A Alfa Romeo tem imensa história, a Cupra ainda está a começar, mas seguem o mesmo objetivo: ser alternativas às marcas Premium. Tonale e Formentor são os seus “pontas de lança” para entrar na liga dos SUV mais prestigiados do segmento. Aqui, em confronto, as versões mais acessíveis, para descobrir qual tem melhores hipóteses de ser apurado.
O Formentor passou de sucesso a fenómeno, liderando as vendas da Cupra. Foi o primeiro modelo exclusivo da marca, pois não é partilhado com a Seat. O Tonale está a chegar ao mercado, mas ninguém duvida que será imediatamente o modelo mais vendido da Alfa Romeo. É também o modelo que carrega nos ombros a responsabilidade de fazer a marca dar o “salto” nas vendas.
Um, como o outro, têm a mesma missão: entrar na “liga” dos SUV Premium do segmento C, um grupo restrito e para o qual o apuramento tem sido vedado a muitos candidatos no passado. Mas será que estes dois novos reforços o vão conseguir?…
O estilo é rei
Lado a lado, a agressividade e originalidade do Formentor é contrariada por um estilo que junta a tradição à modernidade, no Tonale. Diferentes, mas cheios de personalidade. O Tonale com uma fisionomia de SUV convencional e o Formentor mais “crossover”.
Por dentro, a silhueta mais alta do Tonale traduz-se numa posição dos bancos também mais acima e na Classe 2 nas portagens, se não tiver Via Verde. No Formentor, sente-se a estrada mais perto e o condutor até tem vista para o longo e plano capót dianteiro, uma raridade nos nossos tempos.

O Tonale leva melhor três passageiros na segunda fila de bancos, porque tem mais espaço para os joelhos e porque o Formentor tem menos largura, além de um volumoso túnel no piso que incomoda quem vai sentado no estreito lugar do meio. Na guerra das bagageiras, a vitória vai para o Tonale, mas por apenas 50 litros.
Mais SUV ou mais crossover?
Ao volante, a diferença de 90 mm na altura exterior fica ainda mais evidente. No Tonale, a posição de condução é a típica de um SUV, mais alta e mais direita, mas com bancos confortáveis, com apoio lateral suficiente. O volante tem o ângulo certo e as suas regulações são amplas.
A alavanca da caixa automática é do tipo convencional e está no sítio onde a mão direita vai à procura dela. Depois, existem duas enormes patilhas metálicas, fixas à coluna de direção, com um aspeto fabuloso, mas que dificultam o uso das hastes de plástico, que ficam atrás.

No Formentor, o condutor vai mais próximo de uma posição de condução de uma berlina. Os bancos desportivos opcionais são ainda melhores que os do Tonale, encaixando o corpo perfeitamente. O volante também está melhor colocado, mas o comando da caixa DSG é uma mini-alavanca muito pequena, que dificulta as manobras.
Ecrãs e ergonomia
Ambos têm painéis de instrumentos digitais, com o do Tonale a fazer animações de abertura e fecho de sessão. No Formentor há várias visualizações que se escolhem no botão “view” no volante.

Este Cupra é mais uma vítima do ecrã tátil que o Grupo VW usa neste segmento. A procura de algumas funções demora tempo e obriga a desviar os olhos da estrada. O ecrã tátil do Tonale é mais pequeno, mas mais fácil de perceber.

Quanto à qualidade do interior, alguns detalhes decorativos do Tonale chamam a atenção nesta “Edizione Speciale” de lançamento, mas o tipo de materiais empregue é equivalente aos do Formentor, que tem detalhes em cor de cobre, típicos da marca.
Um “mild hybrid plus”
O Tonale tem um sistema MHEV, um “mild hybrid” ou híbrido ligeiro que consiste num motor/gerador no lugar do alternador; e um segundo motor elétrico de 20 cv e 135 Nm integrado na caixa de velocidades de dupla embraiagem. Fica assim um degrau acima dos sistemas MHEV vulgares.

Isso permite-lhe circular em modo 100% elétrico durante algumas centenas de metros, o que os MHEV “normais” não conseguem fazer. Mas só se a bateria estiver carregada, se se acelerar com muita suavidade e se for abaixo dos 30 km/h. São muitos “ses” mas num estacionamento de supermercado ou no “para-arranca” mais lento, funciona.

Apesar de a bateria ter apenas 0,8 kWh de capacidade, e estar entre os bancos da frente para não roubar capacidade à mala, a regeneração é muito rápida. É comum ter a bateria acima dos 50%, porque o motor/gerador também a carrega em aceleração, para ter sempre a performance máxima disponível.


O sistema dá uma ajuda ao motor 1.5 turbo a gasolina nas recuperações. E nem é preciso olhar para o indicador dos fluxos de energia para perceber o contributo elétrico, que se reflete também nos consumos, mais baixos em cidade que os do Formentor: 6,3 contra 7,8 l/100 km.
Motor milionário
O Cupra tem o conhecido motor 1.5 TSI, produzido aos milhões pelo grupo, pois é usado em dezenas de modelos. Aqui, está acoplado à caixa DSG de dupla embraiagem e sete relações, neste caso com patilhas fixas ao volante, mas que são demasiado pequenas.

