A Maserati entra nos eletrificados com a versão “mild hybrid” do SUV Levante, usando a mesma solução já conhecida do Ghibli. Testei-o em Portugal para descobrir o que se ganha face ao Diesel que substitui.
O Levante foi lançado em 2016 e levou a Maserati para o mercado dos SUV de grandes dimensões. Não parece, mas o comprimento chega aos cinco metros. O lançamento desta versão “mild hybrid” serve para completar a oferta com uma versão de base mais económica que as versões com motor V6 e V8, substituindo o Diesel.
O estilo assenta numa silhueta de SUV-Coupé e num capót dianteiro muito longo. As linhas seguem a mesma linguagem estética das berlinas da Maserati, com uma enorme grelha dianteira onde o tridente tem destaque.

Esta versão “hybrid” tem um sublinhado a azul-cobalto nos símbolos dos pilares traseiros, nas guelras atrás das rodas da frente e nas maxilas dos travões.
É um desenho que tem resistido bem ao passar dos anos e que levou recentemente algumas atualizações, por exemplo nas luzes de trás, nos para-choques e na coleção de jantes disponíveis.

Este Hybrid está disponível com o nível de equipamento GT, a que se pode adicionar o pacote Sport, que inclui patilhas, volante e bancos desportivos. E depois ainda há uma longa lista de opcionais.
Um “mild hybrid” especial
Para o seu primeiro SUV híbrido, a Maserati começou com um sistema “mild hybrid”, ou seja, um mini-híbrido em que a parte elétrica apenas dá uma ajuda ao motor a gasolina, não move o Levante só a eletricidade.
O motor 2.0 turbo de quatro cilindros é feito em Itália, tem 330 cv de potência máxima e 450 Nm de binário máximo. A parte elétrica inclui um motor/gerador de 48V que substitui o alternador. Em aceleração, auxilia o motor a combustão; e em desaceleração gera energia que é armazenada numa bateria colocada sob o piso da mala.

A Maserati aproveitou a rede de 48V e juntou um “eBooster” ao motor. Trata-se de um compressor accionado por um motor elétrico, que serve para compensar o tempo de resposta do turbocompressor a baixos regimes. Também dá uma ajuda nas recuperações e mesmo no regime máximo.
Com tudo isto, a Maserati anuncia uma redução de 20% nas emissões de CO2, comparando com o motor V6 a gasolina de 350 cv e menos 8% que o motor V6 Diesel.
Luxo à italiana
No habitáculo há poucos detalhes para identificar a versão híbrida, a não ser os tridentes bordados a azul nos encostos de cabeça e um indicador de carga e descarga da bateria ao centro do painel de instrumentos. Um painel que ainda usa agulhas, não é 100% digital.

O ecrã tátil central de 8,4 polegadas é a última evolução da marca e inclui o sistema operativo Android Automotive, que suporta o MIA – Maserati Intelligent Assistant. Tem acesso à Amazon Alexa, permite criar um hotspot Wi.Fi e fornece informações de trânsito em tempo real.
O ambiente do habitáculo continua luxuoso e apelativo, numa interpretação bem italiana. A maioria dos materiais está revestida a pele e isso explica muita coisa.
Alguns detalhes melhoráveis
Críticas são de detalhe: a alavanca da caixa, o botão para ligar o motor e os comandos da parte dinâmica mereciam outra atenção e qualidade.
De resto, com estas dimensões, não falta espaço a bordo, mas o banco de trás está pensado para dois, não para três ocupantes. A mala tem 580 litros, o que não é brilhante a este nível.

Antes de começar a guiar é preciso escolher o modo de condução. O modo por defeito é o Normal. O I.C.E é aconselhado para clima invernoso, mas não quer dizer gelo.
O modo I.C.E.
I.C.E são as iniciais de “Increased Control and Efficiency”. Ou seja, é também o modo de menor consumo. E foi com esse modo que fiz o teste de consumo em cidade, que deu um valor de 12,1 l/100 km.
Neste modo, a resposta do acelerador é mais lenta, a caixa automática de oito dá prioridade aos consumos e até faz vela, desligando-se do motor quando o terreno é plano e não se vai a acelerar.

