Se as contas não me falham, o VW T-Roc R é o carro mais potente alguma vez fabricado em Portugal. É um SUV compacto com 300 cv e tração às quatro rodas. Mas como é que tudo isto se traduz na estrada? Teste TARGA 67, para descobrir.
Nem nos tempos em que a Autoeuropa fabricou o Scirocco, chegou a ter uma versão tão potente como este T-Roc R de 300 cv, o que faz do atual modelo mais vendido da VW na Europa, o carro mais potente alguma vez fabricado em Portugal.
Não deixa de ser mais um atestado de competência e confiança que a casa mãe dá à fábrica portuguesa, ao atribuir a fabricação de uma versão tão específica à mesma fábrica que produz todas as outras versões do T-Roc.

A única versão do T-Roc que não é feita em Portugal continua a ser o Cabrio, que é produzido na Alemanha, em Osnabrück. Sobretudo porque a sua produção segue uma cadência muito mais lenta e em volumes muito reduzidos, o que poderia atrapalhar a linha da Autoeuropa.
Restyling após 5 anos
Tal como toda a gama, também o T-Roc R recebeu um restyling há pouco tempo, razão suficiente para mais um teste TARGA 67. Tanto mais que as características são aliciantes, para quem gosta de modelos desportivos.
Novos para-choques, grelha, difusor traseiro, LEDS de dia e jantes são o habitual destas atualizações, cinco anos depois do lançamento. Mais importante foram as mudanças no interior.

Os plásticos do topo do tablier passaram de duros a macios, o ecrã tátil central de 9,2” está numa posição mais alta, as saídas da climatização ficaram por baixo e são comandadas por botões táteis separados do novo infotainment. Depois, há mais ajudas eletrónicas à condução e maior conetividade.
A mesma mecânica
Nenhumas mudanças na mecânica que continua a usar o motor 2.0 TSI com injeção direta e indireta e turbcompressor, aliado a uma caixa de dupla embraiagem de sete relações.
A transmissão 4Motion de tração às quatro rodas usa uma embraiagem mutidiscos central. A suspensão é mais baixa e firme que nas outras versões e o peso total atinge os 1578 kg.

O motor desenvolver uma potência máxima de 300 cv, entre as 5300 e as 6500 rpm e o binário máximo é de 400 Nm, constante entre as 2000 e as 5200 rpm. Com estes números, o T-Roc R acelera dos 0 aos 100 km/h em 4,9 segundos e atinge os 250 km/h de velocidade máxima.
Plataforma MQB do Golf
A plataforma é a MQB, com suspensão independente às quatro rodas e tração total, uma espécie de versão SUV do VW Golf R. Mas menos refinada para conseguir um preço um pouco mais baixo de 57 779 euros, sem opcionais.

Tal como em todos os T-Roc, o espaço na segunda fila é razoável para dois adultos, que têm lugares com algum apoio lateral; mas o lugar do meio tem um túnel no chão e menos largura disponível. Na frente, os dois bancos desportivos têm bom suporte lateral.
A mala tem um formato fácil de aproveitar e anuncia 392 litros, menos que os 445 litros da versões de tração à frente, devido à presença do diferencial traseiro.
Mais qualidade no interior
A impressão de qualidade é superior à dos outros T-Roc, existindo aplicações com pespontos contrastantes, mas continua a haver muitos plásticos duros, por exemplo na totalidade das portas de trás.

A montagem parece rigorosa, dentro do habitual padrão da marca e há algumas aplicações com acabamento preto piano que dão um toque “premium”.
A posição de condução é pouco mais alta que a de um Golf, está muito bem enquadrada entre banco, volante de boa pega e pedais, com ajustes mais que suficientes. A caixa DGS tem uma alavanca digna desse nome e patilhas de tamanho razoável, no volante.
Erros de ergonomia
Os comandos da climatização táteis obrigam a desviar os olhos da estrada o que é um erro de ergonomia e de segurança. O outro erro está em usar também botões táteis no volante, que as palmas das mãos ligam sem querer, durante as manobras.

O ecrã tátil é o “antigo”, ou seja, não é o do Golf que tantas vezes tenho criticado. E mostra como é muito mais fácil de operar. O painel de instrumentos digital é também conhecido da marca e não levanta grandes questões de leitura.
Modos de condução não faltam
Há cinco modos de condução: Eco/Normal/Comfort/Race/Individual que mudam a assistência da direção, sensibilidade do acelerador, rapidez da caixa em modo D e também o amortecimento em três níveis.

