A oferta de carros elétricos aumenta e começam a surgir concorrentes diretos que se podem comparar sem restrições. É o caso do Mégane E-Tech EV60 e do Cupra Born 58. Face a face, qual será o melhor familiar compacto elétrico? Respostas neste comparativo Targa 67.
À medida que as marcas vão lançando mais modelos elétricos, a oferta torna-se cada vez mais estruturada, começando a construir-se uma matriz em que as marcas se confrontam com produtos que rivalizam diretamente uns com os outros.
A VW entrou no mercado dos familiares compactos elétricos em 2020, com o ID.3, o primeiro de uma família de modelos 100% elétricos que a marca vai desenvolver nos próximos anos.

A Renault, que está no mercado dos utilitários elétricos desde 2012 (é mesmo, já passaram dez anos!…) com o Zoe, chega agora aos familiares compactos com o Megane E-Tech Electric. São rivais diretos, por isso a comparação é mais do que justificada.
Os GTI dos elétricos?
Só que, a Renault anuncia o seu Megane E-Tech Electric como “o GTI dos elétricos” por isso decidi deixar o ID.3 estacionado no parque do importador da marca e trazer o que estava parado ao lado, o Cupra Born.

A Cupra reclama para si uma atitude mais desportiva no Born, em relação ao ID.3. Tem suspensão 15 mm mais baixa, na frente e 10 mm, atrás, além de molas e amortecedores diferentes e uma direção mais direta.
Por tudo isso, seria o rival perfeito para o Renault. Seja como for, a maioria das comparações que se podem fazer, são igualmente válidas entre o Megane e o ID.3 da VW.
Estilos… originais
Parados lado a lado, para a sessão de fotografias do João Apolinário, devo dizer que nem um nem outro me prendem o olhar por muito tempo. A silhueta do Born é mais alongada, com os pilares da frente avançados a dar-lhe um ar quase de monovolume.

O Megane tenta esconder um perfil que se aproxima de um SUV, como seria de esperar tendo em conta os modelos que vão ser feitos sobre a sua plataforma. Em termos de dimensões, o Born é 10 cm mais comprido e 4 cm mais baixo, com a distância entre-eixos a ser também 7 mm superior.
Tração à frente ou atrás?
Há uma diferença fundamental entre os dois. Enquanto o Megane tem motor e tração às rodas da frente, o Born tem motor e tração atrás, o que lhe dá uma frente mais curta.

Mas isso também lhe rouba volume à mala, que se fica pelos 385 litros, contra os 440 do Megane. A questão é que o acesso à mala do Born é bem mais fácil que à do Megane, muito funda.
MEB contra CMF-EV
Basta ocupar os lugares da segunda fila para perceber as diferenças entre a plataforma MEB, do Born e a CMF-EV, do Megane E-Tech. Há mais espaço em comprimento para as pernas e mais espaço para os pés, no Born. No Megane E-Tech é tudo um pouco mais acanhado e o acesso não é tão fácil.

Passando para o lugar do condutor, as diferenças também são muito fáceis de encontrar. Apesar das regulações, o banco do Renault está numa posição mais alta, porque a linha de cintura (a base dos vidros laterais) é mais alta que no Cupra.

Isso não impede o Megane E-Tech de ter uma boa posição ao volante. Os bancos são confortáveis, enquanto que os do Born são mais desportivos. Também o volante do Renault, com o seu formato original, parece ter maior raio que o do Cupra, que tem uma pega mais satisfatória.
Ergonomia
Em frente aos olhos do condutor o Born tem um pequeno painel de instrumentos com o comando rotativo da transmissão na sua continuidade, à direita. Está longe de ser a melhor solução ergonómica e obriga a habituação.


No Megane há um painel de instrumentos digital maior e mais completo, enquanto que a alavanca da caixa é uma haste na coluna de direção. Uma solução antiquada mas que continua a resultar bem. Estranhamente, o E-Tech continua a ter o satélite de comando do rádio, que já é uma peça “vintage”.
Digitalização do Renault
Quanto ao ecrã tátil central, por onde hoje passam quase todos os comandos dos carros modernos, também há diferenças substanciais. Na Cupra, temos um ecrã horizontal de 12”, mas de utilização confusa. Além de ter comando de volume e temperatura em “sliders” que não são iluminados à noite.

No caso do Renault, temos um ecrã vertical de 12,3” bem maior e mais fácil de usar, além de ter integrado o excelente Google Auto Services que funciona na perfeição e oferece algumas aplicações conhecidas. Os comandos da climatização são teclas rígidas, fora do infotainment.

Mais abaixo, ambos dispõem de bons espaços de arrumação na consola horizontal e quanto à impressão de qualidade do habitáculo, o Cupra tem nos acabamentos em cor de cobre um detalhe que lhe dá originalidade, mas a maioria dos materiais do Renault são de qualidade um pouco melhor.
Regeneração ajustável
Para ligar o Born basta sentar no banco do condutor e tocar no pedal de travão. O arranque é muito suave, desde que não se exagere com o acelerador. Tanto num como no outro, existem modos de condução à escolha, que fazem variar a sensibilidade do acelerador e a assistência da direção. E que fazem diferença.