Em cidade, a suspensão pneumática é razoavelmente confortável, mas o Levante não deixa de ter uma atitude desportiva, por isso não é propriamente um tapete voador.
Sobretudo com as jantes de 21” opcionais, montadas nesta unidade, com pneus de perfil muito baixo: 265/40, na frente e 295/25, atrás.
Suspensão pneumática
Claro que a visibilidade é boa, pois a posição de condução é alta o que permite controlar bem as dimensões do Levante, mesmo nas ruas mais estreitas. Mas o raio de viragem é grande, e isso dificulta as manobras.
Com um depósito de 80 litros de gasolina, o Levante Hybrid também é um estradista. A suspensão com amortecimento regulável Skyhook faz um trabalho muito bom e as molas pneumáticas descem a carroçaria 20 ou 35 mm, consoante a velocidade em autoestrada.

Os vidros duplos isolam bem os ruídos e os consumos descem. No meu teste a 120 km/h estabilizados, obtive 10,5 l/100 km o que chega para uma autonomia de 761 km com o depósito cheio.
Tração mais atrás
Mas um Maserati tem que servir para mais do que andar na cidade ou a 120 na autoestrada, por isso fui à procura de uma boa estrada secundária para descobrir aquilo de que é capaz.
Passando ao modo Sport, o acelerador ganha rapidez, a suspensão pneumática baixa 20 mm e o amortecimento sobe ao nível mais firme. A caixa automática também fica mais rápida, mas eu prefiro o modo manual para usar as magníficas patilhas em carbono fixas à coluna.

Ao contrário dos outros modos, em que o som do motor dececiona um pouco, em Sport, o escape abre as borboletas e emite um ronco, mais ao estilo da Maserati.
Motor gosta de rotações
O motor gosta mais de rodar acima das 2500 rpm, mas os 330 cv não impressionam realmente muito. A Maserati anuncia a aceleração 0-100 km/h em 6,0 segundos e a velocidade máxima chega aos 245 km/h. Mas falta um pouco de “alma” a este quatro cilindros.

A estrutura monobloco utiliza alumínio para as portas, o capót e a tampa da mala, além da suspensão e grande parte da estrutura da frente, o que limita o peso aos 2090 kg. Ainda melhor, a distribuição de pesos é de 50% por eixo.
Dinâmica desportiva
E isso percebe-se assim que se aumenta a velocidade. A frente é bastante precisa e leve, pesa 25 kg menos que o V6, diz a Maserati. A minha única crítica vai para o volante muito grande e para a excessiva desmultiplicação da direção.

A tração mecânica às quatro rodas é a mesma dos outros Levante, com uma embraiagem multidiscos central que só passa binário para as rodas da frente quando é preciso.
Ou seja, em reta, a velocidade constante, o Levante Hybrid é um tração traseira, mas se for preciso passar potência às rodas da frente, isso demora apenas 150 milésimos de segundo.

No máximo vai 50% de binário para a frente, mas o Levante ainda tem mais dois trunfos na manga. Um deles é o autoblocante mecânico no eixo traseiro e o outro é a vectorização de binário através dos travões, ativo em modo Sport.
Divertido de guiar
O resultado, quando se anda mais depressa, é uma atitude em curva que vai mudando de neutro a ligeiramente sobrevirador, tudo de forma segura, progressiva e… divertida.

Se o piso ficar mais estragado, o condutor até pode manter o modo Sport e baixar o amortecimento para o nível mais macio. É a vantagem de ter as funções separadas em vários botões na consola.
Além dos modos para estrada ainda existe o modo Offroad que coloca o controlo de tração, transmissão, acelerador e suspensão em níveis adaptados às estradas de terra.

A melhor parte é mesmo a suspensão pneumática, que o condutor pode regular em seis níveis, contando com o nível de estacionamento, que é o mais baixo para facilitar a entrada no carro.
247 mm de altura ao solo
No modo offroad, a suspensão sobe 25 mm em relação ao normal e depois ainda há um nível 45 mm acima, chegando a uma altura ao solo de 247 mm, o que é realmente muito bom.

Claro que os pneus da unidade ensaiada não eram os mais adequados, por isso o meu teste em fora de estrada foi pouco ambicioso. Mas também não imagino muitos proprietários a fazer mais do que eu fiz.
Conclusão
Com o Hybrid, o Levante passa a dispor de uma versão de acesso a gasolina, mais eficiente que o V6. Claro que, com um “mild hybrid” não se podem esperar milagres em termos de consumos, mas a Maserati diz que, se fosse “plug-in” pesaria mais 150 kg. Quanto ao preço, começa nos 122 000 euros. A unidade que testei estava muito bem equipada, chegando aos 158 000 euros. Não é pouco, mas é um Maserati.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Maserati Levante Hybrid
Potência: 330 cv
Preço: 122 000 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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Primeiro teste – Grecale: O SUV da Maserati rival do Macan