Mesmo se os responsáveis da marca não gostam de dizer Kia e Premium na mesma frase, os indícios apontam cada vez mais para um reposicionamento da marca, à boleia da eletrificação. Depois da berlina-coupé EV6, agora surge um enorme SUV elétrico que não pode deixar de rivalizar com modelos como o BMW iX.
Com o seu desenho arrojado, que o posiciona muito mais como uma berlina-coupé, do que como um crossover, o EV6 já tinha mostrado uma clara vontade de reposicionamento da Kia.
A eletrificação tem destas coisas, proporciona um momento de “reset” a muitas marcas, sobretudo às que não têm ainda muito lastro histórico, como é o caso da Kia.
Com afirmou Artur Martins, o português que foi até há poucos dias o “chief brand officer” da Kia: “No passado, uma marca tinha que ter 100 anos de produção automóvel para conseguir fazer bons carros. Hoje, os consumidores já não consideram isso verdade. Uma marca que nunca lançou um carro na vida, pode subitamente ocupar um posicionamento premium”.
Martins acrescentou ainda que “para uma marca jovem como a Kia, um produto deste tipo é uma gigantesca oportunidade de posicionamento.”
A oportunidade
E a oportunidade é um SUV elétrico de sete lugares, com 5,01 metros de comprimento e 3,1 metros de distância entre-eixos, maior do que o BMW iX em ambas as cotas. Já para não falar dos 1,75 metros de altura, dos 1,98 metros de largura e das jantes que podem chegar às 21”.
O estilo é claramente mais “quadrado” que qualquer outro Kia. Uma espécie de reinterpretação moderna dos grandes todo-o-terreno do passado, incluindo uma frente estanque com faróis na vertical. O desenho foi realizado sob a direção de Karim Habib, que veio da BMW.
O perfil tem enormes cavas de rodas, reforçadas com molduras pretas na versão GT-Line e uma linha de cintura que sobe abruptamente no pilar traseiro. Atrás, é seguida a mesma ideia da frente.
Muita resistência
O coeficiente aerodinâmico anunciado é de 0,28, e foi conseguido com detalhes como a carenagem do fundo, desenho das jantes e cortinas móveis na grelha inferior dianteira.
Mas a resistência ao avanço é determinada pela multiplicação do Cx pela superfície frontal projetada. E essa não é nada pequena, devido às dimensões da carroçaria, nomeadamente a largura e altura.
Plataforma E-GMP
Como se esperava, o EV9 partilha a plataforma E-GMP com o EV6 e outros modelos do grupo. Tem por isso suspensão independente às quatro rodas e possibilidade de tração integral.
Estreia também uma nova arquitetura do pilar B, com maior sobreposição entre a chapa do pilar e a embaladeira, de forma a aumentar a resistência em caso de choque lateral.
A arquitetura elétrica de 800 Volt é mantida, o que permite carregar o equivalente a 239 km de autonomia em 15 minutos, num carregador rápido de 350 KW.
A bateria de 99,8 kW colocada sob o habitáculo, permite à marca anunciar uma autonomia superior a 541 km, segundo a norma WLTP.
Tração atrás ou às quatro
A versão base tem tração atrás e uma bateria de 76,1 kWh. Depois há uma bateria de 99,8 kWh, que pode ser aplicada na versão de tração atrás, para configurar a maior autonomia; ou na versão de tração às quatro rodas, que acrescenta um segundo motor elétrico.
Para a versão base, a Kia disponibiliza um motor de 160 kW (218 cv) e 350 Nm, para uma aceleração 0-100 km/h de 8,2 segundos. Quando equipada com a bateria maior, esta versão de tração atrás desce a potência para os 150 kW (204 cv) com o objetivo de maximizar a autonomia aos referidos 541 km, os 0-100 km/h sobem a 9,4 segundos.
A versão de tração às quatro rodas tem uma potência total de 283 kW (385 cv) e 600 Nm, acelerando dos 0 aos 100 km/h em 6,0 segundos.
Através do Kia Connect Store, o proprietário desta versão pode pagar para desbloquear a função Boost, que lhe aumenta o binário para os 700 Nm e baixa os 0-100 km/h aos 5,3 segundos.
Até sete lugares
Quanto ao habitáculo, estão disponíveis configurações de seis ou sete lugares e quatro opções para os bancos da segunda fila. Numa delas, é possível girar os dois bancos e ficar virados para a terceira fila.
O painel de bordo tem formas muito rectilíneas, com um painel de instrumentos e ecrã tátil central integrados numa só peça encurvada, tal como no EV6, e materiais de alta qualidade.
Houve também um esforço para usar materiais reciclados e sustentáveis, no caminho para aumentar até 20% os plásticos reciclados, um objetivo até 2030.
Desbloquear funções
A Kia vai disponibilizar a venda à distância do desbloqueio de outras funções do EV9, através do sistema de infotainment ligado à Internet, que tem capacidade de receber atualizações “over the air.”
Tal como os outros modelos feitos sobre esta plataforma, também o EV9 tem função V2L que permite carregar outros dispositivos, como bicicletas elétricas, por exemplo, até 3,68 kW de potência.
Outra das funções desbloqueáveis à distância pelo proprietário, mediante pagamento é a condução autónoma condicional de nível 3, para os mercados em que esteja autorizado.
Condução autónoma nível 3
A marca chama-lhe Highway Driving Pilot (HDP) e incorpora dois Lidar que detetam objetos num ângulo de 360 graus. O sistema só estará disponível mais tarde.
Segundo a definição oficial deste nível 3, “o automóvel é capaz de controlar todos os aspetos da condução, sem intervenção do condutor, mas obrigando a que este permaneça atento e pronto a intervir e substituir o sistema a qualquer momento.”
Grelha digital
Também desbloqueável, mediante pagamento, é o incremento da “grelha de iluminação com padrão digital” com a função “padrão de iluminação”. Trata-se de um conjunto de luzes que se ligam por detrás da grelha, numa forma de comunicação com o exterior, como visto no concept-car que deu origem ao EV9.
O sistema de estacionamento autónomo, com o condutor dentro ou fora do EV9, neste caso através da chave inteligente, também pode ser comprado como “funcionalidade digital”, tal como streamimg de conteúdos.
Os sistema de ajuda à condução foram melhorados face ao EV6, com a evolução de várias funções, como a do auxílio à mudança de faixa de rodagem em autoestrada.
Conclusão
O EV9 vai começar a ser vendido no final do ano, com preços ainda não anunciados, mas que vão ficar certamente abaixo dos praticados pelas marcas premium. É mais um passo no Plano S da marca, em que se prevê lançar mais 13 elétricos até 2027.
Francisco Mota
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