Além disso, ainda há um botão rotativo para os modos de condução “off road”: Snow/Auto/Expert, que mudam sobretudo a estratégia do controlo de tração e da própria tração às quatro rodas. Para os usar, seria preciso ter pneus diferentes dos Conti Sport Conctact de medida 235/40 R19 que estavam montados.
Em cidade
Em cidade, o T-Roc R começa por mostrar que tem uma suspensão bastante firme, pouco confortável nos maus pisos, mas que os consegue “ler” sem perder nada do controlo dos movimentos da carroçaria.

O motor é muito civilizado e disponível deste os regimes mais baixos, com a caixa a fazer passagens acertadas ee suaves em “D”. A direção transmite rigor e facilidade e a posição de condução facilita a colocação e a manobra em espaços mais apertados. Boa visibilidade.
Os travões também têm um tato muito fácil de dosear e são progressivos, fazendo da condução em cidade uma tarefa que agrada. No meu habitual teste de consumos,em modo Eco, registei um valor de 9,8 l/100 km, em cidade. Uma consequência de este motor ainda não ter nenhum tipo de ajuda elétrica.
Em autoestrada
Em vias rápidas e autoestrada, o controlo da suspensão continua a mostrar que o desenvolvimento do T-Roc passou pelas “autobahn” alemãs. Enorme estabilidade direcional, rigorosa resposta a mudanças de faixa e poucos ruídos de rolamento e aerodinâmicos.

Em termos de consumos, o meu teste em autoestrada a 120 km/h estabilizados registou 7,3 l/100 km, beneficiando do modo “vela” que a caixa consegue fazer em algumas zonas de desaceleração com gradiente favorável.
Em modo “Race”
Depois foi a altura de escolher a estrada secundária adequada e usar o botão com a letra “R” que está no volante, para aceder ao modo Race. O amortecimento sobe ao terceiro nível, a direção fica mais pesada e o sistema de som passa a emitir uma banda sonora falsa através dos altifalantes.

Claro que uma aceleração a fundo mostra em pleno a força deste motor, que dá ao T-Roc R performances muito boas. Sobretudo agrada a versatilidade este 2.0 TSI, que está tão à vontade a usar os 400 Nm desde os regimes mais baixos, como a explorar os limites do “red-line” para usar os 300 cv.
Caixa e travões cumprem
A caixa de dupla embraiagem é rápida a subir, mas não é sempre obediente em algumas reduções, para preservar a sua integridade.
Quando chega a altura de travar forte, os travões inspiram confiança. Mas quando se ataca a primeira curva, percebe-se que um T-Roc nunca vai ser um Golf.

Sente-se o Centro de Gravidade alto e a carroçaria a inclinar. Não tanto como num T-Roc menos potente, pois a suspensão é bem mais desportiva, mas a precisão não pode ser a mesma de um Golf R.
Não deixa de ser um SUV
A direção coloca a frente em curva com precisão, mas a primeira tendência do T-Roc é a subviragem, quando se leva mais velocidade para dentro da curva. Uma tendência fácil de emendar, bastado aliviar o acelerador.
Na primeira metade da curva, o T-Roc R pode ser guiado como um bom tração à frente, não exagerando na velocidade de entrada e travando tarde, a curvar, para desequilibrar a traseira, fazer rodar o carro e evitar a subviragem.

A partir daqui, é só acelerar a fundo e ver como o sistema 4Motion coloca toda a força no chão. Se o piso for ligeiramente escorregadio, até se pode ter o brinde de uma ligeira sobreviragem à saída, com os escapes Akrapovic a deitarem discretas detonações a cada passagem de caixa.
ESC melhor “off”
Tudo isto com o ESC desligado, pois se ficar ligado, mostra-se demasiado nervoso e interfere na fluidez da condução. Parece que não confia no 4Motion.

Em pisos mais estragados, pode ser conveniente passar ao modo Individual e baixar o amortecimento para o nível médio, talvez até a direção também. E vale a pena experimentar o modo “S” da caixa de velocidades, abandonando as patilhas e ver como o algoritmo calcula bem os tempos das passagens.
Conclusão
Do lado das performances em linha, o T-Roc R é dos melhores do segmento, ou não tivesse 300 cv. Mas a dinâmica não é tão desportiva, nem tão eficiente como poderia ser. Percebe-se que a VW preferiu não radicalizar, para manter esta versão apelativa a um maior leque de clientes. Quem desejar algo mais focado e refinado, tem o Golf R.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
VW T-ROC R 2.0 TSI 4Motion DSG
Potência: 300 cv
Preço: 57 779 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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