É uma daquelas séries especiais para dinamizar as vendas de um modelo que se aproxima do fim de ciclo. Chama-se Resolute Edition e foi a proposta que a Mini me fez para voltar a testar o Cooper S Cabrio. Como resistir?…
Esta é a terceira geração do “novo” Mini, desde que foi lançado pela BMW. Começou a ser vendida em 2014 e já leva dois “restylings”, o último aplicado nos finais de 2021. A sua carreira aproxima-se do fim, diria mesmo que já vai no prolongamento, graças ao bom desempenho das versões elétrica e JCW.
O que tenho hoje para testar é a versão cabrio, um dos poucos descapotáveis deste tamanho que restam no mercado. Na verdade, um dos poucos descapotáveis feitos com base num modelo fechado, seja qual for o segmento.

O Mini Cabrio continua a ter o seu charme, disso não há dúvidas, e continua a ser uma opção que junta muitas coisas: ser descapotável, compacto, premium e não custar uma fortuna. Além de ter um estilo único e uma dinâmica que já se tornou numa “religião.”
Resolute Edition
Ainda assim, a Mini decidiu reforçar a oferta com uma série especial a que chamou “Resolute Edition” e que está disponível também nas carroçarias de três e cinco portas e ainda na versão 100% elétrica.
As diferenças são de detalhe, com o objetivo de propor uma série especial que una o imaginário do antigo Mini com alguns “tiques” de modernidade. É tudo uma questão de decoração, mas vale a pena olhar para os detalhes.

Por fora, o Resolute vem pintado de “rebel green” um tom particularmente escuro de verde, com faixas de capót num padrão creme. Depois há aplicações de preto brilhante na grelha, capas dos retrovisores e também jantes negras, com pneus Pirelli PZero 205/40 R18.
Bronze e têxteis
Mais interessante é a substituição dos cromados por acabamento em cor bronze, que se pode ver nos aros dos faróis e das luzes de trás (ambos em LED), moldura da grelha, puxadores das portas e da tampa da mala.

Por dentro, as diferenças são os revestimentos têxteis dos bancos, num padrão de xadrez claro, evocativo da estética dos anos 60. Tudo somado, o resultado podia ser “piroso”, mas não é.
Claro que também há pequenos ajustes de equipamento, com reforço de funções de conetividade e de ajudas eletrónicas à condução. Mas não é muita coisa, pois a política de opcionais da Mini não muda só porque um modelo está a chegar ao fim.
Cooper S com 178 cv
A motorização que usei para este teste foi o Cooper S, para quem já não se lembra, trata-se do motor 2.0 turbo de quatro cilindros da BMW, aqui com 178 cv e 280 Nm.

A “minha” unidade estava equipada com a caixa automática de sete relações e dupla embraiagem, com patilhas no volante.
A Mini anuncia a aceleração 0-100 km/h em 6,9 segundos, perdendo 0,3 segundos para o Cooper S fechado, com a mesma caixa, pois o peso sobe 100 kg no cabrio.
Mini ainda é mini
Com 3,8 metros de comprimento, o Mini é 25 cm mais curto que um VW Polo ou Renault Clio e isso nota-se bem olhando para a posição das rodas traseiras, que a suspensão independente coloca bem no extremo da traseira.

Claro que a mala é pequena, na versão fechada tem 211 litros acessíveis através de um portão vertical. No cabrio, o volume máximo é de 215 litros, mas desce aos 160 litros quando se recolhe a capota.
A tampa da mala abre para baixo, no cabrio e, para facilitar o acesso, o extremo posterior da capota pode levantar-se uns centímetros, libertando duas alavancas dentro da mala. Muito engenhoso, mas a capacidade continua a ser o que é.
Capota elétrica
A capota de lona tem acionamento elétrico que a recolhe ou ergue em andamento abaixo dos 30 km/h. Tem uma posição intermédia, em que funciona como tejadilho de abrir e um botão para descer ou subir os quatro vidros de uma só vez.

Comecei o teste em cidade, como é hábito e as sensações que marcam a diferença do Mini para outros utilitários chegam de imediato. A começar pela posição de condução, muito baixa e com o para-brisas mais vertical e longe do que é normal.

Mas o volante está bem posicionado e tem regulações amplas, apesar de o aro ser demasiado grosso e os botões táteis facilmente se accionarem sem querer. O banco tem bom apoio lateral, apesar de ser curto.
Ambiente premium
O ecrã tátil central é retangular e tem 8,8”, estando colocado no meio de um enorme círculo ao centro do tablier, a fazer lembrar o velocímetro do Mini original. E tem comando à distância através de um botão junto ao travão de mão.

O travão de mão não é elétrico, ocupa espaço e impede a presença de mais e maiores porta-objetos na consola horizontal.
Pelo meio fica a consola com vários botões balanceiros, o do meio liga o motor, outro desliga o ESC e um outro serve para escolher os modos de condução: Green/Mid/Sport.
Menos espaço por dentro
Comecei no modo Green, que é o equivalente ao Eco noutros modelos. Mas antes disso não poderia deixar de apreciar a boa qualidade dos materiais usados no habitáculo, dignos de serem classificados como premium.

