Na Hyundai, os N são os desportivos, os N-Line são apenas níveis de equipamento. Mas, no renovado i10 com o motor 1.0 T-GDI há algo mais do que isso, como ficou claro em mais um Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.
Esta terceira geração do i10 estreou uma plataforma nova em 2019, com apenas 3,67 metros de comprimento mas uns relativamente generosos 2,43 metros de distância entre-eixos. As proporções certas para um citadino do segmento A.
Quatro anos depois, para o “model year 24” o modelo da Hyundai recebe um restyling ligeiro, que incide no desenho da grelha dianteira, nas luzes de dias em LED que lá estão integradas e nas luzes de trás, que formam um “H”.

Além disso, há para-choques diferentes e jantes de novo desenho. No caso deste N-Line, tudo isso é diferente dos outros i10, com um desenho mais desportivo, detalhes em vermelho e a letra N bem visível.
Ambiente desportivo
Por dentro, este restyling acrescentou alguns detalhes de decoração, alterou revestimentos e trocou o painel de instrumentos analógico por um digital.
O ecrã tátil central também mantém as 8” e inclui Android Auto e Apple Carplay. Há tomadas USB C, à frente e atrás e melhoramentos nos sistemas de auxílio à condução, nomeadamente no reconhecimento de peões e ciclistas.

A versão N-Line tem umas vistosas listas vermelhas nos bancos e pespontos da mesma cor no volante, fole da alavanca da caixa e bancos. Ainda há mais frisos da mesma cor nas saídas de ar da climatização, para garantir que este i10 tem mesmo asprirações desportivas.
Motor de 100 cv
Quanto à mecânica, o motor a gasolina de três cilindros é um 1.0 turbocomprimido com intercooler. Tem duas árvores de cames à cabeça, quatro válvulas por cilindro e injeção direta, tudo características impossíveis de encontrar neste segmento, há alguns anos.

É um motor a gasolina moderno que debita 100 cv logo às 4500 rpm e tem um binário máximo de 172 Nm a partir das 1500 rpm.
Como o peso total se fica pelos 1099 kg, a velocidade máxima atinge os 185 km/h e a aceleração 0-100 km/h faz-se em 10,5 segundos.
Dragon Red
O aspeto visual, não sendo fabuloso, resulta bem, com um tejadilho preto que faz o i10 parecer mais baixo e a cor “dragon red” a destacar este pequeno citadino no meio do trânsito, efeito ampliado pelas jantes de liga leve de 16”.

Por dentro, a primeira sensação vem do espaço disponível, acima das expetativas, para um citadino destas dimensões. Nos lugares da frente há ajustes amplos do banco, mas o volante precisava de maior regulação em alcance.
A posição de condução está bem definida, com um volante de boa pega, banco com suporte lateral suficiente e a alavanca da caixa manual bem posicionada.
2,5 x 1000 rpm
O painel de instrumentos digital afixa o regime do motor em milhares de rotações por minuto, ou seja, o número mostrado 2,5 quer dizer que o motor vai a fazer 2500 rpm. Acima dos 6,5 o número fica vermelho. Um gráfico seria bem mais intuitivo.

O ecrã tátil central é pequeno e simples, mas não levanta grandes questões na sua utilização. Os comandos da climatização estão separados a meio da consola, o que é sempre de elogiar e restam alguns botões è frente do joelho esquerdo, que ficam meio ocultos pelo volante.
As aplicações a vermelho dão um ambiente desportivo ao habitáculo, mas todos os plásticos usados são duros, como seria de esperar neste segmento. Mas algumas superfícies têm texturas imaginativas que disfarçam bem.
Espaçoso…
O espaço nos lugares de trás é realmente bom, sobretudo em comprimento para as pernas e altura. A largura é mais limitada, mas o acesso é fácil, pois o tejadilho não é demasiado baixo. A mala tem 252 litros de capacidade.

O motor de 3 cilindros é razoavelmente silencioso, não transmite muita vibração à estrutura e quando sobe de regime o som que emite não desagrada.
A sua resposta a baixos regimes é mais que suficiente para uma utilização ligeira no trânsito. Ao passar as 2000 rpm, sente-se um impulso extra, efeito do turbocompressor a “encher”.
Comandos bem calibrados
A caixa manual de cinco relações está bem escalonada para a cidade e tem uma utilização razoavelmente rápida e precisa, com uma embraiagem fácil de dosear. Os travões também estão bem calibrados e têm discos às quatro rodas.

A suspensão é confortável, mesmo nos maus pisos ou sobre bandas sonoras. A barra de torção traseira não causa incómodos de maior e os pneus 195/45 R16 também não são muito duros, apesar de manterem um tato de condução bem controlado.
Claro que as dimensões reduzidas do i10 e o diâmetro de viragem de apenas 9,8 metros facilitam a circulação em ruas estreitas e nas manobras. Mas a visibilidade para trás não é fácil, sendo melhor usar a câmara de marcha-atrás.
Consumos não são altos
No meu habitual teste de consumos em cidade obtive um valor de 6,5 l/100 km, o que se pode considerar bom, tendo em conta que este motor a gasolina não tem qualquer sistema de hibridização.

Em autoestrada, o meu teste de consumos a 120 km/h estabilizados resultou num consumo de 5,7 l/100 km, provando a boa eficiência do motor, quando usado a regimes constantes.
A condução em autoestrada não faz subir demasiado o ruído do motor, nem há muitos ruídos aerodinâmicos ou de rolamento. Mas a sensibilidade aos ventos laterais sente-se bem quando se passa por um camião.
Dinâmica surpreende
A vivacidade da condução em cidade já tinha dado um indício de que este i10 1.0 T-GDI N-Line teria mais alguma coisa para dar e isso ficou confirmado no teste que fiz em estrada secundária.

Não há modos de condução para escolher, nem lhes dei pela falta. A afinação dos comandos principais está suficientemente bem feita. A direção, sem ser o cúmulo da comunicação entre rodas e mãos, é precisa o suficiente e a assistência não é exagerada.

Usado nos regimes mais altos, o motor de 100 cv gosta particularmente da faixa entre as 2000 rpm e as 4500 rpm, mas não se importa de ir até perto das 7000 rpm. A sensação de força é superior aos números anunciados de aceleração. Há uma impressão de leveza que me agrada.
Sabe entreter
Os pneus têm aderência suficiente para impedir a frente de entrar em subviragem demasiado cedo, nas entradas em curva mais rápidas. E quando isso acontece é de forma progressiva e muito fácil de dosear, pois a carroçaria tem poucas oscilações parasitas.

Querendo, é possível provocar a traseira com uma desaceleração brusca já a curvar e sentir a traseira rodar ligeiramente. Não é nada que obrigue a correções, é apenas o chassis a facilitar a rotação do carro. Mas sabe bem ter esta opção. Boa tração, quando se acelera a fundo para a próxima reta, ao som típico do tricilíndrico.
Conclusão
Este i10 1.0 T-GDI N-Line tem uma atitude mais divertida em estrada secundária do que estava à espera. Não por ser um acrobata na agilidade da traseira, mas porque consegue dar prazer de condução num registo eficiente. E isso, sem esquecer as suas funções prioritárias como citadino, fácil de guiar, espaçoso e económico. Uma surpresa, para quem não tem dado muita atenção ao i10.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Hyundai i10 1.0 T-GDI N-Line MY24
Potência: 100 cv
Preço: 19 790 euros
Veredicto: 4 estrelas
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