






















A seguir ao Mustang Mach-E a Ford lança na Europa o Explorer. Apesar do nome evocar o modelo que fez fama nos EUA, o novo C-SUV é o primeiro Ford elétrico fabricado na Europa. Saiba tudo em mais um Primeiro Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota.
O Mustang Mach-E levou a Ford para o mundo dos veículos elétricos de passageiros na Europa, usando um nome carregado de história aplicado a um modelo crossover. Despois das primeiras reações de estranheza, a verdade é que o modelo acabou por ser bem aceite, até no mercado português.
Contudo, pelo preço e pelo posicionamento, nunca seria o modelo de que a marca precisa para avançar nos elétricos. Esse modelo chega agora e também usa um nome que fez fama no mercado americano, o Explorer elétrico. Ao contrário do Mustang Mach-E, que é fabricado no México com prioridade para os EUA, o Explorer já começou a ser feito no histórico parque industrial da Ford em Colónia, na Alemanha.

As instalações da Ford foram alvo de uma profunda remodelação com custos de dois mil milhões de euros. Isto é importante saber, porque o Explorer é feito com base na plataforma MEB do grupo VW, a mesma que serve a modelos como o ID.4 ou o Enyaq ou o Q4 e-tron, entre muitos outros. Só que, nem o Explorer é um desses modelos do grupo alemão, apenas com uma grelha diferente, nem sequer é feito pelo grupo VW e entregue “chaves na mão” à Ford.
O “body-in-white”, pintura e montagem final são feitos em Colónia, isto porque o investimento não tem o Explorer como único objetivo. A Ford tem planos para fazer outros modelos com base na MEB, o segundo será apresentado muito em breve e vai surpreender muitos…
Ao vivo e a cores
Ao vivo e na rua, o Explorer tem ao mesmo tempo um aspeto compacto e marcante. A distância entre eixos é a mesma do ID.4 mas é mais curto, por ter vãos dianteiro e traseiro muito curtos. A silhueta é a da um típico C-SUV, com capót muito plano, mas sem “frunk” e traseira quase vertical, o que permite oferecer 470 litros de capacidade de mala.

O desenho dos faróis e luzes de trás são originais o suficiente e dão ao modelo o ar americanizado que os designers da marca pretendem reforçar em futuros modelos. As jantes são de 20” para sublinhar o aspeto “robusto” do modelo.
Tudo isto já era conhecido desde 2022, quando este Explorer foi mostrado pela primeira vez. Depois, problemas com a mudança do tipo de bateria a montar no modelo levaram a um atraso de um ano.
Preços em Portugal
O Explorer já está à venda em Portugal, com as entregas aos primeiros clientes agendadas para setembro. A gama disponível inclui três versões, das quais duas vão estar disponíveis no lançamento, são elas a Single Motor RWD com bateria de 77 KW e 286 CV (46 600 euros) e a Twin Motor AWD com bateria de 78 KW e 340 cv (53 700 euros).

Mais tarde estará disponível um Single Motor com bateria de 52 KW e 170 cv, em todos os casos, a capacidade indicada das baterias é a útil e a potência máxima de carregamento é de 135 KW no RWD de 286 cv, situação em que demora 28 minutos para ir dos 10 aos 80% de carga.
Estilo americanizado
Com uma zona vidrada que inclui três vidros laterais, para melhorar a visibilidade, o Explorer tem um interior para o qual é fácil entrar, não só porque as portas são amplas o suficiente, mas porque a altura dos bancos está no ponto certo, para não ser preciso fazer grande esforço com as ancas. Nos lugares de trás, há muito espaço em comprimento para as pernas, mas o piso está alto em relação ao assento, deixando as coxas mal apoiadas. A altura é suficiente, mas a largura impede um lugar central com o mesmo espaço dos outros dois.

Na frente, a sensação de espaço é mais que razoável, com suficientes ajustes dos bancos e do volante. A posição de condução não é muito alta, mas o suficiente para ver o longo capót. Ao banco não falta conforto, o que falta é mais apoio lateral, mas tem apoio lombar em excesso, mesmo no nível mínimo. O volante é achatado em cima e em baixo, o que perturba a pega, para quem gosta de volantes normais. O aro também é um pouco fino e tem botões táteis, que as palmas das mãos tocam sem querer durante as manobras.
Habitáculo versátil
O painel de instrumentos atrás do volante é conhecido de outros modelos que usam esta plataforma, sendo simples e fácil de ler. O comando da transmissão é uma haste rotativa colocada na coluna de direção, não muito ergonómica, pois inclui o comando da função “B” de máxima regeneração na desaceleração. Mas tem o mérito de libertar a consola entre os bancos para poder levar até 17 litros de objetos, retirando o suporte dos porta-copos. Há espaço para levar um computador portátil e ainda uma prateleira inferior.

