Partir de um clássico e “copiar” o seu desenho para daí fazer um novo modelo é uma moda que chegou aos elétricos. Mas a Volvo preferiu uma outra via. Que tal usar um ícone da sua história como inspiração para o seu primeiro elétrico feito de raiz?
São vários os casos de modelos elétricos que vão ao passado “copiar” o desenho de modelos antigos, para depois os adaptar a interpretações modernas. O exercício tem vantagens e desvantagens.
A ligação direta ao passado gera empatia instantânea a quem olha para o novo modelo e se lembra do antigo. Esse é o lado positivo. O mais difícil é saber evoluir o exercício, quando chegar a altura de fazer um “restyling”.

Os designers da Volvo optaram por uma via diferente, ao desenharem o novo C40 Recharge, o primeiro modelo da marca projetado para ser exclusivamente elétrico. E isso tem implicações diretas em muitas áreas do seu estilo.
SUV-Coupé inspirado num desportivo
Olhando para as formas de SUV-Coupé do C40 Recharge, é fácil encontrar os códigos de estilo que o identificam como um modelo premium moderno. Mas uma observação mais próxima revela outras influências que não apenas as do contexto atual.
Os designers da Volvo não ignoraram a história da marca e foram à procura de influências que poderiam reforçar a imagem de família
No processo de definição do estilo do C40 Recharge, os designers da Volvo não ignoraram a história da marca e foram à procura de influências que poderiam reforçar a imagem de família do novo modelo elétrico.
Tratando-se de um coupé, nada mais lógico do que tirar do museu um exemplar de um dos mais icónicos modelos clássicos da Volvo, o coupé P1800.

O modelo é por muitos conhecido como o carro do “Santo”, por ter sido co-protagonista com o ator Roger Moore na série televisiva dos anos sessenta.
A história do P1800 em resumo
O P1800 foi um projeto que nasceu em 1957, da vontade da Volvo em ter um coupé para vender nos EUA. O projeto foi liderado por Helmer Petterson, um consultor de engenharia da Volvo e feito com base na plataforma e motor 1.8 de 102 cv do Amazon 122.

A carroçaria foi desenhado pelo filho de Helmer, Pelle Petterson, sem conhecimento do pai. Na altura, Pelle trabalhava sob a orientação do famoso estilista Pietro Frua, quando o Studio Frua era subsidiário da Carrozzeria Ghia.
Esta relação era tão complexa que só em 2009 a própria Volvo reconheceu Pelle Petterson com autor do desenho, tendo sido oficialmente atribuído a Frua durante décadas.
Karmann, Jensen e Volvo
O plano inicial era entregar a produção de um carro tão especial como este à Karmann, especializada no assunto. O negócio estava quase feito, quando o maior cliente da Karmann, a VW, se opôs por considerar que isso iria prejudicar a produção dos seus carros.
A Volvo fez um acordo com a Inglesa Jensen Motors para a produção de 10 000 unidades
A Volvo teve assim que procurar outro parceiro para fabricar o P1800 e acabou por fazer um acordo com a Inglesa Jensen Motors para a produção de 10 000 unidades. A primeira estava pronta em Setembro desse ano, com o monobloco em aço sub-contratado à Linwood da Escócia.

Contudo, em 1963, ainda só tinham sido feitas 6000 unidades, devido a sucessivos problemas de qualidade de construção. A Volvo desistiu do acordo e levou a produção finalmente para uma das suas fábricas na Suécia.
Inspiração, não cópia
O P1800 esteve em produção até 1973, totalizando 47 492 unidades. A série televisiva deu-lhe notoriedade mundial e algumas das soluções estéticas da versão “shooting brake” P1800ES foram usadas mais tarde noutros modelos, como o vidro traseiro vertical, recuperado pelo 480.
Com todo este património, compreende-se que, 60 anos depois, os atuais designers da Volvo fossem olhar para o P1800 antes de desenharem o C40 Recharge.

Nas palavras de Robin Page, líder do design na Volvo, “é importante tentar não criar somente um remake de um veículo retro. Os gostos dos clientes e as suas necessidades alteram-se ao longo do tempo.”
ADN da marca
Ir buscar algo do ADN do P1800 para o C40 Recharge, era a ideia, mas não fazer uma reinterpretação do desenho dos anos sessenta.
Por exemplo, como veículo puramente elétrico, o C40 Recharge não tem a tradicional grelha dianteira, substituída por uma placa na mesma cor da carroçaria. O próprio símbolo da marca, esconde agora alguns dos sensores necessários para os sistemas de ajuda à condução.

Símbolos do design moderno da Volvo, como os faróis de LED com a forma do já famoso “martelo de Thor” não podiam faltar no C40 Recharge. Mas afinal onde está a influência do P1800?
No perfil há algo de P1800
A Volvo afirma que a vista de perfil é aquela onde mais isso se pode observar. O tejadilho relativamente baixo, para um SUV, é um exemplo, bem como a sua grande inclinação em direção ao vidro traseiro.
Claro que o novo modelo tem 1,58 metros de altura, enquanto o P1800 tinha apenas 1,28 metros. Mas os comprimentos são curiosamente próximos: 4,36m, para o clássico e 4,43m, para o novo elétrico.

Olhando com mais cuidado para o perfil, é possível encontrar uma linha, a meia altura, vincada na chapa das portas e guarda-lamas traseiro, que faz lembrar a mesma linha no P1800, neste sublinhada por um friso cromado.
Também a vista traseira o C40 Recharge foi buscar inspiração ao P1800, nas palavras da Volvo através da passagem suave e contínua entre o tejadilho panorâmico e o vidro traseiro. Claro que os elementos gráficos são distintos, mas são igualmente marcantes e facilmente identificativos da marca.
Conclusão
Mais do que fazer uma reinterpretação moderna de um modelo antigo, a Volvo preferiu ir buscar ao icónico P1800 alguma inspiração para o novo C40 Recharge, sem que isso, em nada possa interferir no visual moderno do modelo.
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