A caixa faz “vela” em vias rápidas, quando se desacelera, e o motor desativa dois cilindros, mas no Formentor ainda não está montada a versão MHEV. O resultado é uma condução suave o suficiente em cidade, mas o som do motor TSI está mais presente.
O Tonale, sobretudo a frio, tem algumas hesitações da caixa e do motor que não existem no grupo motor/caixa da VW.

Ambos têm suspensão traseira independente, o que não é assim tão comum neste segmento, por isso conseguem níveis de conforto aceitáveis, para modelos com uma atitude desportiva e equipados com jantes de 19”, no Cupra e 20”, no Alfa Romeo.
Próximos na autoestrada
Em cidade, a direção muito leve e direta do Tonale pode ser do agrado de alguns, mas a do Formentor tem um tato mais consistente e o raio de viragem é mais curto, o que facilita nas manobras, mesmo se ambos têm câmaras de marcha-atrás.

Em viagens por autoestrada, o Tonale faz muito pouco daquelas oscilações típicas dos SUV, que estão totalmente ausentes do Formentor, pois tem o Centro de Gravidade mais baixo. O modelo do Grupo VW usa a plataforma MQB, enquanto o Tonale tem uma variante da plataforma mais antiga do Jeep Compass.

Ainda não é a EMP2 V3, usada em múltiplos modelos da Stellantis, pois o projeto começou antes da união entre a FCA e a PSA. E isso vê-se no peso, com o Alfa Romeo a chegar aos 1600 kg, enquanto o Formentor se fica pelos 1463 kg. Como seria de esperar, o sistema híbrido do Tonale não lhe traz vantagem nos consumos em autoestrada: circulando a 120 km/h, marcaram ambos 7,3 l/100 km.
Falta potência ao Tonale
Tonale e Formentor têm uma vertente desportiva que não se fica pelo aspeto e pelas rodas grandes, como comprovei levando-os para estradas secundárias e sem trânsito.

No Alfa Romeo, em modo Dynamic, a primeira impressão vem novamente da direção, muito direta e um pouco nervosa, mas que coloca a frente em curva sem subviragem, com os pneus Pirelli PZero de largura 235 a fornecer excesso de aderência.

A carroçaria tem pouca inclinação lateral em curva, a suspensão mantém tudo sob rigoroso controlo, numa atitude que resulta neutra. Os 130 cv desta versão surgem de forma progressiva, com uma ligeira preferência para a vizinhança das 5000 rpm.
Mas a verdade é que o motor não entusiasma e as patilhas acabam por não dar ordem a passagens de caixa muito rápidas. O som do motor podia ser mais melodioso, tratando-se de um Alfa Romeo.
Formentor tem mais força
O Formentor 1.5 TSI DSG tem mais 20 cv que o Tonale e isso nota-se na primeira aceleração a fundo, com o Cupra a ganhar um segundo nos 0-100 km/h, 8,9 contra 9,9 s.

É verdade que o sistema híbrido dá uma ajuda ao Tonale, mesmo neste tipo de estradas, mas o TSI até tem mais 10 Nm de binário máximo, às mesmas 1500 rpm.

No Tonale, as diferenças entre os modos A, N e D são fáceis de perceber, até mais que entre os modos Comfort e Sport do Cupra. Mas a direção do Formentor é mais progressiva, menos brusca. O Cupra tem pneus GoodYear Eagle F1 de medida 245, ainda mais largos que os do Tonale, mas o acerto da suspensão é bem diferente.
Dinâmicas diferentes
Se a frente é igualmente resistente à subviragem, a traseira do Formentor já se deixa provocar mais, aumentando o gozo da condução.

Ser mais baixo faz aqui toda a diferença, com menor inclinação em curva e transferências de massas menos amplas em encadeados de curvas, a inércia condiciona menos a condução e a atitude do Formentor é sempre mais ágil e dinâmica.

Terei que esperar pela versão do Tonale com 160 cv, que partilha o mesmo motor 1.5 turbo e o sisteme MHEV, para confirmar se as posições se invertem, no que à performance e dinâmica diz respeito.
Conclusão
Neste confronto com o seu rival natural, o Tonale consegue aproximar-se em muitas áreas, chegando a superar o Formentor em algumas delas. O resultado final deste confronto valida o trabalho que a Alfa Romeo fez, com as ferramentas de que dispunha no início do projeto, antes da integração na Stellantis. O Formentor ganha, por pouco, porque é um produto baseado em elementos mais do que comprovados do Grupo VW e porque a Cupra soube com eles fazer um candidato muito forte ao apuramento para a liga dos SUV Premium.
Francisco Mota
(fotos de Gonçalo Martins)
Alfa Romeo Tonale 1.5 MHEV
Potência: 130 cv
Preço: 40 600 euros
Veredicto: 3 (0 a 5)
Cupra Formentor 1.5 TSI DSG
Potência: 150 cv
Preço: 38 771 euros
Veredicto: 3,5 (0 a 5)
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