Ou o painel de instrumentos mínimo, que fica atrás do volante e tem superfície anti-reflexo, ainda assim, difícil de ler com a capota aberta.
Nos lugares da frente há muito mais espaço do que se poderia pensar, nos de trás só há dois lugares, mais apertados que na versão fechada, devido aos reforços de estrutura de que o cabrio precisa.
Green em cidade
Em modo Green, circulando em cidade, a direção começa por se mostrar mais pesada do que hoje é norma, mas isso contribui para o tato de condução único do Mini. A resposta do acelerador não é muito viva, mas a caixa é suave e tem critério em modo “D”.

Claro que a suspensão firme e os pneus de baixo perfil não têm o conforto como prioridade, ou não fosse este um Cooper S. Pode dizer-se que isso faz parte da experiência, mas é preciso uma certa mentalização, sobretudo nos pisos em pior estado.
E quanto gasta?
Como na maioria dos cabrios, também no Mini se notam trepidações da estrutura e da coluna de direção, sempre que o piso não é perfeito. É o preço a pagar por ter uma carroçaria totalmente descapotável, sem aro de segurança a meio.

No meu habitual teste de consumos em cidade, obtive um valor de 7,8 l/100 km, que se aceita, tendo em conta o tipo de motor que equipa este Cooper S.
Em autoestrada, com a capota fechada, A/C também desligado e sempre em modo Green, o consumo desceu para os 6,5 l/100 km, dando ao Mini cabrio uma autonomia, neste tipo de condução, de 615 km.

A caixa automática faz “vela” (fica em ponto-morto) quando se desacelera em descidas pouco íngremes ou mesmo em plano, poupando alguma gasolina.
Modo descapotável
Em autoestrada, o isolamento da capota não é perfeito, deixando ouvir ruídos aerodinâmicos com alguma amplitude. A suspensão dá-se bem com a autoestrada, mantendo o Cooper S muito estável e controlado e sem as oscilações longitudinais que ocorrem em carros curtos.

Saindo para uma estrada secundária, o primeiro teste tinha que ser o da capota. Primeiro passo, puxar o botão acima do retrovisor interior e assistir à coreografia elétrica que armazena a lona dobrada em “Z” dentro da mala. O problema é que metade fica de fora e quase anula o uso do retrovisor interior.
Proteção ou diversão?
Deixando os quatro vidros subidos, a proteção contra turbilhões é mais que razoável, nos lugares da frente e pior nos de trás. Baixando os quatro vidros, os ocupantes da frente suportam bem velocidades abaixo dos 90 km/h, mas os de trás já vão a sofrer um pouco.

Existe uma rede anti-ventos que se pode colocar atrás dos bancos da frente e que os protege bem, mas impede que alguém se sente atrás. Outra hipótese, para horas de muito calor, é descer os quatro vidros e deixar a capota erguida. Existe até um cronómetro que indica quantas horas seguidas já se andou com a capota aberta, para evitar excesso de exposição.
A dinâmica “tipo kart”
Para procurar a famosa dinâmica “tipo kart” do Mini Cooper S, preferi fechar a capota e os vidros, passar ao modo Sport e usar as patilhas do volante. Devo dizer que a primeira aceleração a fundo não impressionou muito, talvez porque as passagens de caixa são muito suaves, talvez porque o som do escape não é tão divertido como já foi.

Ainda assim, as recuperações são boas e o motor não tem regimes em que seja muito pior que nos outros. A direção é precisa e rápida, sem nervosismos, percebendo-se agora a razão de não ser leve. Os travões são fáceis de modular e potentes.
A questão da rigidez
O comportamento dinâmico varia de acordo com o estado do piso. Em pavimentos perfeitos, é possível jogar com a ligeira subviragem e a sobreviragem provocada para aproveitar a agilidade do Cooper S, com o motor a ganhar brio perto do “red-line”.

Se o piso for menos que perfeito, a menor rigidez estrutural do cabrio retira-lhe consistência. As reações da traseira às desacelerações bruscas na entrada em curva, variam consoante o piso, com o Mini a “saltar” mais do que devia.
Conclusão
O cabrio não é o Cooper S perfeito para “atacar” uma estrada de montanha. O peso e a menor rigidez não o permitem. Mas aquilo que oferece para quem gosta de descapotáveis pode compensar, tanto mais que as performances em linha continuam a ser boas. Passeios rápidos com a caixa em “S” é a melhor maneira de o utilizar, como acabei por concluir.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Mini Cooper S Cabrio Resolute Edition
Potência: 178 cv
Preço: 44 872 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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Teste – Mini Cooper SE: O mais divertido dos pequenos elétricos?