Com a “guerra” que se instalou contra os motores Diesel, o melhor é aproveitar para comprar enquanto é tempo. Esta carrinha Leon 2.0 TDI de 150 cv é uma das melhores opções do segmento. Descubra porquê, em mais um teste do TARGA 67.
Lançada em 2022, não tenho dúvidas em dizer que esta quarta geração do Leon é a melhor de sempre. E não é por comparação com as anteriores, é comparando com a concorrência atual e com o seu “primo”, o Volkswagen Golf.
A Sports Tourer (ST) segue o mesmo caminho, oferecendo uma versão com mais 27 cm de comprimento (chega aos 4,64 m) que o “hatchback” de cinco portas, mas a mesma distância entre-eixos.

Desde logo pelo estilo. O gabinete então liderado por Alejandro Mesonero-Romanos, que entretanto se transferiu para a Alfa Romeo, depois de uns meses na Dacia, acertou em cheio no equilíbrio entre um aspeto desportivo e moderno, numa silhueta convencional.
Carrinha melhor que SUV?
Que as carrinhas ainda continuam a fazer todo o sentido é algo que se percebe assim que se abre o portão de trás, neste caso dando acesso a uma bagageira de 620 litros, com fundo regulável em duas alturas, alavancas para rebater os bancos traseiros à distância e um local para guardar a chapeleira, sob o piso.

A impressão não muda quando se ocupam os lugares da segunda fila, que têm imenso espaço em comprimento para as pernas, portas mais altas que o “hatchback” que facilitam o acesso e bancos confortáveis, nos lugares dos extremos. O lugar do meio é mais estreito, alto e duro, além de ter um túnel no piso.
Alta qualidade
Mas o melhor está nos lugares da frente. A posição de condução desta versão FR beneficia de uns bancos com o compromisso certo entre comodidade e suporte lateral. O volante está muito bem posicionado, com amplas regulações. E a visibilidade é boa em todas as direções, mas falta uma câmara de marcha-atrás.
A sensação de qualidade vem do tipo de materiais usados no interior, com o topo do tablier e das portas de frente em plástico macio, aplicações de efeito metálico e pespontos contrastantes. A montagem parece muito bem cuidada, nada a dever ao Golf.
Ergonomia com falhas
Ainda na ergonomia, o painel de instrumentos digital tem várias configurações possíveis e boa leitura, mas o ecrã tátil central é o mesmo do Golf. Ou seja, tem uma organização difícil de perceber.

Os comandos da climatização estão lá dentro, só deixando de fora a regulação da temperatura e do volume de som, por “sliders” em rodapé que são difíceis de usar e não são iluminados à noite.
Também não aprecio o gatilho que faz as vezes da alavanca da caixa automática de dupla embraiagem e sete relações, por ser lento em manobras e obrigar a olhar para ele de cada vez que se tem de usar.
O melhor 2.0 TDI
Como é óbvio, o condutor vai sentado muito mais baixo que num SUV do mesmo segmento, o que não me pareceu trazer desvantagens óbvias, pelo contrário. Há uma sensação de estar mais integrado no automóvel, sentindo as suas reações de forma mais próxima.

Esta versão é a 2.0 TDI de 150 cv, um dos motores Diesel mais desenvolvidos do mercado, aqui na sua configuração mais simples, sem nenhum tipo de ajudas elétricas. Mas não é preciso muito tempo para perceber que a sua utilização continua a convencer.
Caixa DSG
A alavanca da caixa tem posições “D” e “S” mas começando na primeiro e escolhendo o primeiro modo de condução, entre o Eco/Normal/Sport/Individual, constata-se de imediato que a resposta ao acelerador é excelente.

O mínimo movimento do pé direito no pedal tem uma resposta rápida, suave e linear. E com muito pouco ruído ou trepidação que acompanhava os Diesel no passado.
Claro que a caixa DSG dá uma ajuda, por fazer passagens suaves e atempadas, mesmo no para-arranca, situação em que as transmissões de dupla embraiagem não eram famosas, no passado. Até o sistema “stop/start” funciona no tempo certo e muito suavemente.
A versão FR
A direção é muito assistida, ficando muito leve, o que é bom para manobras e condução em cidade, tendo a desmultiplicação certa e um raio de viragem normal. O comprimento da ST acaba por não ser um problema, mesmo em espaços mais apertados.

