A berlina elétrica Han tem tudo para ser o verdadeiro rival do Tesla Model S, pelo menos é o que se pensa no construtor BYD Auto. Neste Primeiro Teste TARGA 67, vai ficar a saber se o modelo chinês tem argumentos para tanta ambição.
Quem continua a pensar que da China só vão chegar elétricos de baixa qualidade a preço de saldo, está muito enganado. A BYD é o maior construtor chinês de veículos elétricos e PHEV, tudo somado, vende mais que a Tesla e tem no Han o seu topo de gama, que passa agora pelo Primeiro Teste TARGA 67.

Com sede em Amesterdão, a BYD Auto Europe está a começar a sua expansão no Velho Continente e Portugal está nos seus planos, já para este ano. O seu modelo de ataque vai ser o Atto 3, que se situa entre o VW ID.3 e o Kia Niro. Para ler o Primeiro Teste TARGA 67 ao Atto 3, siga o link no final deste texto.
Han é o Model S da BYD
Quando ao Han, é uma berlina de quase cinco metros de comprimento, foi lançado em 2020 e já recebeu uma ligeira atualização estética este ano.
A designação tem origem na dinastia chinesa com o mesmo nome e, no mercado doméstico, está disponível em versões PHEV e BEV. Para a Europa só está previsto o 100% elétrico.

A plataforma é conhecida internamente como e-Platform 2.0, feita a pensar em modelos PHEV e BEV, pertence a uma geração anterior à plataforma que equipa o Atto 3, que já foi feita só para veículos elétricos.
Desenho Ítalo-alemão
O Han tem um estilo esguio e moderno, ou não tivesse sido desenhado por Wolfgang Egger, que chegou à BYD em 2017. De origem alemã, Egger estudou em Milão e começou a sua carreira na Alfa Romeo, onde chegou a chefe do departamento de design em 1993.
Após um período na Seat, voltou à Alfa Romeo e Lancia em 2001 onde dirigiu projetos como o 156, 166 e 8C Competizione. Em 2007 passou para a Audi e Lamborghini, de onde saiu em 2013.

Não admira que o Han tenha um aspeto completamente europeu, misturando alguma coisa das escolas alemãs e italianas de estilo automóvel. Ao vivo, parece mais pequeno que na ficha técnica e tem só 1,5 metros de altura.
Motor 3.9?!…
Detalhe curioso, na tampa da mala está escrito 3.9, mas nada tem a ver com a motorização, como é óbvio: é o valor em segundos da aceleração 0-100 km/h desta versão elétrica.

A plataforma tem dois motores elétricos, um na frente com 163 kW (219 cv) e outro atrás com 200 kW (268 cv) perfazendo uma potência máxima combinada de 380 kW (517 cv) enquanto que o binário máximo atinge os 700 Nm. Velocidade máxima limitada a 180 km/h.
Bateria da BYD
A bateria, fabricada pela própria BYD, está sob o habitáculo e tem capacidade bruta de 85,4 kW o que permite à BYD anunciar uma autonomia WLTP em ciclo misto de 521 km, enquanto que em cidade anuncia 662 km.
A bateria pode ser carregada a corrente contínua até 120 kW, demorando 30 minutos para ir dos 30 aos 80% de carga. O peso total é de 2250 kg.

Isto são os números, mas o mais importante era descobrir as sensações de utilização e condução do Han. Para isso, usei um percurso em redor de Amesterdão, com um pouco de cidade, autoestrada e estradas secundárias.
Ambiente luxuoso
Mal se entra no habitáculo, a primeira sensação é a de um ambiente luxuoso e tradicional, onde a pele verdadeira tem o papel principal, tal como materiais de boa qualidade, um pouco por todo o lado.
O desenho cria uma continuidade entre o tablier e as portas, num estilo clássico que conta com um painel de instrumentos digital de dimensões normais (12,3”) e um ecrã tátil grande de 15,6”.

Tanto um como o outro têm um problema: o tamanho das letras e dos números é demasiado pequeno. O ecrã tátil é rotativo, podendo ser colocado na posição horizontal ou vertical, o que tem a sua utilidade.
Posição de condução alta
A posição de condução é um pouco alta em relação à linha de cintura, denunciando a posição da bateria sob o habitáculo. O volante precisava de maior amplitude de ajuste em alcance e o punho da transmissão tem um formato invulgar.

O espaço nos lugares de trás serve apenas para dois passageiros, o comprimento para pernas é suficiente e a altura não é generosa. A mala tem só 410 litros e uma abertura relativamente estreita. A BYD não usou aqui uma quinta porta como a Tesla.
Modos de condução
Há três modos de condução à escolha: Eco/Normal/Sport mas as diferenças entre eles, no que respeita à resposta do acelerador não são muito grandes. Em cidade, o primeiro modo mostrou-se suave e progressivo, muito bem calibrado.

Há ainda dois níveis de intensidade de regeneração que se podem escolher num botão mal colocado na consola mas, mais uma vez, a diferença entre eles é pouca e nenhum chega aos níveis de retenção que a Tesla usa. São muito menos intensos, mas o pedal do travão está bem calibrado e não obriga a habituação, para quem nunca guiou um EV.
Muito confortável
A suspensão tem amortecimento variável em dois níveis e mostrou-se muito confortável, mesmo com os pneus de medida 245/45 R19 montados. Há uma clara prioridade ao conforto da arquitetura MacPherson, dianteira e multibraço, traseira. Que resulta bem, mesmo em ruas com piso em pior estado.

Numa estrada completamente deserta, consegui fazer um arranque desde parado. A excelente tração leva a melhor sobre a potência e o binário dos dois motores, ou seja, o exercício não se revela nada violento. Rápido, sim, mas bem filtrado e civilizado.
Dinâmica conservadora
Quanto à dinâmica em curva, a direção dá o mote, não sendo muito direta, nem rápida, nem muito informativa. Também aqui houve uma preocupação com o conforto da condução, que resulta muito civilizada. O doseamento do binário está feito para tornar tudo fácil e nada brusco.

A bateria mantém o Centro de Gravidade baixo e o controlo das transferências de massas, em encadeados de curvas, revela-se mais que suficiente. A atitude é neutra, pelo menos até ao ritmo a que consegui conduzir em estradas demasiado estreitas para exageros.
Nunca senti que a gestão dos motores desse ao de trás algum tipo de protagonismo que pudesse fazer rodar a traseira sob aplicação forte de potência. Mesmo numa ou duas ocasiões em que foi possível fazer esse exercício.

De volta à base, por autoestrada, ficou bem patente o silêncio de rolamento e aerodinâmico, Boa estabilidade e controlo a rolar a 120 km/h, mesmo com a suspensão no modo de amortecimento mais macio.
Conclusão
A BYD tem no Han uma berlina elétrica comparável ao Tesla Model S, mas com prestações menos impressionantes e servidas de forma mais suave. O estilo é um ponto alto e o interior segue uma filosofia mais tradicional. Ainda não foi possível verificar os consumos, que a BYD anuncia para 14,6 kWh/100 km, em cidade e 18,5 kWh/100 km, em ciclo misto. Quanto ao preço, ainda não há valores definitivos, mas a BYD avança com uma estimativa de 70 000 euros. A chegada a Portugal está prevista para Abril próximo.
Francisco Mota
BYD Han EV
Potência: 517 cv
Preço: 70 000 (estimado)
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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