conglomerados que inclui também partilha de veículos comerciais. O Capri partilha quase tudo com os ID da VW e com o novo Explorer, tem 4,63 metros de comprimento e duas motorizações, uma de tração atrás e 286 cv e outra de dois motores e tração às quatro rodas com 340 cv.

Sem modelos totalmente novos para mostrar, a Peugeot levou ainda assim a nova versão e-408 100% elétrica da berlina coupé de cinco portas ao salão de Paris. Tem 156 cv e tração à frente. Novidade também o novo volante retangular Hypersquare, que a marca pretende instalar na próxima geração do 208. O 3008 e o 5008 marcaram também presença, como não podia deixar de ser.

A Audi está a reformular a sua gama por completo, com a separação entre os números pares, para os modelos elétricos e os números ímpares, para os modelos de combustão. Seguindo esta lógica, a marca dos quatro anéis tinha em Paris o novo A5 Sportback, ao lado do A6 Avant e-tron. Novo também o Q6 e-tron Sportback com silhueta coupé. Também presente a terceira geração do Q5, além do renovado RS GT, agora com 925 cv.

A fundo no lançamento do Junior, a Alfa Romeo levou a Paris a terceira versão, que se arrisca a ser a mais vendida, o Ibrida que utiliza o motor 1.2 Puretech turbo de 136 cv, com um motor/gerador acoplado para propor uma versão “mild hybrid”. A versão Elettrica Speciale de 156 cv também estava presente, tal como o Elettrica Veloce com os seus 280 cv e autoblocante mecânico.

Depois de ter saído da Europa com grande estrondo, vendendo a Opel/Vauxhall à Stellantis, a General Motores decidiu agora voltar ao Velho Continente com a sua marca mais emblemática, a Cadillac. E a via escolhida foi a dos SUV 100% elétricos. O Lyriq tem 5 metros de comprimento e uma bateria de mais de 100 kWh de capacidade, numa carroçaria relativamente baixa. Foi mostrada também uma versão “off road” com pneus de grandes dimensões, suspensão mais alta e reforçada e vários acessórios para condução fora de estrada.

A BYD rapidamente se está instalar na europa como a marca chinesa mais sólida. Não só pelos parceiros que escolheu para vender os seus modelos, mas também porque já começou a vender modelos PHEV, não só 100% elétricos. Desta vez, a Build Your Dreams apresentou o novo modelo Sealion 7. Um SUV que faz lembrar a silhueta do Tesla Model 3, mas que tem 4,83 metros, com a maior bateria disponível a tocar os 91,3 kWh. Abaixo da versão 4×4 mais potente, que terá 523 cv, haverá duas versões de 228 cv e 308 cv, com baterias de 72 kWh e 81 kWh e tração à frente.

Tayron é o nome da versão longa do Tiguan na gama da Volkswagen. O Tayron tem mais espaço na segunda fila e sete lugares em opção. A gama de motorizações copia a que se conhece do Tiguan, com destaque para o PHEV de 272 cv e 100 km de autonomia em modo elétrico. Também existe uma versão Diesel 2.0 TDI de 150 cv.

Acabada de chegar a Portugal, a XPeng esteve também em Paris com a sua gama de modelos, nomeadamente o anti-Tesla Model Y, G6, o maior SUV G9 e a berlina P7. Modelos que vão estar em teste brevemente no TARGA 67.

A Tesla tinha os seus quatro modelos estacionados no meio de um pavilhão, sem direito a qualquer tipo de stand. É o minimalismo levado aos salões do automóvel. A sua novidade era a versão de sete lugares do Model Y. Ao lado estava um exemplar da pick-up Cybertruck, que ainda não tem autorização para ser vendida na Europa.

A Leapmotor, que passou a ser participada pela Stellantis, mostrava alguns dos seus modelos 100% elétricos, nomeadamente o pequeno citadino T03 e vários SUV de tamanhos diferentes, de certa forma inspirados no desenho dos Tesla Model 3 e Model Y, como o B10. Mais notícias em breve, pois a marca será comercializada em Portugal ainda este ano.

Conclusão

Outras marcas chinesas, ainda não disponíveis em Portugal ou em fase de o começar a ser, estiveram também presentes no Mondial de L’Auto Paris. Foi o caso da Hongoi, Forthing (em breve em Portugal) THK, Skyworth e GAC. Quase todos com desenhos muito apurados, dentro de um aspeto Tesla, interiores cada vez melhores e mecânicas com características competitivas, faltando apenas testar cada um deles para ver se a dinâmica está ao gosto dos condutores europeus. Uma coisa é certa, os chineses vieram para ficar, como se dizia dos japoneses nos anos 1970.

Francisco Mota

Ler também, seguindo o Link: Salão de Munique – que sentido faz um evento assim?

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