Os ovos são todos iguais, a diferença está na maneira como se cozinham e como se faz o empratamento. Mas o que é que ovos e omeletes têm a ver com o novo Opel Mokka?…
Sem ovos… não se fazem omeletes. Todos conhecem a expressão, cujo oposto nem sempre é verdadeiro: com muitos e bons ovos, nem sempre as omeletas saem perfeitas. Tudo depende dos cozinheiros.
Mas como esta analogia já está a cheirar a esturro, o melhor é explicar o que estou a dizer. Para quem não sabe, a Opel foi comprada pela PSA, que depois foi integrada na Stellantis, uma empresa que hoje tem 14 marcas de automóveis na Europa e EUA.

Por que não acabou com uma quantas, para simplificar? Porque nem todas as marcas têm a mesma força em todos os mercados. Para maximizar as vendas, é preferível manter as marcas que sejam fortes no maior número de mercados.
A força da Opel alemã
A Opel é forte na Alemanha, mercado em que muitos compradores a preferem por ser uma marca de origem alemã; nunca comprariam um carro de uma marca de outro país. Apesar de ter sido propriedade da GM durante nove décadas.
A Vauxhall é forte do Reino Unido, mais ou menos pelos mesmos motivos e apesar de os seus modelos serem iguais aos Opel, desde os anos setenta. O que não parece estar prestes a mudar.
Uma nova linguagem de estilo de que o Mokka foi o primeiro novo modelo a beneficiar
São razões mais do que suficientes para a Stellantis reforçar a presença da Opel. O que fez com uma nova linguagem de estilo de que o Mokka foi o primeiro novo modelo a beneficiar.
Opel Vizor vem do Manta
A Opel chama Vizor à frente negra, fechada numa moldura, inspirada no primeiro Opel Manta, mas que hoje serve para esconder os sensores necessários aos sistemas de ajuda à condução e aos LED que servem de faróis.

A explicação vem do gabinete de estilo da Opel e surgiu após uma “visita de estudo” ao seu museu, em busca da essência da marca. A ordem tinha vindo de Carlos Tavares: “tragam maior dinamismo ao desenho e alguma coisa de sexy.”
O resultado é polarizador. O Mokka ficou com uma frente misteriosa, muito diferente de tudo o que se vê na estrada. Mas Tavares deve ter gostado, pois todos os Opel estão a adotar (rapidamente) esta nova face de família.

Se o objetivo era diferenciar os modelos da marca, o alvo foi atingido. Se era cortar com o desenho anónimo de alguns modelos do passado, isso também foi conseguido.
Os mesmo “ovos”
A mim, agrada-me mais o desenho do perfil, a ilusão de uma enorme altura ao solo; e a traseira com ares de SUV-Coupé. Sobretudo, agrada-me a maneira como os ovos foram cozinhados.
Partilhando a plataforma CMP, motores incluídos, com o Peugeot 2008 a verdade é que a Opel conseguiu fazer uma omelete muito diferente, tanto por fora como por dentro.

O habitáculo tem um ambiente igualmente original e distinto, com um excelente painel de instrumentos digital e um monitor tátil central na continuidade. Os botões da climatização estão mais abaixo, num módulo separado e fácil de usar.
A decoração interior também é mais ousada que no 2008, mostrando como a Opel quer atrair clientes mais novos. A qualidade de construção é equivalente, mas o 2008 inclui alguns materiais de melhor aspeto.
Um B-SUV diferente
O espaço nos lugares de trás é razoável para dois adultos. A entrada e saída obriga a levantar bem as pernas, pois as embaladeiras são altas, porque o piso está apto a receber as baterias da versão elétrica.
O condutor tem direito a um banco firme mas com bom apoio lateral, só lhe faltando um pouco mais de comprimento no assento. O volante está bem colocado e tem ajustes amplos. A posição de condução é um pouco mais alta que num Corsa.

A unidade que guiei estava equipada com a caixa automática de conversor de binário e oito relações, acoplada ao motor 1.2 Turbo de três cilindros (130 cv) e tração às rodas da frente, tudo material bem conhecido de outros modelos da PSA.
A prova da “autobahn”
As diferenças estão na afinação da suspensão, que aqui trabalha com pneus 215/55 R18. É uma afinação mais firme que no 2008, como o exigem os condutores alemães. Qualquer carro, para ter sucesso na Alemanha, tem que transmitir total confiança na prova da “autobahn”.
Que prova é essa? Uma mudança relativamente brusca de faixa de rodagem em autoestrada, quando se viaja às altas velocidades admitidas em algumas partes das autoestradas alemãs. E para fazer isso, sem grandes oscilações de carroçaria, é preciso uma suspensão firme, mais ainda no caso de um B-SUV.
Em autoestrada, registou um consumo de 5,8 l/100 km, rolando a 120 km/h
Nas autoestradas nacionais, em que o limite é muito mais baixo, o Mokka faz isso com total estabilidade e controlo, como seria de esperar. O motor também mostra uma boa economia, registando um consumo de 5,8 l/100 km, rolando a 120 km/h.
Menos conforto
Claro que o conforto se ressente nas ruas mais estragadas da cidade, ou sobre tampas de esgoto desniveladas, que há por todo o lado. Ainda assim, o Mokka não é demasiado desconfortável.
A maior crítica vai para os safanões da direção, quando se apanha mau piso a meio de uma curva. Fora essa situação, a direção tem um tato bom.

O som do três cilindros está bem isolado e as tonalidades que entram no habitáculo nem são desagradáveis, quando se puxa mais pelas rotações. A andar devagar, em cidade, o motor tem sempre resposta pronta, ajudado pela caixa automática.
Em condução normal, a caixa faz bem o seu papel, com passagens suaves e atempadas, melhor que a maioria das caixas de dupla embraiagem.

A única crítica surge nas manobras, devido à lentidão de resposta do botão mínimo e “enterrado” na consola, que substitui a alavanca tradicional. Guiando em modo Eco, o consumo que obtive foi de 7,7 l/100 km, sempre com o A/C desligado.
Afinação diferente
O acerto diferente da suspensão e direção notam-se também em percursos com mais curvas. Passando pelo modo de condução Normal e ficando no Sport, o Mokka tem um bom controlo dos movimentos da carroçaria e resposta mais rápida do acelerador.

Aumentando o ritmo em sequências de curvas médias, a frente resiste muito bem à subviragem e mantém a frente na linha escolhida. E quando começa a escorregar de frente, isso acontece sobretudo devido ao tipo de pneus usados (Michelin Primacy 4), que não revelaram muita aderência, mesmo em piso seco.
Também é divertido
Para condutores que procurem um pouco mais de diversão, o Mokka também sabe agradar. Bem provocado na entrada em curva, com uma desaceleração brusca logo após rodar o volante, o eixo de torção deixa a traseira deslizar um pouco, sem chamar de imediato pela ajuda do ESC.
Numa condução mais rápida, o comando da caixa através das patilhas no volante, nem sempre é tão obediente como gostaria. Mas quando faz o que peço, é rápido e suave.
Tudo somado, devo dizer que prefiro este acerto de suspensão do Mokka ao do 2008, com o Peugeot mais centrado no conforto. Mas não me custa admitir que o 2008 agrade a mais condutores.
Conclusão
A Stellantis deu mais uma lição de como fazer boas e diferentes omeletes com os mesmos ovos. Para quem não saiba, não vai ser fácil perceber que o Mokka e o 2008 partilham tantos componentes fundamentais. E isso só pode ser visto como um elogio.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Opel Mokka 1.2 Turbo auto
Potência: 130 cv
Preço: 23 905 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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