Contra a corrente, a Hyundai continua a aumentar a sua gama de desportivos N. Depois do i30 e do i20, agora foi a vez do “vírus” alastrar ao formato da moda, o dos B-SUV. Será que o Kauai N está à altura da reputação que os N já criaram?
Trocando o M pelo N, Albert Biermann, deixou a BMW e passou para a Hyundai em 2015, mas não perdeu o foco nas variantes desportivas de modelos de grande série. As bases de partida são diferentes, os segmentos e os orçamentos também.
Mas a excelência de execução já ficou provada com o i30 N e, mais ainda, com o i20 N. Faltava-me guiar o Kauai N, para descobrir se a “magia” de Biermann, poderia chegar a um B-SUV que foi concebido para tudo… menos para ser um desportivo.

O Kauai N melhorou o possível, numa plataforma já com muitos anos de serviço. Face às outras motorizações, tem mais pontos de soldadura, uma barra de reforço inferior na suspensão da frente, molas mais baixas e duras, amortecedores adaptativos, travões mais potentes, direção com nova assistência, jantes forjadas de 19” e um diferencial autoblocante de comando elétrico.
A Hyundai queria acrescentar um SUV à sua oferta de desportivos N e escolheu o Kauai
É muita coisa e mostra bem as limitações do ponto de partida. Mas a Hyundai queria acrescentar um B-SUV à sua oferta de versões desportivas N e esta era a única maneira de o fazer.
Brincar às corridas
Por dentro, o Kauai tem bancos desportivos com razoável apoio lateral, feitos pela Hyundai. E a posição de condução é relativamente alta. Mas a qualidade dos plásticos não é fantástica.
O painel de instrumentos digital varia o aspeto de acordo com os modos de condução e acrescenta um “head up display” de lâmina plástica. O ecrã tátil central é muito completo, talvez até demais.

Para quem gosta de “brincar” com o “set up” tem a possibilidade de ajustar oito (!) parâmetros em três níveis, o que garante longas sessões de “testes”. Isto porque há dois modos de condução programáveis pelo condutor, os Custom 1 e 2.
Mais botões no volante
As patilhas no volante denunciam a presença de uma caixa de oito relações e dupla embraiagem. No volante do Hyundai há ainda dois botões azuis, um para percorrer todos os modos de condução e outro para ir direto ao modo mais desportivo N e aos Custom.

Além disso, ainda há um botão vermelho com a sigla NGS (N Grin Shift) que se pressiona para ter todas as regulações em modo N durante 20 segundos. Depois é preciso esperar 40 segundos até poder voltar a ativar esta função. Bom para uma ultrapassagem.
Em cidade
A utilização em cidade mostrou que, mesmo em modo Normal, o conjunto suspensão/pneus é pouco confortável. Claro que o modo automático da caixa é um ponto a favor, mas o diâmetro de viragem de 11,7 metros estorva nas manobras.

Pelo contrário, o binário a baixo regime é mais que suficiente para uma condução despachada em cidade. Quanto a consumos, em modo Eco gastou 10,1 l/100 km, em cidade. Não é brilhante.
Vamos a coisas sérias…
Depois de testado o “launch control”, que dispara o Kauai N dos 0 aos 100 km/h em 5,5 segundos com toda a eficiência, foi altura de escolher entre os modos de condução Eco/Normal/Sport/N. E a escolha foi para o último, com o ESC desligado e caixa em modo manual.
Usando todo o curso do acelerador, o motor 2.0 turbo de injeção direta mostra bem os seus 280 cv, que chegam às 5500 rpm e continuam até às 6000 rpm.

Antes disso, já o binário de 392 Nm às 2100 rpm tinha mostrado a força deste motor de quatro cilindros, o mesmo do i30 N, que não se coíbe de lançar umas sonoras detonações nas desacelerações.
Nos pisos imperfeitos, esta descarga de binário nas rodas da frente acaba por gerar algum “torque steer” que obriga a apertar um pouco mais a pega no volante.
Suspensão joga na eficiência
A suspensão, independente às quatro rodas, controla de forma apertada os movimentos do Kauai. No bom piso, e com o contributo dos Pirelli PZero 235/40 R19, isto resulta em altos níveis de aderência, que impressionam nas curvas rápidas e longas.
Quando chega o piso mais instável, a suspensão deixa-o saltar mais. Mesmo diminuindo o nível de amortecimento, isso não se resolve. Os travões, com discos ventilados nas quatro rodas, têm bastante potência e resistência, apesar dos 1585 kg de peso total.

Em curvas mais apertadas, a frente usa bem os pneus para retardar a subviragem e a direção dá um bom “feedback” daquilo que as rodas da frente estão a fazer. Mas quando chega o final da curva e se acelera a fundo, o autoblocante não evita que a roda interior comece a patinar e a transformar a potência em fumo.
Outra abordagem
Mudando a abordagem da curva para um estilo mais acrobático, provocando a traseira na entrada, o Kauai desliza uns graus. Isso permite pôr as rodas mais cedo a direito e ter mais tração na saída.

A caixa de dupla embraiagem não passa para cima quando chega ao “red-line”, deixando essa responsabilidade inteiramente ao condutor e obedece com prontidão às patilhadas mais impacientes.
Mais dois modos…
Faltava só testar a caixa em modo automático, para descobrir os modos “N Power Shift” e “N Track Sense Shift”. São dois programas que a caixa chama sem intervenção do condutor. O primeiro surge quando se acelera mais que 90% do curso do acelerador e compensa as perdas de binário nas passagens de caixa.

O segundo, deteta uma condução mais desportiva e começa a fazer passagens mais rápidas e menos precoces. São um desdobramento do habitual modo “S” das caixas deste tipo. Mais curiosa é a mensagem que surge no painel de instrumentos quando se aproxima uma curva mais exigente: “curva apertada, quer passar ao modo N?”
Conclusão
O Kauai N é realmente desportivo e entusiasmante, mas não é barato. Os 280 cv são um ponto forte e a dinâmica é competente, na maioria das situações, provando que um pequeno desportivo também pode ser um B-SUV. Quanto a Biermann, chegou aos 65 anos e retirou-se da Coreia do Sul para a sua Alemanha natal. Mas não abandonou a Hyundai, continuando como consultor. Espero com curiosidade pelo próximo N…
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Hyundai Kauai N 2.0 T-GDI
Potência: 280 cv
Preço: 47 300€
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
Ler também, seguindo o LINK:
Teste – Hyundai Kauai Electric: o elétrico do povo?