A Forthing é a última marca chinesa a apresentar um modelo em Portugal. Chama-se S7 EV, trata-se de uma berlina elétrica de quase cinco metros, vendida a “preço canhão”. Saiba tudo em mais um Primeiro Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

Começam a ser raros os meses em que não é lançada em Portugal uma nova marca oriunda da China. A prometida expansão dos construtores chineses para mercados fora de portas segue em pleno, para já com marcas que apostam numa relação qualidade/preço, uma vezes mais viradas para a qualidade, outras para o preço. Mas a “guerra” de preços ainda não começou verdadeiramente, pelo menos nos segmentos mais acessíveis. Nos segmentos mais caros, é a imagem de marca a grande dificuldade que as marcas chineses têm que ultrapassar, face às europeias que têm a confiança do comprador há muitas décadas.

A Forthing (adiante, numa tradução literal) é a última a chegar. Faz parte do grupo chinês Dongfeng Motor Corporation, fundado em 1954 e propriedade do Estado da China. É fabricante de veículos comerciais, autocarros e carros de passageiros das marcas Fengdu, Voyah, Aeolus e a Forthing, que existe desde 2001. Através da sua subsidiária Dongfeng Motor Group , tem também joint-ventures para a produção na China de modelos de várias marcas estrangeiras. A chegada a Portugal da Forthing é feita através da empresa Solmotor, do grupo Auto-Industrial, bem conhecido pela sua rede de distribuição, mas com experiência de importação em vários tipos de veículos e motores na área agrícola, marítima e da micromobilidade.
Não tem só EVs
A gama de entrada é composta pelo C-SUV Friday, em versões HEV (279 cv, full hybrid) e EV (204 cv, 100% elétrico), pelo D-SUV U-Tour, só em versão a gasolina (197 cv) e pela berlina de 4,9 metros S7 EV (209 cv, 100% elétrico). Foi este último que tive oportunidade de testar durante algumas horas em estradas portuguesas. Tem a configuração de uma berlina de dois volumes com traseira “fastback”, quinta porta e um desenho muito arredondado, com jantes carenadas e puxadores de portas encastrados, para melhorar a aerodinâmica. A frente tem faróis de LED horizontais de três elementos e luzes de dia verticais também com três segmentos, desenhando o número 7. Na traseira, uma faixa luminosa une as duas luzes full-LED, num conjunto bastante fino. Tem uma certa elegância, mas pouca personalidade, anunciando um Cx recordista de 0,191, com o contributo de um fundo plano e um spoiler na mala.



No interior, encontram-se materiais de bom aspeto e um conceito minimalista, quase sem botões físicos, a não ser para os vidros das portas e no volante. Há a escolha entre um interior escuro ou claro, ambos em pele vegan. O comando da transmissão está na coluna de direção, quase tudo o resto está acessível através do ecrã tátil central LCD de 14,6 polegadas, que tem em rodapé alguns atalhos permanentes. Atrás do volante existe um pequeno painel de instrumentos de 8,8”, com as informações essenciais, o que é sempre de aplaudir.
Uma só motorização
O S7 está disponível com uma única motorização elétrica que usa um motor de íman permanente e 154 KW (209 cv) e 310 Nm de binário máximo, colocado atrás para mover as rodas traseiras. A Forthing afirma que não pretende seguir a via do “excesso de potência”. A bateria tem química LFP e 56,8 KWh de capacidade, anunciando uma autonomia em ciclo combinado de 420 km e 581 km em cidade. O carregamento pode ser feito até 120 KW, demorando, neste caso, 25 minutos para ir dos 30 aos 80% de carga.




As portas não têm aros nos vidros, para permitir reduzir a altura, que se fica pelos 1,495 metros. Mas a posição de condução não é muito baixa, limitada pela localização da bateria sob o habitáculo. O volante de dois braços tem uma boa pega, está bem posicionado, tem teclas físicas e ajustes suficientes, o banco é confortável, mas não tem muito apoio lateral e o encosto de cabeça está integrado, não regula. Visibilidade razoável para trás e facilidade de leitura do painel de instrumentos. A organização do infotainment não me pareceu a mais intuitiva, mas tem Android Auto e Apple Carplay.
Cheio de modos
O condutor tem à sua disposição os seguintes modos de condução: Economical/Standard/Sports/Sports+ e depois ainda tem a possibilidade de regular em separado a sensibilidade dos pedais em três níveis (cozy/standard/sports), a direção nos mesmos três níveis e a regeneração noutros três níveis (no/cozy/relatively strong). Seria melhor ter a regeneração diretamente acessível num botão físico, mas existem dois botões programáveis no volante que podem suprir essa lacuna.



