A nova geração do Golf R junta uma coleção de argumentos difíceis de superar por qualquer outro desportivo. Tem 320 cv, tração às quatro rodas, diferencial ativo e… é um Golf. Saiba como a VW conseguiu acertar em (quase) tudo.
A geração anterior do VW Golf R era um dos meus desportivos preferidos do segmento dos familiares compactos. Um carro muito completo, quando se olhava para a performance e para a versatilidade. Não era fácil melhorar, mas a VW conseguiu.

Para a oitava geração do Golf, a VW evoluiu um pouco mais a versão R e o resultado é um desportivo que passou a ser um dos melhores, não só no seu segmento, mas em qualquer segmento. Explico porquê.
Especial mas discreto
Por fora, é um Golf, mas percebe-se que é um Golf especial, seja pela suspensão mais baixa, pelo desenho mais aberto do para-choques da frente, pela asa na tampa da mala, pelos fabulosos escapes Akrapovic ou pelo desenho das jantes de 19”, a deixar ver as maxilas azuis.

Por dentro, tem o excelente espaço e facilidade de acesso de qualquer Golf da oitava geração, mas acrescenta uma qualidade de materiais e de acabamentos superior, ao nível de modelos mais caros.
Os bancos desportivos são firmes mas confortáveis, com ótimo apoio lateral, contribuindo para uma posição de condução excelente. O volante tem a inclinação certa, amplas regulações e uma pega anatómica.

A alavanca da caixa foi substituída por um pequeno balanceiro, pouco prático nas manobras, mas as patilhas do volante são maiores, para compensar
Um “pisar” convincente
Basta começar a andar para perceber o “pisar” diferente deste Golf, mais firme mas muito melhor controlado que o dos outros, mostrando que a suspensão independente às quatro rodas foi muito bem trabalhada.
Os amortecedores ajustáveis em 15 posições dão uma ajuda preciosa para atingir um nível de conforto muito bom, mesmo quando a estrada piora. Os pneus 235/35 R19, uns GoodYear Eagle F1 Super Sport, não castigam a estrutura, que se sente muito rígida.

A condução é a de um Golf, só que melhorada. A caixa de dupla embraiagem é muito civilizada em modo D, a direção tem o peso certo e apenas a sensibilidade dos travões obriga a uma pequena habituação, para não travar em excesso.
As críticas…
Claro que tenho críticas a fazer. A começar pelo sistema de infotainment, confuso de usar. Para desligar o ESC é preciso procurar muito, devia estar a um toque de distância.

Também os botões táteis do volante se podem ligar sem querer, durante as manobras. No meu caso, de repente fiquei com o volante a escaldar e não percebi logo que tinha tocado no botão para ligar o seu aquecimento.

De resto, a condução em cidade é um prazer, com visibilidade ótima, comandos muito suaves e lineares e um motor muito civilizado, quando usado em regimes baixos e médios. Nem os consumos são um exagero: registei 11,1 l/100 km, em cidade e 7,8 l/100 km, em autoestrada.
Modos Sport e Race
Deixando o modo de condução Comfort para trás e passando ao Sport (o modo por defeito quando se liga o carro) e rumando a estradas e horas onde podia explorar o Golf R, toda a atitude do carro muda.

Com 320 cv e 420 Nm à disposição, o Launch Control faz um trabalho muito eficiente mas não espetacular. Usa o motor e a tração às quatro rodas da melhor maneira para chegar aos 100 km/h em 4,6 segundos, sem alarido.
Usando o botão R no volante, para passar ao modo Race, ganha-se em sensibilidade do acelerador, mas a direção fica um pouco pesada demais para o meu gosto.

A suspensão também sobe ao nível mais firme, o que, para algumas estradas menos perfeitas, pode tornar o modo Individual muito útil.
No modo Race, o escape torna-se muito mais extrovertido, seja no som a ritmo constante, seja nas passagens de caixa e nas desacelerações, emitindo umas detonações que, confesso, me agradam.
Reconhecimento e “ataque”
Umas passagens num troço de estrada bem escolhido, para lhe conhecer os detalhes e perceber que o ESC não é nervoso e chegava a altura de o desligar por completo, passando ao modo manual da caixa e mantendo o modo Race.

