Seguindo o programa de utilização do nome Colt no Renault Clio, no âmbito da Aliança que une Mitsubishi, Renault e Nissan, a marca dos três diamantes arrisca a comercialização da versão 1.0 MPI de 65 cv. É a motorização mais simples do Grupo Renault, mas será que chega, nos tempos que correm?



















São poucas as opções do mercado que oferecem um motor 1.0, neste caso de três cilindros, sem turbocompressor e com apenas 65 cv de potência máxima. É a expressão mínima do motor do Grupo Renault, o mesmo bloco que, quando turbocomprimido, atinge os 90 cv e se torna na motorização mais popular do Clio. A Renault não dá grande destaque a esta versão atmosférica, porque parece não haver grande curiosidade por parte dos consumidores.
Motor pouco divulgado
Nem na gama Dacia, esta versão de baixa potência tem alguma visibilidade. Mas a Mitsubishi não pensa da mesma maneira e resolveu introduzir este tricilíndrico na sua renovada gama Colt, que recebeu um restyling recente, em paralelo ao mesmo exercício que foi aplicado ao Clio. O Colt ganhou um desenho diferente da frente, um pouco mais identificativo da marca japonesa, mas aqui ninguém quer enganar ninguém: o Colt é assumidamente igual ao Clio, apenas com símbolos diferentes e uma grelha com outro desenho.

A operação foi assim montada, de forma a causar o mínimo de distúrbio na fábrica da Renault e dar à Mitsubishi uma gama de dois modelos (o ASX é um Captur…) que lhe permitiu manter-se na Europa. A opção, que tinha sido anunciada antes desta operação proposta pelo Grupo Renault, era mesmo a retirada completa dos mercados europeus. Sendo assim, tudo aquilo que já escrevi aqui no TARGA 67 sobre a mais recente versão do Clio e do Colt se mantém sem alterações e será, por esta altura, bem conhecido de todos.
Restyling a propósito
O desenho da quinta geração do Clio, lançada em 2019, foi muito bem atualizado neste restyling e o mesmo se pode dizer do Colt. Boas proporções e detalhes com personalidade num utilitário de 4,05 metros, aqui equipado com pneus de medida 185/65 R15, em jantes com tampões de plástico, mais que suficientes para a performance disponível.

Com 2,58 metros de distância entre-eixos, o Colt tem espaço suficiente em comprimento na segunda fila de bancos para dois passageiros, com o terceiro a ser uma presença mais ocasional, até porque existe um túnel no piso que atrapalha um pouco.
Boa posição de condução
Os bancos da frente são simples mas confortáveis e com apoio lateral suficiente. O volante de três raios forrado a pele tem um diâmetro grande, mas está muito bem posicionado, tem uma pega anatómica, botões físicos fáceis de usar e ajustes amplos. A alavanca da caixa manual de cinco relações está muito bem posicionada, um pouco mais alta do que é a norma.

A posição de condução resulta assim confortável e eficiente, com um painel de instrumentos digital muito básico mas fácil de ler. O mesmo se pode dizer do pequeno monitor tátil central, que tem câmara de marcha-atrás, útil pois a visibilidade para trás não é muito boa. Os comandos da climatização são botões redondos físicos e grandes colocados no meio da consola e muito fáceis de usar. No meio dos dois fica um pequeno teclado para funções de acesso urgente.
Kyoto na base
Nesta versão base que a Mitsubishi chama Kyoto, todos os plásticos do interior são de toque duro, como seria de esperar, mas não é por isso que o ambiente a bordo parece demasiado barato. Do equipamento faz parte o botão “engine start” e ainda o cartão de acesso sem chave, típico dos Renault.

O teste começou em cidade e as primeiras impressões chegam dos comandos principais. A direção é um pouco assistida em excesso, para o meu gosto, mas está bem desmultiplicada e revela-se precisa o suficiente no meio do trânsito. A caixa manual de cinco relações é pouco rápida e um pouco ruidosa, mas tem um escalonamento curto para aproveitar bem o motor.
Motor suave
Na verdade, a resposta do motor é muito linear desde baixos regimes. Claro que não tem aquele acréscimo de força quando chegam as 2000 rpm, ao contrário da versão turbocomprimida. Mas tem uma subida de regime suave que a caixa aproveita bem e se mostra adequada para uma condução descontraída em cidade. Em nenhuma altura se nota falta de potência e os 95 Nm às 3600 rpm mostram-se surpreendentemente suficientes.

O som do tricilíndrico sem turbo parece até ter uma personalidade mais agradável ao ouvido, nunca sendo fonte de incómodo. Bom e fácil o doseamento do pedal de travão, contribuindo para uma condução em meio urbano sem stress, até porque os pneus compensam um pouco a firmeza da suspensão em mau piso, nunca resultando desconfortável. Neste terreno, os 65 cv e esta caixa são suficientes.
Consumos baixos
No meu habitual teste de consumos reais em cidade, TARGA 67, sempre feito com o A/C desligado, registei um valor de 5,5 l/100 km, um número muito bom para um utilitário que pesa 1028 kg.
Em autoestrada, a velocidade estabilizada de 120 km/h e também com o A/C desligado, o consumo real que registei foi de 5,4 l/100 km, mais uma vez um valor muito bom e que mostra como a caixa de velocidades está realmente bem escalonada em todas as suas relações.

Um pouco de ruído aerodinâmico, menos de rolamento dos pneus e algum oriundo da transmissão são as notas que tomei durante o teste em autoestrada. Claro que as retomadas de aceleração não são brilhantes, mas o motor suporta a relação mais longa na maioria das subidas. A suspensão é muito estável, com poucos movimentos parasitas da carroçaria e boa absorção de lombas ou depressões do piso. A velocidade máxima é de 160 km/h.
Muito boa dinâmica
Com uma aceleração 0-100 km/h de 17,1 segundos, claro que não se podem esperar grandes emoções numa estrada secundária. Mas a plataforma e a suspensão do Clio/Colt mostra que a performance máxima não é tudo. A suspensão tem um excelente controlo de massas nas mudanças de direção rápidas, como nas entradas em curva.

O equilíbrio entre a aderência e a potência está no ponto certo, de forma que não é difícil encontrar um intervalo de agilidade que torna a condução envolvente. Nunca há inclinação excessiva em curva, nem subviragem terminal. E até é possível convencer a traseira a fazer pequenas derivas. O mais difícil são mesmo as subidas, que obrigam a uso intensivo da caixa de velocidades.
Conclusão
Nos dias de hoje, uma potência de 65 cv num utilitário pode parecer insuficiente. Mas com uma caixa de cinco velocidades bem escalonada e um motor suave a subir de regime, tudo resulta melhor do que o esperado. Claro que a suspensão sobredotada é uma grande vantagem, ajudando a provar que a escolha de um motor 1.0 sem turbocompressor, aliado a uma caixa de velocidades manual ainda é uma solução que pode ser muito adequada, além de ser de muito maior simplicidade, o que inspira maior fiabilidade a longo prazo.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Mitsubishi Colt 1.0 MPI Kyoto
Potência: 65 cv
Preço: 18 990 euros
Veredicto: 3,5 estrelas
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Primeiro Teste – Mitsubishi Colt 1.0 MPI-T: Regresso 10 anos depois