O Octavia RS passou a ter três versões diferentes, uma delas é a iV, o nome dos eletrificados da marca checa. É um “plug-in” que mostra, mais uma vez, que à Skoda só lhe interessam as coisas sérias.
O crescimento da Skoda dentro do grupo VW tem sido notável, não só em volume de vendas, passando o milhão de carros por ano, mas também na qualidade e, mais importante ainda, no seu estatuto dentro do grupo.
Basta ver como foi a entrada da Skoda no mundo dos elétricos para perceber o respeito da administração de Wolfsburgo.

Mas a Skoda quer mais e já fez saber que tem todos os requisitos necessários para vir a ser um dos primeiros centros de desenvolvimento e produção de elétricos do grupo. E não duvido que o consiga
Octavia RS em versão “plug-in”
O lançamento de uma versão “plug-in” no modelo Octavia RS é disso um sinal, um sinal de que à versão mais desportiva do modelo mais vendido da marca já não bastam versões RS a gasolina e a gasóleo.
Por isso, o “plug-in” era fundamental, não só para satisfazer a procura, mas também para marcar uma posição. Desportivo, sim. Mas eletrificado também.

Feito com base na plataforma MQB, que acabou de festejar o seu 10º aniversário ao serviço de dezenas de modelos do grupo, contabilizando mais de 32 milhões de unidades na estrada, o Octavia iV RS transfere toda a tecnologia PHEV conhecida do Golf GTE, como seria de esperar.
Os componentes essenciais
Assim, temos um motor 1.4 TSI turbocomprimido a gasolina de 150 cv e um motor elétrico de 116 cv, associado a uma caixa automática de dupla embraiagem. A potência combinada é de 245 cv e o binário máximo de 400 Nm.

Isto chega para fazer os 0-100 km/h em 7,3 segundos e para atingir os 225 km/h, numa autoestrada alemã. Valores de um desportivo, para um familiar médio como o Octavia.
Na verdade, um familiar “médio-mais”, pois o posicionamento dos modelos da marca aponta sempre para os intervalos entre os segmentos convencionais.

Tem mais espaço que um Golf nos lugares de trás e a quinta porta dá acesso a uma bagageira de 450 litros, que perdeu 150 litros devido à colocação da bateria sob o fundo.
Pelo mesmo motivo, o depósito de gasolina também desce aos 39,5 litros, perdendo 10,5 litros de capacidade face aos outros Octavia.
A bateria e os seus números
A bateria tem 13,0 kWh brutos, a que correspondem 10,9 kWh úteis, o suficiente para a Skoda anunciar uma autonomia de 62 km, em modo elétrico, segundo a norma WLTP.

Para a carregar dos 0 aos 80% numa tomada AC de 3,2 kW são precisas 2h35; e o sistema híbrido acresce 175 kg em relação ao Octavia RS a gasolina.
Os detalhes RS
Por fora, o Octavia iV RS segue os tiques agora na moda para distinguir as versões desportivas, nomeadamente as jantes pretas, a grelha preta e vários outros detalhes pretos na carroçaria, como uma discreta mas insinuante asa traseira.

Por dentro, há detalhes de decoração também desportivos, como os bancos com encosto de cabeça integrados e ajustes manuais que encaixam o corpo na perfeição. Ou o volante forrado a pele perfurada, com pespontos a vermelho e amplas regulações que contribuem para uma posição de condução excelente.
Ambiente premium
Depois há superfícies forradas a Alcantara, frisos vermelhos, iluminação ambiente e várias siglas RS um pouco por toda a parte. Os materiais do topo do tablier e portas da frente são macios e a sensação geral é de um produto quase-premium.

O painel de instrumentos é o digital conhecido de outros modelos do grupo, neste segmento, fácil de ler e com diferentes visualizações. O ecrã tátil central também é componente “standard” do grupo e deixa alguns comandos de fora, num friso mais abaixo.
Na segunda fila de bancos não falta espaço, mas é verdade que o volume dos bancos desportivos subtrai algum comprimento e o lugar do meio tem um grande túnel no piso.
O teste em cidade
Com a bateria a 100% arranquei para o meu habitual teste de cidade, para descobrir quantos quilómetros durava o modo elétrico. E precisei de completar exatamente 50 km para que o motor a gasolina entrasse em ação, assinalando os 0% da bateria.

Fiz “reset” e continuei em cidade para testar os consumos em modo híbrido, com a bateria sem carga. Mostrando que, mesmo nessas condições, o sistema trabalha muito bem como híbrido, os consumos ficaram-se pelos 5,5 l/100 km de gasolina, a que acresceram 1,2 kWh/100 km de eletricidade.

