Uma versão de passageiros de um pequeno comercial, com sete lugares e ultra funcional podia ser uma boa ideia para algumas famílias. Ainda para mais nesta nova geração do Ford Tourneo Connect. Mas, há sempre um “mas”.
Esta nova geração do Ford Tourneo Connect City Van é o resultado de uma parceria entre a Ford e a Volkswagen. O modelo da Ford, disponível em versão comercial e de passageiros, partilha quase tudo com a quarta geração da VW Caddy, sendo ambos fabricados na Polónia pelo grupo alemão.
Visto de fora, o Tourneo Connect disfarça muito bem as suas origens com uma frente onde marca presença a habitual grelha da Ford. Vista de perfil, tem um aspeto bastante genérico, como todos os veículos deste tipo.

Esta unidade que testei é uma L2 (Connect Grand), ou seja, tem maior comprimento (4,86 m) que a versão L1 (4,51m). As portas laterais traseiras são de correr, mas o gigantesco portão traseiro abre para cima como nos carros de passageiros.
Uma boa ideia
Com isso, ganha a visibilidade para trás, mas exige muito mais espaço para abrir o portão do que as duas portas de abertura lateral, tipo armário, das versões comerciais… e mais força de braços.
A ideia de uma versão de passageiros de um comercial compacto, feito com base na plataforma MQB do VW Golf, pode parecer apelativa, para quem tem uma família grande e precisa de um transporte “coletivo” funcional, sem se preocupar com questões de imagem ou de requinte.

E a experiência deste teste mostrou que o Ford Tourneo Connect cumpre quase todas as expetativas. Abre-se uma das portas de correr e o mecanismo funciona com rigor, sem trepidações ou ruído excessivo.
Simples mas sólido
Abre-se uma das portas da frente e a sensação de construção sólida é a mesma. Mas não resisti a começar pelas filas de trás, para ver como uma família numerosa podia lidar com um veículo como este, em vez de um mais óbvio SUV.

A fila do meio tem três verdadeiros lugares, com imenso espaço em todas as direções. Rebate os lugares de forma assimétrica, com a parte mais pequena a ficar do lado direito. Basta rebater o encosto para baixo e depois puxar o banco todo para cima para ter acesso facilitado à terceira fila.
Sete lugares em opção
Lá atrás há dois lugares individuais, com bancos pequenos, mas que levam dois adultos em caso de necessidade ou duas crianças com imensa facilidade e boa disposição. São opcionais e custam mais 923 euros, tanto na L1 como na L2.

Os bancos da terceira fila também se dobram e podem retirar-se, mas não são propriamente leves. Com sete lugares em utilização, a mala tem 191 litros até à chapeleira, que se tem que levantar e baixar à mão. Com frequência ficou esquecida na posição levantada, obrigando a parar o carro para a ir descer.

Retirando a terceira fila, a mala passa a uns enormes 1720 litros de capacidade e depois ainda se pode rebater a segunda fila ou apenas retirar o lugar do lado direito para levar uma bicicleta, sem tirar a roda da frente.
Funcional e fácil
Nos dois lugares da frente também se nota a vocação funcional deste Tourneo Connect. Os bancos são bastante simples, relativamente firmes mas confortáveis o suficiente. E mais altos que numa carrinha convencional.
A visibilidade para diante é muito boa, o raio de viragem é curto e a frente coloca-se com imensa facilidade. Estava à espera que, com 4,85 m de comprimento, as manobras e estacionamento em cidade fossem uma dor de cabeça, mas não.

Devido às formas quase cúbicas da traseira, é muito fácil calcular onde acaba a traseira e bastam os retrovisores (que nem são muito grandes) para fazer qualquer marcha-atrás sem nenhuma ansiedade. Com sensores de estacionamento e câmara traseira, fica ainda mais fácil.
Ambiente de furgão
Claro que a perceção de qualidade não se pode comparar à de uma berlina equivalente. Aqui, todos os plásticos são duros e alguns não têm um aspeto particularmente agradável ao toque. Mas parecem resistentes e duráveis.