A versão FR tem acabamentos com visual desportivo, jantes específicas com pneus 225/45 R17 (uns versáteis Michelin Primacy 4), suspensão mais firme e 10 mm mais baixa que a versão normal. A ideia é dar um tato de condução mais desportivo.
Em cidade, com bandas sonoras, tampas de esgoto desniveladas e buracos um pouco por todo o lado, o resultado é um andamento um pouco firme.

Mesmo com a suspensão traseira independente, a ST não evita alguns solavancos quando o asfalto não é perfeito. Mas sem nunca perder o controlo dos movimentos da carroçaria.
Consumos muito baixos
No meu habitual teste de consumos em cidade, obtive um valor de 6,2 l/100 km, o que é bastante bom, considerando o peso de 1501 kg e a já referida ausência de sistema “mild hybrid”.

Passando à autoestrada, a suspensão FR mostra um controlo excelente da carroçaria a velocidades mais altas, com uma estabilidade que transmite imensa confiança, mostrando grande aptidão para fazer viagens longas com todo o conforto.
A 120 km/h estabilizados, claro que o motor Diesel se faz ouvir um pouco mais, mas é mesmo só um pouco. O ruído de rolamento acaba por ser o mais notado, mais que os silvos aerodinâmicos.

Estabilizado a essa velocidade, sempre com o A/C desligado, o meu teste de consumos revelou um valor de 4,5 l/100 km em autoestrada, o que é excelente e mostra como os bons motores Diesel continuam a ser uma referência em termos de economia de combustível.

Com o depósito de 45 litros cheio de gasóleo, a autonomia em autoestrada, rolando a 120 km/h, chega aos 1000 km, antes de entrar na reserva.
Quase desportivo
Atendendo à conotação da sigla FR, não podia deixar de testar este Leon ST numa estrada secundária com traçado sinuoso. Passei ao modo Sport (algures no meio dos menus do infotainment) e ganhei maior sensibilidade no acelerador e uma direção menos assistida, ficando com o “peso” certo.

A caixa de velocidades tem patilhas no volante, infelizmente demasiado pequenas, mas são obedientes, sobretudo nas reduções a regimes um pouco mais altos. O motor 2.0 TDI mostra as suas qualidades de sempre, quando se leva o conta-rotações ao “red-line”.
Os 150 cv são atingidos às 3000 rpm, mas o motor aguenta-se com força até um pouco acima das 4000 rpm, aqui já com o som Diesel mais presente.
A Seat anuncia uma aceleração 0-100 km/h em 8,8 segundos, para esta versão, bem como uma velocidade máxima de 217 km/h.
Tudo sob controlo
A sensação de força do motor fica evidente, mesmo à saída de curvas mais lentas, quando se acelera forte a partir de regimes baixos, fruto de um binário máximo de 360 Nm às 1700 rpm, ou seja, não há tempo de resposta digno desse nome.

A tração às rodas da frente não mostra nenhum tipo de dificuldade em pôr esta força no chão e puxar o Leon ST para diante com excelente vigor. E o incentivo para uma condução mais rápida, está dado.
Os travões são mais que suficientes para suportar travagens fortes suvessivas. A direção tem boa precisão e rapidez, apesar de não ser um exemplo de comunicação com as mãos do condutor.
Comportamento muito bom
A suspensão da frente usa bem os pneus para oferecer uma boa resistência à subviragem, autorizando assim entradas em curva a velocidades relativamente altas. A inclinação lateral que se segue também não é exagerada, parecendo que nada aqui se faz com esforço.

Exagerando um pouco, o ESC acaba por entrar em ação, mas sempre de forma suave e discreta, para ajudar, não para recriminar. E até deixa que a traseira deslize uns poucos graus, se o condutor a provocar deliberadamente.
Ao fim do “troço” fica a impressão que esta configuração FR volta a mostrar como a Seat soube estabelecer um equilíbrio muito bom entre uma utilização familiar e a possibilidade de uma ou outra “escapadela” por estradas com mais curvas, com a certeza de que o condutor vai de lá sair satisfeito com o exercício e com a sensação que não esforçou o material.
Conclusão
O desprezo a que os motores Diesel estão a ser sujeitos por alguns, é difícil de perceber. Não só do ponto de vista da utilização e consumos mas também das emissões de CO2: este 2.0 TDI emite 119 g/km, enquanto o mesmo carro como o motor 1.5 TSI a gasolina com a mesma potência e a mesma caixa, emite 131 g/km. Por isso, esta é a altura de aproveitar, enquanto os legisladores não se lembram de aplicar mais alguma taxa específica aos motores a gasóleo.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Seat Leon ST 2.0 TDI DSG FR
Potência: 150 cv
Preço: 38 982 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)
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