Apesar de já ter vários SUV na gama, à Toyota faltava um modelo familiar para o segmento dos compactos. O Corolla Cross é exatamente isso, tendo em mira o Peugeot 3008 e VW Tiguan. É o primeiro protagonista do Teste TARGA 67 no novo ano de 2023.
Entre o C-HR e o RAV4 havia um espaço na gama europeia de SUV da Toyota. O primeiro tem o perfil de um SUV-Coupé, o segundo posiciona-se já no segmento acima, em termos de dimensões e preço. Faltava um C-SUV para rivalizar diretamente com modelos como o VW Tiguan ou o Peugeot 3008, só para dar dois exemplos, entre muitos rivais que povoam o segmento.

Com 4,46 metros de comprimento, o Corolla Cross tem praticamente o mesmo comprimento do 3008 (4,45m) e pouco menos que o Tiguan (4,51m) numa carroçaria com uma estética que se aproxima mais do RAV4 que da gama Corolla, que lhe empresta o nome.
A plataforma é a mesma GA-C do Corolla e outros modelos da Toyota, com uma frente e arcos das rodas a fazer lembrar o RAV4, mas num desenho menos “offroad” e mais urbano.
Quinta geração híbrida
A única motorização disponível é um 2.0 “full hybrid” a gasolina, mas numa nova geração, a quinta da Toyota. O motor de quatro cilindros tem 152 cv e o motor elétrico tem 112 cv, resultando numa potência máxima combinada de 197 cv, contra os 184 cv da anterior geração.

Mais uma vez, a transmissão de variação contínua foi melhorada, para que a subida de regime do motor fique mais proporcional ao movimento do pedal da direita.
A bateria de iões de Lítio está sob o banco de trás e tem mais 14% de potência, menos 14% de peso e menos 14% de perdas que a anterior.
Interior conservador
Quanto ao interior, o Corolla Cross partilha alguns componentes do tablier com as outras versões da gama Corolla. Estreando um novo painel de instrumentos digital com mais informação sobre o sistema híbrido, mas um computador de bordo um pouco confuso.

O sistema de infotainment também é novo, tem um ecrã tátil de 10,5” destacado no topo da consola, tem melhores gráficos e funciona muito melhor que a geração anterior, mas tem pouca informação.
A impressão de qualidade não impressiona, contando com muitas superfícies de plástico duro. Provavelmente durável, como é hábito na marca.
Espaço suficiente
O espaço nos lugares da frente é mais que suficiente, mas na segunda fila o volume dos bancos da frente não liberta muito comprimento para as pernas.

A altura é boa, sem se ter aquela sensação de tejadilho alto de outros SUV. A largura é suficiente. A mala tem 428 litros de capacidade e não é difícil de utilizar ou carregar.

O condutor tem três modos de condução à escolha num botão: Eco/Normal/Sport, além da posição de maior regeneração “B”, na alavanca da caixa.
Muito suave de guiar
Começando pelo modo Eco, em cidade, a resposta do sistema é muito suave e decidida, desde baixas velocidades. A intervenção do motor elétrico é fácil de perceber.

Raramente o motor a gasolina tem que subir acima das 3000 rpm, mantendo-se silencioso. São muitas as ocasiões em que o quatro cilindros é desligado e o Corolla Cross segue apenas em modo elétrico. Há uma luz no painel para indicar isso.
A posição de condução não é das mais altas do segmento, fazendo com que os grandes retrovisores exteriores prejudiquem a visibilidade nos cruzamentos. O volante está bem posicionado e tem boa pega, mas precisava de maior ajuste em alcance.
Muito bem calibrado
A direção tem o nível de assistência certo e o pedal de travão é fácil de dosear, mostrando a imensa experiência da Toyota no domínio dos híbridos.

O modo “B” de maior regeneração não é muito intenso, mas dá uma boa ajuda no trânsito, diminuindo a frequência de uso do pedal de travão.
Desde que não apareçam irregularidades muito pronunciadas na estrada, o conforto da suspensão independente à quatro rodas, dos pneus 225/50 R18 e dos bancos macios é bom.
Consumos baixos
No meu habitual teste de consumos em cidade, em modo Eco, com a função “B” ativa e A/C desligado, obtive um valor de 4,5 l/100 km. O painel de instrumentos informou-me que em 58% da distância o sistema usou o modo zero emissões.

Antes de entrar na autoestrada, testei o modo Normal que dá maior sensibilidade ao acelerador, mas obriga o motor a gasolina a manter-se em regimes mais altos.
Como a insonorização do motor não é perfeita, voltei de imediato ao modo Eco, cujo decréscimo de resposta do acelerador não é minimamente problemático em condução citadina.
Aqueles retrovisores…
Em vias rápidas e autoestrada, logicamente que o motor a gasolina roda a regimes mais altos, durante mais tempo aumentando o nível de ruído a bordo.
Mas desde que não se acelera de forma súbita, a subida de regime não é exagerada. Com alguma atenção ao pé direito, é possível manter um ambiente sonoro aceitável.

A estabilidade a velocidades de autoestrada é muito boa, não se notam nenhuma das oscilações típicas de SUV mais altos, quando passam por bossas ou depressões do piso e ouvem-se poucos ruídos de rolamentos, mas os retrovisores fazem ruídos aerodinâmicos.
Quanto aos consumos em autoestrada, rolando a 120 km/h e sempre com o A/C desligado, obtive um valor de 6,0 l/100 km. Em ambos os caso, são consumos muito bons para um C-SUV, ao nível ou abaixo de um Diesel equivalente.
Bom modo Sport
É clara a vocação familiar do Corolla Cross Hybrid, mas não podia deixar de o testar numa estrada secundária, usando o modo Sport, que dá ao acelerador uma resposta mais rápida, permitindo fazer os 0-100 km/h em 7,6 segundos.

Além disso, não deixa cair imediatamente as rotações do motor, quando se desacelera. Há maior proporcionalidade entre o som do motor e o movimento do acelerador, em Sport. E a bateria mantém-se facilmente com meia carga.
Vocação familiar
Claro que o comportamento não quer ser desportivo. A direção é um pouco filtrada, em pisos molhado a motricidade não é perfeita e a suspensão traseira está sempre muito “agarrada” quando o asfalto está seco.

Mas a inclinação lateral em curva não é exagerada e o ESC entra em ação de forma progressiva, sem alarmismos, quando se força um pouco o andamento e a frente entra em subviragem. Os 1580 kg não ajudam a agilidade.
A sensação de segurança é sempre muito alta, reforçada pelo T-Mate, o nome que a marca dá ao conjunto de ajudas à condução. Há também um airbag entre os lugares da frente.
Conclusão
O Corolla Cross Hybrid acerta em cheio no alvo das necessidades de um C-SUV, sobretudo no funcionamento da quinta geração do sistema “full hybrid”. E nem sequer se faz pagar por valores acima da concorrência. É mais uma prova de que sistemas híbridos como este não merecem ser ignorados pelos incentivos fiscais.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Toyota Corolla Cross Hybrid
Potência: 197 cv
Preço: 38 190 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)
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