O espaço nos lugares da frente é razoável, um pouco comprometido pela largura e altura da consola central. Nos lugares de trás, tendo em conta o comprimento do S7, esperava encontrar imenso espaço para joelhos e pés, o que não acontece. O acesso também é relativamente baixo mas o tejadilho panorâmico em vidro proporciona muita luz no interior, resta saber se protege do excesso de calor. A bagageira é comprida mas a capacidade é de apenas 398 litros, sob a chapeleira, existindo um espaço sob o piso. Tem bom acesso proporcionado pelo grande portão. O “frunk” tem 50 litros de capacidade. Um detalhe importante: o S7 não tem opcionais, todo o equipamento que pode encontrar no site oficial português da marca é de série, incluindo uma coleção completa de sistemas eletrónicos de ajuda à condução.
Muito confortável
Em andamento, começa por agradar a progressividade da aceleração, sobretudo em modo Economical, sem nenhuma brusquidão mas com força mais do que suficiente para os 1805 kg de peso. A direção é muito assistida e com muito pouco tato, em qualquer dos modos ou dos seus ajustes específicos. Só no Sport se nota um pouco mais de consistência. O pedal de travão é pouco progressivo em qualquer dos níveis de ajuste. Os três níveis de regeneração são pouco diferenciados entre sí e o mais forte está muito longe de ser um “one pedal”. A suspensão, independente às quatro rodas, é muito macia, passando pelo mau piso com bom nível de conforto, apesar dos pneus de baixo perfil 235/45 R19.



Não tive ocasião de medir consumos reais em cidade e autoestrada segundo o método TARGA 67, isso terá que ficar para mais tarde. Mas, como referência, posso dizer que o computador de bordo andou pela casa dos 14 KWh/100 km em cidade durante bastante tempo. Mas tive tempo para fazer uma passagem por uma estrada secundária sinuosa e sem trânsito, para pôr à prova a dinâmica do S7 numa utilização um pouco mais exigente.
Prestações razoáveis
A Forthing anuncia a aceleração 0-100 Km/h em 6,8 segundos, o que é um valor muito bom para a relação peso potência de 8,63 kg/cv. A velocidade máxima anunciada é de 165 km/h. Em modo Sport+ ganha-se um pouco mais de rapidez no acelerador, as pequenas retas são “despachadas” com facilidade, mas sem impressionar muito e com a frente a levantar um pouco em aceleração a fundo, o contrário do que acontece numa travagem forte. Não falta potência de travagem, falta um pouco mais de tato ao pedal.



Ao entrar em curva, nota-se uma inclinação lateral pronunciada e em sequências de curvas, o controlo das transferências de massas não é nada rigoroso. Em pisos com lombas e depressões consecutivas, feitos em aceleração, as rodas de trás chegam a perder o contato com o solo, perdendo tração e fazendo entrar o ESC. Claramente, o amortecimento é demasiado fraco para este tipo de piso e de condução. Seria melhor a Forthing recalibrar a suspensão para os padrões europeus, coisa que parece não ter feito.
Conclusão
A Forthing anunciou o preço do S7 para Portugal nos 43 000 euros, aquilo que considera um “preço canhão”. Olhando apenas para o produto, ficou claro neste Primeiro Teste TARGA 67 que o S7 testado não está devidamente adaptado ao mercado europeu, no que diz respeito à suspensão. Ter muito conforto, é bom para uma berlina de cinco metros, mas se o preço a pagar é ter um fraco controlo de massas em situações mais exigentes, então esse negócio já não parece assim tão bom. Tal como diz o significado da própria marca, a Forthing precisa de seguir adiante.
Forthing S7 EV
Potência: 209 cv
Preço: 43 000€
Veredicto: 2,5 estrelas
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