Será que uma motorização 100% elétrica faz sentido, numa pick-up de trabalho? Para procurar resposta à pergunta, a Maxus T90 EV chinesa passa pelo Teste TARGA 67, conduzida pelo Francisco Mota e fotografada pelo João Apolinário.
A Tesla Cybertruck fez o mundo inteiro falar da eletrificação das pick-up, se bem que numa abordagem mais recreativa do que propriamente funcional. E com a dúvida, que ainda não foi dissipada, se será ou não ser vendida na Europa.

Por isso, a primeira pick-up 100% elétrica a chegar ao mercado português foi mesmo a chinesa Maxus T90 EV RWD. O novo modelo da marca Maxus, que entrou pela porta dos comerciais e pela mão da Astara no nosso país em 2021. Neste momento, a Maxus já está em vinte pontos de venda espalhados pelo país
Lançada em 2021 na China
A pick-up T90 foi lançada no seu mercado doméstico em 2021, com versões movidas a motor de combustão e esta versão elétrica a partilharem a mesma estrutura.
Uma estrutura totalmente clássica de chassis separado da carroçaria, feito de longarinas e travessas, com 5,365 metros de comprimento e disponível em cabine dupla.

A bateria de 89 kWh de capacidade está montada neste chassis, bem como o motor elétrico, que move as rodas traseiras apenas. O peso total é de 2300 kg e a carga máxima de 1000 kg.
Os números principais
A bateria de iões de Lítio tem 8 anos de garantia ou 100 000 km e pode ser carregada a um máximo de 80 kW DC, demorando, nessas condições, 45 minutos para ir dos 0 aos 80% de carga. Em 11 kW AC, demora 7h30 para fazer uma carga completa. A Maxus anuncia uma autonomia WLTP em ciclo misto de 330 km e de 471 km, em ciclo urbano.

O motor elétrico tem 130 kW (177 cv) e um binário máximo de 310 Nm, o que permite anunciar uma aceleração 0-100 km/h em 12,3 segundos e atingir os 120 km/h de velocidade máxima. Este são os números principais.
Estilo americano
Em termos de estilo, a T90 é bastante conservadora, com a grelha de efeito metálico dianteira de grandes dimensões a ser o ponto mais identificativo, numa clara evocação das pick-up americanas de maiores dimensões. Não há um compartimento sob o capôt para guardar os cabos da bateria, que assim andam em bolsas entre os p´s dos passageiros o banco de trás.

Por dentro, a perceção de qualidade não é muito alta. Os plásticos usados são duros e o desenho do habitáculo relativamente básico. Não há requinte, a preocupação foi para a utilidade. O que há é bom espaço na segunda fila, apesar de as costas dos bancos serem bastante direitas, resultando pouco confortáveis.
Na frente, também não falta espaço, a posição de condução é alta, como habitualmente numa pick-up deste porte, tornando os estribos realmente úteis para subir. Curiosamente, apenas nos pilares de tejadilho da porta do condutor não há pegas para içar o corpo, tendo que se usar o aro do volante.
Sem pretensões
É razoável a colocação relativa do banco, que é confortável, dos pedais e do volante, que precisava de maior ajuste em alcance. A visibilidade é boa, mas o diâmetro de viragem grande não facilita manobras nem condução em espaços estreitos.

O painel de instrumentos é analógico, sendo adaptado da versão com motor de combustão: o ponteiro da carga da bateria é o usado para o nível de gasolina no depósito. No meio tem um computador de bordo com indicação da autonomia restante e consumos.
O ecrã central tátil é pequeno e muito básico, mas fácil de usar e dotado de Apple Carplay e Android Auto. A transmissão comanda-se através de um botão rotativo, mais abaixo na consola, com as habituais posições D, N, R pois o P fica a cargo de um convencional travão de mão de alavanca.
A climatização tem um módulo separado a meia altura, mas os botões são táteis, obrigando a desviar os olhos da estrada. O sistema põe-se a funcionar rodando uma tradicional chave, num canhão e o motor mostra-se ruidoso.
Pouco confortável
A primeira impressão de condução vem da direção, muito desmultiplicada e muito assistida, com pouco tato. A segunda vem da suspensão de braços sobrepostos, na frente e de eixo rígido com molas semi-elípticas, atrás. Desde que o pavimento não seja perfeito, os ocupantes são vigorosamente sacudidos. Basta passar por cima de uma banda sonora.

Os travões não são muito fáceis de modelar e não há regulação da intensidade da regeneração na desaceleração. Mas o nível escolhido é adequado a uma condução em cidade ou estrada. Também não há função “one-pedal”.
Mas há a possibilidade de escolher entre três modos de condução: Normal/Eco/Power, que fazem variar a sensibilidade do acelerador em três níveis, com razoável diferença entre eles. O nível mais económico tem resposta suficiente para condução em meio urbano, o binário disponível é adequado ao peso.
Um “bug” no sistema
No meu habitual teste de consumo em cidade, feito com o A/C desligado e em modo Eco, o computador de bordo acabou a marcar sempre o mesmo valor: 18,6 kWh/100 km, algo que se iria repetir em autoestrada. Certamente um “bug” no sistema. Por isso não tive maneira de obter valores reais.

Em autoestrada, a 120 km/h estabilizados e ainda em modo Eco, tentei usar o indicador de consumo instantâneo para obter algum valor e consegui estabilizar nos 39 kWh/100 km durante algum tempo. Um valor muito alto, mas que também não posso garantir que seja representativo.
Muito agitada
Em reta, em autoestrada, a direção é pouco precisa em torno do ponto neutro, obrigando a correções constantes. Sentem-se variados ruídos aerodinâmicos e também alguns provenientes do rolamento.
Em estradas secundárias, a direção vaga não ajuda e os movimentos da carroçaria em curva são amplos e transmitem pouca confiança para explorar um pouco mais a boa força do motor elétrico.

Nem é preciso exagerar muito na entrada em curva para surgir subviragem. E basta acelerar com um pouco mais de força, à saída, para que seja a traseira a sobrevirar de forma pouco progressiva, antes de o ESC entrar em cena com algum “alarido”.

Testei a T90 também em estradas de terra, com algumas rochas, notando-se que o chassis está muito mais “à vontade” nestas condições, mas sempre com o desconforto típico da suspensão traseira e com a limitação da tração apenas às rodas de trás, apesar de ser fácil dosear o binário. Os pneus de medida 245/65 R17 desta unidade também estão mais vocacionados para o asfalto.
Conclusão
A Maxus T90 EV é uma pick-up muito conservadora, para não dizer antiquada, nas soluções de construção base que emprega e que tornam a condução pouco confortável e pouco tranquila. A parte elétrica não é a mais criticável, se bem que as autonomias anunciadas são relativamente curtas e as prestações modestas. Mas a mira deste modelo está mais apontada para uma utilização muito específica, por alguns organismos públicos, do que para o comprador privado.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Maxus T90 EV RWD
Potência: 177 cv
Preço: 81 396 euros
Veredicto: 2 estrelas
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