Ambos têm maneira de regular a intensidade da regeneração nas desacelerações. No caso do Cupra, escolhendo o nível “B” no comando da transmissão. No caso do Renault, há patilhas para regular a intensidade em quatro níveis.

São duas opções que funcionam bem e nenhuma imobiliza o andamento por completo, é sempre preciso usar o pedal de travão, que se mostrou progressivo em ambos.
Conforto do Born
Em cidade, a primeira diferença que se nota é no conforto de rolamento, sobretudo sobre bandas sonoras ou pisos imperfeitos. Nos dois casos, são usados pneus 215/45 R20, relativamente estreitos e altos, por isso não são os pneus a fazer a diferença.


Mas há uma ligeira diferença, a favor do Born, que mostra maior tolerância ao mau piso, com o Megane a ser ligeiramente mais firme. O menor raio de viragem do Born e a melhor visibilidade para trás, facilitam a condução em cidade.
Consumos repartidos
Quanto aos meus testes de consumo em cidade, feitos sempre com o A/C desligado, os valores que obtive foram de 13,5 kWh/100 km, no Renault e de 16,5 kWh/100 km, no Cupra.

Fazendo as contas, isto resulta em autonomias reais de 445 km, para o Megane E-Tech e de 351 km, para o Born. Uma diferença significativa, tendo em conta que a diferença de capacidade útil das baterias é de apenas 2 kWh (58 kWh, para o Born e 60 kWh, para o Megane).
Quanto à condução em autoestrada, a estabilidade é muito boa em ambos, fruto do Centro de Gravidade baixo, devido à colocação das baterias sob o habitáculo. A sensação de potência disponível é muito boa em ambos e a insonorização em relação aos ruídos de rolamento é ligeiramente melhor no Renault.

Quanto ao meu teste de consumo em autoestrada, os valores que obtive foram de 20,4 kWh/100 km (294 km de autonomia), no Renault e de 18,0 kWh/100 km (305 km de autonomia), no Cupra. Rolando a 120 km/h estabilizados e com o A/C desligado. Aqui os papéis invertem-se, provavelmente devido à melhor aerodinâmica do Born.
Vocação desportiva
Atendendo a uma certa vocação para a condução desportiva que ambos os modelos reclamam, não podia deixar de os levar para uma estrada secundárias com algumas curvas mais exigentes e muito pouco ou nenhum trânsito.

Numa reta deserta, a aceleração a fundo impressiona mais no Megane que no Born, apesar de a diferença nos 0-100 km/h anunciados ser quase nula: 7,3 segundos, no Born e 7,4 segundos, no Megane. A velocidade está limitada aos 160 km/h, em ambos.

O Born tem mais binário máximo (310 contra 300 Nm) mas o Renault tem uma vantagem de potência máxima (220 cv, contra 204 cv). Mas a maior vantagem do Megane E-Tech está no peso com 1636 kg, contra 1859 kg do Born, uma diferença de 223 kg, nos valores anunciados.
Dinâmicas diferentes
A tração do Born é sempre melhor, seja em aceleração em reta, seja nas saídas de curvas lentas, situação em que o ESC do Megane E-Tech é mais frequentemente chamado a intervir.

O Megane tem bom controlo das massas em encadeados de curvas. Tem uma frente rápida e precisa a entrar em trajetória e depois até aceita provocações.
Desacelerando na altura certa, a traseira desliza com “conta, peso e medida” sendo fácil de controlar e divertida. Um típico “GTI” como diz o CEO da Renault.

Curiosamente, o Born também se deixa provocar nas travagens tardias, reagindo como o Megane, talvez até em maior ângulo, mas depois, a deriva não se consegue prolongar com a tração traseira, pois o ESC entra logo em campo.
Não aproveita a tração atrás
Só em pisos escorregadios e depois de entrar em curva sem excesso de velocidade, se consegue sentir a tração traseira a ensaiar uns poucos graus de sobreviragem, que duram pouco tempo até o ESC chegar. A Cupra não arriscou nada com a tração traseira.


A verdade é que o Born parece ter sempre mais aderência que o Megane, talvez explicado pelo tipo diferente de pneus que cada um usa: Continental EcoContact6, no Cupra e GoodYear EfficientGrip, no Renault.
Conclusão
No final, hora de tirar conclusões. O Megane E-Tech EV60 custa 43 850€, o Cupra Born 58 custa 42 438€, por isso não vai ser o preço a marcar a diferença. O Born tem mais espaço mas a mala menor; o Megane tem melhor infotainment mas a posição de condução não é tão boa. Na dinâmica, o resultado final é muito ligeiramente favorável ao Cupra, mas os consumos em cidade do Megane são melhores. As diferenças são pequenas, mas o Megane E-Tech merece a vitória, por ser mais eficiente e mais fácil de usar no dia-a-dia. Mas pela margem mínima.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Renault Megane E-Tech Electric EV60
Potência: 220 cv
Preço: 43 850€
Veredicto: 4 (0 a 5)
Cupra Born 58
Potência: 204 cv
Preço: 42 438€
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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