Devido à elevada tração deste sistema 4Motion, os 320 cv do motor 2.0 TSI não se sentem avassaladores. Mas o quatro cilindros turbo continua com garra, mesmo perto do red-line, por isso vale a pena usá-lo até às 7000 rpm.
A velocidade sobe sem que se dê por isso, até que chega a altura de travar forte. O pedal mostra autoridade, mas não é difícil de modular, mesmo nas travagens nos limites.
A caixa acatou as ordens que lhe dei através das patilhas, com rapidez e consistência.
Preciso e obediente
A direção dá muita e boa informação do que as rodas da frente estão a fazer, o que é útil para as colocar ao milímetro na entrada em curva. A frente obedece com fidelidade e rapidez às ordens do volante, fazendo o Golf R mudar de direção com muita precisão.

Já com o carro bem apoiado nas quatro rodas, o passo seguinte é carregar a fundo no pedal da direita e ver o que acontece. E acontece o esperado. A tração é perfeita, os pneus agarram-se ao asfalto e atiram o Golf R para diante com enorme eficiência.
Até aqui, as diferenças para o anterior R são as relativas à suspensão mais firme e direção mais direta. Mas o melhor vem depois.
“Powerslides” genuínos
Não exagerando na velocidade de entrada em curva e escolhendo um piso que não seja demasiado aderente, quando se reacelera a fundo a partir do meio da curva, a traseira desliza sob potência, fazendo rodar o Golf.

É o diferencial ativo traseiro a funcionar, abrindo e fechando as suas duas embraiagens multidisco, de modo a deixar este Golf R fazer uns genuínos “poweslides” de que o anterior nunca foi capaz.
Repetindo o exercício, agora com um pouco mais de velocidade na entrada, mas sem deixar a fente subvirar e reacelerando mais cedo, a deriva chega a pedir uns graus de contrabrecagem, que colocam de imediato um sorriso nos lábios.
Sempre muito bem controlado
Mesmo com o Golf R um pouco atravessado, a sensação de controlo permanece. A suspensão lida muito bem com estas transferências de massas mais radicais, mantendo sempre um grau de progressividade que inspira confiança. E as quatro rodas motrizes endireitam rapidamente o carro.
Claro que também se pode empregar um estilo de condução mais exuberante, tratando o Golf R como um tração à frente, na entrada em curva.

Trava-se tarde, já em apoio, para provocar a deriva da traseira por inércia e depois é acelerar forte, com o volante quase direito e ver como o diferencial ativo faz o carro enrolar a curva num estilo eficaz e divertido.
Na estrada certa, no dia e hora certos, o Golf R permite uma sessão de condução rápida e entusiasmante, que se mostra muito consistente com o passar dos quilómetros. O equilíbrio do carro não castiga pneus ou travões.
O modo “drift”
No entanto, o Golf R ainda é capaz de mais, quando equipado com o opcional R-Performance Pack, que sobe a velocidade máxima dos 270 aos 290 km/h e, mais importante, inclui dois outros modos de condução.
O “Special”, diz a VW que foi feito a pensar no Nürburgring, o que pode ser útil para estradas imperfeitas. Experimentando as várias opções do modo Individual, talvez seja possível chegar a um resultado semelhante, mas com mais trabalho.
O outro modo é o “Drift”, capaz de passar toda a potência entregue às rodas traseiras (no máximo, 50% do total debitado pelo motor) para a roda traseira exterior à curva.

Isto permite, em colaboração com a vectorização de binário, fazer “drifts” de potência mais prolongados. Infelizmente, este opcional não estava presente no Golf R que testei.
Conclusão
Civilizado, sofisticado e familiar, numa utilização diária e depois entusiasmante e desafiante, numa estrada de montanha, o Golf R junta as duas faces da mesma moeda de uma maneira que poucos desportivos conseguem. Não tem demasiada potência, tem a potência certa para usufruir do conjunto sem ter que cometer insanidades. Por isso digo que é o melhor desportivo do mundo real.
Francisco Mota
(Fotos de João Apolinário)
VW Golf R 2.0 TSI DSG
Potência: 320 cv
Preço: 56 780 euros
Veredicto: 4,5 (0 a 5)
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Comparativo – GTI contra GTE: qual o melhor VW Golf desportivo?