O estilo e o marketing do Citroën Ami elétrico geram uma imagem e uma expetativa que pode não corresponder à realidade. Os 7 750 euros são tentadores, mas o melhor é experimentar antes de pensar em comprar. Pode não ser o que está à espera…
Um quadriciclo é um veículo com quatro rodas, com velocidade máxima limitada a 45 km/h e 425 kg de peso máximo, excluindo as baterias, no caso de modelos elétricos. Acresce que pode ser conduzido por pessoas a partir dos 16 anos, desde que tenham tirado a carta de condução da categoria B1, específica para triciclos, quadriciclos e moto-quatro.

O Citroën Ami é um quadriciclo elétrico, tem um motor elétrico de 8,2 cv (6 kW) que passa a sua força às rodas da fente através de uma correia. É alimentado por uma bateria de iões de Lítio de 5,5 kWh, colocada sob os dois bancos do habitáculo. A Citroën anuncia uma autonomia de 75 km e 3h00 para a carregar de 0 a 100% numa tomada de 220 Volt.
Mais pequeno que um Smart
O Ami tem 2,41 metros de comprimento, 1,39 m de largura e 1,51 m de altura. Para se ter uma ideia, é 28,5 cm mais curto que um Smart Fortwo e 27,3 cm mais estreito. E também só tem dois lugares. Pesa 471 kg e tem diâmetro de viragem de 7,2 metros.
Como quadriciclo que é, o Ami não pode circular nas vias rápidas nem nas autoestradas. Também não pode atravessar as pontes 25 de Abril ou Vasco da Gama, em Lisboa. É um “objeto de mobilidade urbana” nas palavras da Citroën.

É preciso estar ao lado do Ami para perceber que é mesmo muito pequeno. Só tem duas portas, que abrem em direções opostas, pois são iguais. Não tem tampa da bagageira, nem bagageira separada. Há um espaço à frente do passageiro onde cabe uma mala de viagem. E há um gancho para sacos.
Carroçaria em plástico
A Citroën tem vários kits de decoração exterior que lhe mudam o visual, caracterizado por rodas relativamente pequenas, com pneus 155/65 R14. Mas para saber como isso resulta, o melhor é ver aqui:
A carroçaria é toda em policarbonato, uma qualidade de plástico, e a estrutura é feita de tubos de secção retangular, bem visíveis do interior.
Por dentro, o Ami tem dois bancos de plástico duro, com pequenas almofadas no assento e costas. Só o do condutor se ajusta e só em comprimento, as costas são fixas. São duros e desconfortáveis.
Equipamento mínimo
Não há retrovisor interior, só dois exteriores, muito pequenos e ajustáveis à mão. Os vidros das portas não descem, a metade inferior dobra-se para cima, por fora, como no antigo 2CV. O tejadilho é em vidro e tem uma rede para-sol que se coloca manualmente. Quando não está colocada, vai para trás dos dois bancos.
No total, só há seis botões no habitáculo
Só há seis botões no habitáculo: três para os RND (não há P) para a transmissão e estão entre o banco do condutor e a porta, onde costumam estar os comandos dos bancos.
E mais três botões na consola: quatro piscas, desembaciador do para-brisas e aquecimento, este sem ajustes. De resto, há uma haste na coluna de direção, para os piscas e limpa para-bisas. Os faróis não têm máximos e estão sempre ligados.
Prático, mais ou menos…
Para abrir as portas deve puxar-se pegas de “nylon”. Não há fecho centralizado e há duas chaves diferentes, uma para a ignição e outra para as portas, que não têm puxador separado, por fora.

Há porta-objetos no topo do tablier – com caixas abertas e uma fechada em material maleável, para não fazer ruídos – e redes nas portas. Os plásticos do habitáculo são todos duros e de aspeto muito básico. A construção também: a proteção da base do travão de mão desmontou-se durante o teste.
O volante não tem regulações, nem forro. Por isso a posição de condução fica muito condicionada à estatura de cada um. No meu caso, ficou a faltar mais espaço para as pernas e menos inclinação nas costas do banco.
Muita luz, ou luz a mais
Há muita luz no habitáculo, o que pode ser bom no Inverno e menos bom no Verão, pois não há A/C. Para ligar o motor tem que se rodar a chave no canhão, que faz ligar o minúsculo painel de instrumentos.
A informação para o condutor resume-se à velocidade, autonomia restante na bateria e conta-quilómetros, além de dois frisos de luzes avisadoras. Também não há nenhum sistema de infotainment, nem rádio, apenas tomadas USB e um suporte para o smartphone.

É difícl fechar a porta sem fazer um estrondo que o habitáculo amplifia. Acelerador para baixo e o ruído do motor elétrico e da transmissão fazem um zunido bem sonoro, pois insonorizantes não deve haver muitos.
Muito ruído, pouco conforto
A direção sem assistência não é pesada, mas é pouco precisa. Assim que o piso da rua deixa de ser excelente, a suspensão transmite todo o tipo de solavancos para os dois ocupantes, que os bancos duros não absorvem.
À medida que a velocidade sobe, também sobe o som da mecânica. Quando é preciso travar, o pedal não é pesado, mas é pouco progressivo e não há ABS. A parte boa é que a regeneração está bem calibrada e abranda bem o Ami.
A aceleração 0-45 km/h demora 10 segundos. E chega a velocidade máxima
A resposta ao acelerador tem alguma vivacidade no arranque mas logo a seguir perde o fôlego, limitado que o Ami está aos 45 km/h. A aceleração 0-45 km/h é de 10 segundos. Face à velocidade média do trânsito dos nossos dias, esta velocidade é muito baixa. Mas é “culpa” da lei, não da Citroën.
Segurança passiva?…
A progressão é tão lenta que deixa tempo para pensar em muita coisa, como por exemplo na segurança passiva, quase inexistente. As portas são apenas placas de policarbonato, não têm barras. Não há airbags.

Falar de comportamento dinâmico é irrelevante, dada a baixa velocidade a que tudo acontece. Fiz um rotunda mais depressa e o Ami não se inclinou demasiado. A aderência dos pneus é muito superior às forças geradas pelo motor.
Ansiedades
A principal ansiedade a bordo do Ami, nem é a autonomia, é escolher o percurso para evitar a todo o custo ruas mais largas e onde o trânsito anda mais depressa. Um condutor distraído com o seu smartphone, facilmente “atropela” o Ami.
Da autonomia, o que posso dizer é que o decréscimo de quilómetros no indicador da autonomia, foi mais ou menos proporcional à subida do conta-quilómetros. Setenta quilómetros até ficar a zero, parece ser uma boa estimativa.

Mas há sempre que guardar alguma coisa para chegar à tomada elétrica mais próxima. Claro que a bateria não é compatível com carregadores rápidos, nem lentos. Só carrega numa tomada tipo Schuko de 220V.
Conclusão
Para que serve então o Ami? Serve para usar em situações muito controladas, como centros de cidades ou zonas de férias. Não serve para o uso diário casa-trabalho-casa se o percurso for urbano/suburbano. É muito giro, mas é preciso saber bem por onde o Ami pode andar, antes de ceder à tentação do preço de 7 750 euros.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Citroën Ami 100% ëlectric
Potência: 8,2 cv
Preço: 7 750 euros
Veredicto: 2,5 (0 a 5)
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