O painel de instrumentos também é simples mas não falta o ecrã tátil central de muitos outros VW, que aqui continua a não ser fácil de usar, nem intuitivo, além de ter os irritantes comandos táteis deslizantes para a temperatura da climatização e volume do som, sem iluminação à noite.
O volante tem uma excelente pega e a sua posição é muito próxima à de uma berlina, não há aqui ângulos estranhos nem desconfortáveis e o punho da alavanca da caixa manual de seis não ficava mal num Focus ST.

A consola tem muitos porta-objetos e esta unidade até estava equipada com um gigantesco teto panorâmico em vidro (opcional por 554 euros), curvo na parte da frente. Dá muita luz ao interior, mas não tem cortina, o que obriga o ar condicionado a fazer horas extraordinárias em dias de calor.
O motor 2.0 TDI da VW
O motor é o conhecido 2.0 TDI da VW, aqui com 122 cv e 320 Nm. Não está tão bem isolado como num Golf, mas não passa demasiado ruído nem vibrações para o habitáculo. E tem uma resposta muito determinada a baixos regimes.

Seja em primeira, segunda ou terceira velocidades, qualquer movimento do acelerador se traduz num avanço que quase parece de um carro elétrico. A razão é simples: as primeiras relações são curtas, para garantir que o Tourneo não tem problemas quando leva a carga completa.
Gasta pouco
A caixa é muito precisa e suave de usar, bem como a embraiagem. A direção tem a assistência certa e faz bem o seu papel. Surpreendeu-me o conforto da suspensão em piso pior.
Claro que os pneus 215/55 R17 dão uma ajuda, permitindo passar por cima de alguns buracos sem grandes solavancos nem aqueles sons ocos dos comerciais.

No meu habitual teste de consumos em cidade, obtive um valor de 6,5 l/100 Km. Tendo em conta o peso de 1797 kg, as relações de caixa curtas e a ausência de qualquer tipo de ajuda híbrida, tem que se considerar um bom valor.
Quando passei para a autoestrada, circulando a 120 km/h de velocidade estabilizada, o consumo desceu para os 5,9 l/100 km, provando que a aerodinâmica não é tão penalizante quanto se poderia pensar.

A 120 km/h, os ruídos de rolamento estão um pouco mais presentes, bem como os emitidos pelo motor, que não esconde o ciclo Diesel. Mas a aerodinâmica não afeta muito o ambiente acústico a bordo.
Comportamento seguro
A disponibilidade do motor, a rapidez da caixa e a precisão da direção entusiasmaram-me o suficiente para levar este Tourneo Connect a uma estrada secundária com algumas curvas mais difícies. Queria ver como poderia curvar um carro como este…
O motor 2.0 TDI não gosta muito de regimes altos, é melhor nos baixos e médios, por isso não vale a pena exagerar nas rotações. A aceleração 0-100 km/h demora 12,1 segundos mas parece menos.

A inclinação lateral em curva é menor do que estava à espera e a atitude geral é bastante neutra, com o ESC a entrar em ação com alguma frequência, mas muito suavemente, quando se anda mais depressa.
O principal fator limitador são os pneus 215/55 R17 que oferecem pouca aderência e acaba por deixar a subviragem chegar mais cedo do que seria possível com pneus melhores.
Obviamente que o Tourneo Connect não foi feito para este tipo de condução, mas nos dias em que já se saiu atrasado para levar as crianças às escola, fica a certeza de que, pelo lado do carro, não vai encontrar nenhuma surpresa desagradável.

Sempre que guio um carro deste tipo, acabo por ficar surpreendido. Talvez porque as expetativas são baixas, talvez porque no passado eram muito piores. Mas o certo é que servem perfeitamente para o perfil de comprador que indiquei no início. Só há um problema.
Conclusão
Tendo em conta a simplicidade do produto e os presumíveis menores custos de produção face a um SUV do segmento C, seria de esperar que o preço fosse também consideravelmente mais baixo. Mas, para um comprador individual, isso não acontece. Este Ford Tourneo Connect Grand Active L2 2.0T 122cv Diesel custa 40 558 euros, sem opcionais. Um Kuga 2.0 TDCI de 120 cv com caixa automática custa só mais 7600 euros, Está tudo dito.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Ford Tourneo Connect Grand Active L2 2.0T 122cv Diesel
Potência: 122 cv
Preço: 40 558 euros
Veredicto: 3 (0 a 5)
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