O renovado Ford Fiesta não perdeu a versão Active, com um visual inspirado nos crossover mas vocacionado para viver na selva urbana. A receita não é nova, mas continua válida e tem benefícios que em Portugal raramente podemos aproveitar.
As variantes com visual crossover são uma sub-espécie que alastrou a todos os segmentos e tem vindo a conquistar maior ou menor sucesso, consoante a marca e o modelo. Na Ford, essas versões recebem o nome Active e o renovado Fiesta foi o mais recente contemplado.
O conceito define-se pelo kit de alterações aplicado sobre o modelo de base, que não varia muito. No caso do renovado Fiesta temos as barras no tejadilho, os alargamentos dos guarda-lamas, os para-choques com desenho diferente e as jantes de estilo único.

A única diferença técnica aparente é a maior altura da suspensão, que faz passar a altura ao solo dos 130 mm para os 150 mm. Os pneus são de medida 205/40 R18. A tração continua a ser apenas às rodas da frente e a caixa desta unidade que testei é uma Powershift de dupla embraiagem e sete relações.
Mild Hybrid
O motor 1.0 Ecoboost Hybrid é a última geração deste premiado tricilindrico turbo de 125 cv, agora dotado de um sistema “mild hybrid” com motor/gerador de 48 Volt capaz de ajudar o motor a gasolina nos arranques e recuperações, bem como de ativar o stop/start nas descalerações abaixo dos 30 km/h.

Por dentro, o tratamento Active passa por detalhes de decoração, nomeadamente nos forros dos bancos com um padrão específico e pespontos contrastantes.
O botão dos modos de condução passa a ter as posições específicas dos SUV da marca – Trilhos e Escorregadio – além dos gerais Eco/Normal/Sport.
Os méritos conhecidos
Tendo recebido um discreto restyling que a versão Active também reflete, o Fiesta mantém os méritos no habitáculo que passam por uma boa posição de condução, volante com boa pega e regulações suficientes. O painel de instrumentos é digital, com cores diferentes de acordo com o modo de condução escolhido.

O ecrã tátil central tem acesso fácil e utilização simples, deixando os comandos da climatização para um módulo separado mais abaixo e de fácil uso. Criticas para o botão dos modos de condução e outros que formam um grupo mal colocado atrás da alavanca da caixa.
A qualidade dos materiais está de acordo com o esperado no segmento “B”, com alguns toques de bom gosto, mas também alguns plásticos menos agradáveis ao toque.
Bom conforto
Resultado da antiguidade desta sétima geração do Fiesta, lançada em 2016, é a habitabilidade que não está perto dos melhores. Tem pouca largura e comprimento à justa nos lugares da segunda fila. A mala tem 311 litros.

A menos que se tenha um Fiesta “normal” ao lado para comparar, não se vai notar a maior altura ao solo do Active a entrar ou sair do habitáculo. A posição de condução também não parece mais alta, mas tem visibilidade correta para quase todos os ângulos.

O que se nota, assim que se coloca o Fiesta em marcha é um bom nível de conforto sobre bandas sonoras mais bruscas e pisos estragados. Sente-se que a suspensão processa o piso com a habitual sofisticação dos Ford, acrescentando comodidade.
Um gozo de guiar, mesmo devagar
A direção mantém todo o tato, rapidez e precisão habitual, mesmo a andar devagar em cidade, é um verdadeiro prazer sentir a perfeita ligação à estrada. O mesmo para a facilidade de doseamento do pedal de travão.

Com o sistema MHEV e a caixa de dupla embraiagem, é lógico que o motor sai beneficiado em termos de suavidade na entrega dos 170 Nm de binário às rodas da frente.
A progressão é muito suave e progressiva, sem sobressaltos e com o sistema elétrico a dar uma ajuda evidente, que pode ser vista num pequeno gráfico do painel de instrumentos.
E os consumos?
Em cidade, o consumo que registei foi de 6,8 l/100 km e em autoestrada, a rodar a 120 km/h estabilizados, desceu para os 5,4 l/100 km. São valores que validam a solução MHEV e fazem os 1236 kg parecer menos.

A suspensão mais alta em nada afeta a condução em autoestrada, no máximo, deixa a carroçaria mover-se um pouco mais, o que acaba por ser positivo em termos de conforto. De resto, mesmo quando as rotações sobem, o motor emite sempre um som agradável ao ouvido e não há demasiados ruídos aerodinâmicos.
Dinâmica prejudicada?
Passando a estradas secundárias, e mudando para o modo Sport, o Fiesta Active é um pouco diferente dos outros. A suspensão mais alta deixa realmente geral mais inclinação lateral, mais notória em sequências de curvas.
Passando de um apoio, para o do outro lado, o ESC pode até ser chamado a intervir, se o ritmo já for o de usar tudo o que o motor tem para dar. E tem bastante: os 0-100 km/h estão anunciados em 9,9 segundos.

Contudo, a dinâmica típica do Fiesta não desaparece no Active. A frente é mais precisa a entrar em curva do que muitos rivais sem suspensão “crossover” e a traseira continua a deixar-se deslizar, se o condutor a provocar, desacelerando já com o carro a entrar em curva.
Caixa sem patilhas
Só que tudo isso acontece de forma menos fina que nos Fiesta de suspensão mais baixa e o ESC entra em ação com maior frequência e maior intensidade.

Na dinâmica, a maior critica vai para a caixa de dupla embraiagem, nem tanto por ser lenta ou renitente nas passagens, mas porque, na unidade testada, não existem patilhas, nem um setor “+/-“ na alavanca para a comandar manualmente.
Conclusão
Esta versão Active não está claramente vocacionada para levar o Fiesta para nada mais do que estradas de terra em bom piso. Mas em países com neve frequente, a maior altura ao solo e maior espaço nas cavas das rodas podem ser úteis. Tal como os modos de condução específicos. É um produto de nicho, que custa a partir de 27 269 euros, mas tem uma longa lista de equipamento de série como ponto a favor.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Ford Fiesta Active X 1.0 Ecoboost MHEV Auto
Potência: 125 cv
Preço: 27 269 euros
Veredicto: 3 (0 a 5)
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Comparativo – Fiesta vs. Ibiza: Qual o melhor, qual o mais divertido?