Mas a grande novidade é o ecrã tátil central de 14,6” que se encontra na vertical inserido na consola. É um sistema diferente do usado pelo grupo VW (e melhor…) com gráficos semelhantes aos conhecidos do Mustang Mach-E e uma organização que não é muito difícil de usar. Tem os comandos da climatização sempre visíveis na base, o que facilita. Mas a sua originalidade é poder ser colocado em vários ângulos, para evitar reflexos. Ao empurrar o ecrã para trás, desvenda-se um cofre “secreto” que depois de fechadas as portas do Explorer, fica trancado.
Em estrada com 286 cv
De resto, o desenho do interior não é muito original, com uma coluna de som sobre o tablier que não impede a presença de um head up display. A qualidade dos materiais usados no interior é muito variável, havendo algumas superfícies macias e muitas de tato mais duro e menos agradável ao toque.

Para este Primeiro Teste TARGA 67, usei a versão Single Motor RWD com bateria de 77 KW, a mais relevante para o mercado nacional. Sem surpresa, a insonorização foi o primeiro aspeto a agradar logo nos primeiros metros. Claro que a posição do motor junto do eixo traseiro motriz dá uma ajuda, mas o isolamento geral está a muito bom nível.

A reposta do acelerador é muito fácil de dosear e tem força mais que suficiente, mesmo no modo de condução Eco. Não há patilhas para regular a regeneração na desaceleração, mas o modo “B” faz uma retenção muito progressiva e forte o suficiente no trânsito, apesar de não ser um “one pedal” pois obriga a usar o pedal de travão para imobilizar o veículo.
Competente em estrada
Em cidade, progressão muito suave com os pneus de medida 235/50 R20, na frente e 255/45 R20, atrás a darem uma boa direcionalidade, sem penalizar o curto raio de viragem que facilita as manobras. Contudo, a direção está demasiado assistida, em qualquer dos modos de condução, perdendo-se ligação à estrada.

O conjunto suspensão/pneus também se mostrou muito firme sempre que a estrada não era perfeita, sacundido o habitáculo. Claro que, em autoestrada, a suspensão firme tem a vantagem de manter uma estabilidade excelente e muito bom controlo da carroçaria em todas as situações. Também aqui, a insonorização se mostrou bem conseguida, ao nível aerodinâmico e a sensação de disponibilidade de força do motor é muito boa, ou não tivesse 545 Nm de binário máximo no arranque, que faz esquecer os 2102 kg de peso total. Segundo a Ford, a velocidade máxima está limitada aos 180 km/h.
Divertido na montanha
Para terminar este Primeiro Teste TARGA 67, uma passagem prolongada por uma estrada de montanha estreita, muito sinuosa e com gradientes pronunciados, tudo aquilo que a autonomia de um elétrico não aprecia. Mas esta não era a altura de testar autonomias ao detalhe, que a Ford anuncia, para esta versão, variar entre os 572 e os 602 km, segundo a norma WLTP para ciclo misto ou urbano. No final deste teste, incluindo todo o tipo de condução, o computador de bordo marcou 18,2 KWh/100 km.

Com uma aceleração anunciada de 0 a 100 km/h em 6,4 segundos, não falta rapidez ao Explorer nas retas pequenas desta parte do percurso. A travagem, com discos ventilados nas quatro rodas, mostrou-se à altura e a regeneração deu uma boa ajuda. Os pneus sobredimensionados evitam a subviragem na entrada em curva, mesmo exagerando com a velocidade, mantendo a trajetória sem dificuldade.
Precisa de uma OTA
Mas o tato da direção deixa a desejar, não induz aquela ligação entre as mãos e as rodas da frente que é tão especial dos Ford, precisa de uma atualização “over the air”. A inclinação lateral é pouca e o controlo dos movimentos parasitas muito bom, sobretudo para um C-SUV destas dimensões e peso.

Escolhendo o modo Sport e também o mesmo modo no ESC, assim que se acelera para sair das curvas, a tração traseira inicia uma ligeira deriva para terminar a curva com uma divertida sobreviragem, sempre a utilizar a tração disponível da melhor maneira. Exagerando com o pedal da direita, o ESC volta ao palco, mas basta dosear bem o acelerador e a direção para conseguir fazer um bom troço de estrada sempre com uma atitude sobreviradora, sem que a eletrónica se intrometa.
Conclusão
A Ford não alterou nenhum do hardware da MEB, por razões de custos, mas teve margem para definir as suas afinações de aspetos como a direção assistida, ESC e escolher os pneus, amortecedores, molas e barras estabilizadoras de entre os disponíveis para todas as versões dos modelos que usam a MEB. O resultado é diferenciador o suficiente em todas as áreas, do estilo ao interior, passando pela dinâmica mostrando que a parceria com o grupo VW tem tudo para resultar.
Francisco Mota
Ford Explorer Single Motor 77 kW
Potência: 286 cv
Preço: 46 600 euros
Veredicto: 4 estrelas