Em cidade, a suspensão e os pneus GoodYear Eagle F1 de medida 225/45 R18 resultam um pouco firmes, quando o piso é imperfeito. Mas nada de escandaloso, porque há amortecimento variável DCC, que resolve a situação no nível mais macio. A direção tem a assistência certa e a rapidez adequada para uma condução despachada em cidade.
Sistema amadurecido
O motor elétrico chega para acompanhar e superar o ritmo do trânsito, com a típica boa resposta no arranque e a baixas velocidades. E o pedal de travão não é difícil de dosear.

Em modo híbrido, a caixa de dupla embraiagem não é muito obediente, quando se usam as patilhas, preferindo seguir a sua própria lógica. O melhor é deixar a alavanca em “D”, pelo menos por agora.
O apelo a levar o Octavia iV RS para uma boa estrada secundária é irresistível, mas, para lá chegar foi preciso percorrer alguns quilómetros de autoestrada, o que serviu para confirmar que a insonorização está muito bem feita.
Poupado em autoestrada
Serviu também para ver que a firmeza da suspensão em cidade não tem paralelo em autoestrada, sobretudo usando o modo Comfort, que deixa a carroçaria oscilar um pouco mais do que eu gosto. Para uma condução normal, o modo Normal, pareceu-me o melhor.

Mas usei o modo Eco para aferir os consumos reais em autoestrada que resultaram num valor de 6,7 l/100 km, rolando a 120 km/h estabilizados e com a bateria a 0%. É o modo que acaba por ter que se usar em deslocações mais longas, mas o consumo é realmente baixo.
Potência variável
Alcançada a tal estrada secundário, foi altura de passar ao modo Sport, que muda o som do motor para outro muito mais alto e grave, talvez um pouco exagerado. A suspensão também passa ao modo mais firme e o ESC ao modo Sport.
Num arranque a fundo, o iV RS fez patinar as rodas motrizes dianteiras antes de o controlo de tração tratar do assunto, mas impeliu o Octavia para diante com determinação. A descarga mista de potência mecânica e elétrica é imediata e praticamente constante até chegar perto do red-line e a caixa passar à relação acima.

Segundo dados da Skoda, os 225 cv estão disponíveis por períodos de 8 segundos consecutivos, depois baixam aos 190 cv, até ao segundo 25 e daí para a frente desce para os 150 cv do motor a gasolina.
Pode parecer pouco, mas, numa estrada secundária não é comum encontrar retas que demorem oito segundos a ser percorridas completamente a fundo.
Há sempre alturas de desaceleração e travagem pelo meio que repõem a potência total. No modo Sport, é o próprio motor a gasolina que atua o gerador para repôr energia na bateria.

Na verdade, este dado é mais útil para quem utilize com frequência os troços sem limite de velocidade das autoestradas alemãs. E, mesmo assim, é preciso ter sorte com o trânsito.
Não é um GTI, mas…
Voltando à minha estrada secundária, o modo Sport torna a assistência da direção artificialmente pesada e tira fluidez à condução. Por isso é bom usar o modo Individual e especificar os parâmetros ao gosto de cada um.

A entrada em curva é relativamente rápida e precisa, mesmo se os pneus da unidade que testei já tinham visto melhores dias, deixando o carro escorregar um pouco de frente.
Mas foi precisamente isso que serviu para mostrar o equilíbrio deste chassis. O escorregamento de frente é fácil de contrariar, preparando a curva de outra forma, colocando a traseira a deslizar ligeiramente, o que faz de forma progressiva, previsível e em reduzida amplitude, para não assustar ninguém.

E essa atitude, não vem acompanhada de significativa inclinação lateral da carroçaria. Quanto ao peso da bateria, colocada atrás, até ajuda a melhor distribuir a massa pelos dois eixos.
Só é pena que a caixa de dupla embraiagem seja pouco obediente, também quando se guia depressa, e que as patilhas sejam tão pequenas, uma crítica habitual no grupo VW. O modo “S” da caixa acaba por ser o que melhor se adapta ao carro. Os travões não mostraram dificuldades especiais.
Conclusão
O Octavia iV RS não é um Golf GTI, mas pareceu-me um pouco mais focado na condução desportiva que o Golf GTE, com o qual partilha a mecânica híbrida. É um desportivo com um travo a premium, daqueles que brilham mais se guiados a 80% das suas capacidades, do que tentando tirar tudo o que têm para dar. Uma opção adulta, que serve para dar mais um passo na imagem da Skoda.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Skoda Octavia iV RS
Potência: 225 cv
Preço: 45 416 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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Teste – Skoda Enyaq 80: elétrico com 611 km de autonomia real