A FIAT volta ao segmento B com uma reinterpretação do Panda original, que agora se chama Grande Panda, fazendo justiça ao tamanho. Descubra tudo sobre este novo B-SUV, que tem uma das versões elétricas mais baratas do seu segmento, em mais um Primeiro Teste, conduzido por Francisco Mota.

A FIAT escolheu a música italiana de 1982, “Felicità” como banda sonora para a campanha de lançamento do Grande Panda, enquadrando assim o desenho nostálgico do novo B-SUV, inspirado no do Panda original, lançado em 1980. Tendo em conta este posicionamento, parece-me que a música equivalente em Portugal será “Recordar é viver” que Victor Espadinha estreou precisamente em 1980. Aliás, a letra da música portuguesa até descreve melhor o conceito do Grande Panda, naquilo que tem de inspiração no Panda original e na própria FIAT, mas já vamos ver os detalhes do estilo.

O Grande Panda não substitui o atual Panda, que se passou a chamar Pandina e que vai continuar a ser produzido tal como o conhecemos pelo menos até 2027, mais restyling, menos restyling. Poderá até ter um sucessor, se o mercado estiver para aí virado. O Grande Panda tem outra missão, que é trazer a FIAT de volta ao segmento B, de onde está ausente desde que a última unidade do Punto foi produzida em 2018. É o segmento histórico da FIAT, que acumulou até essa data um total de 23 milhões de unidades de todos os modelos, incluindo o 127, o Uno e muitos outros. Mesmo sem presença no segmento B – a não ser o recente 600 – a FIAT é a marca que mais vende na Stellantis, com 1,26 milhões de carros entregues em todo o mundo durante 2024.
Smart Car
Feito com base na plataforma “smart car”, concebida para o mercado da Ìndia há dois anos e também usada na América do Sul, o Grande Panda será um carro global, vendido em praticamente todos os mercados onde a marca opera, claro que com especificações diferentes para cada região, tanto ao nível de suspensões, como de motorizações, pois trata-se de uma plataforma multi-energias, capaz de albergar motores a gasolina, MHEV e 100% elétricos. Na Europa há uma clara pressão para vender o elétrico, mas o mais vendido deverá ser o MHEV, o “mild hybrid” ou semi-híbrido.





Prevista para futuro próximo está a versão de sete lugares, a exemplo do que se passa nos seus “primos” Citroën C3 e Opel Frontera, que partilham a mesma plataforma “smart car”, com suspensão MacPherson, à frente e barra de torção, atrás. A FIAT faz notar que a afinação da suspensão, escolha de amortecedores, molas e barras estabilizadoras foi de sua responsabilidade, para dar um “pisar FIAT” ao Grande Panda. Não tão macio como o C3, mais próximo do Opel Frontera. Ao contrário das marcas parceiras neste projeto, a FIAT será a única a desenvolver uma versão 4×4 do Grande Panda. O trabalho está a ser feito, mas ainda não há decisão sobre se será com base na versão semi-híbrida, na elétrica ou em ambas. Uma coisa é certa, a herança dos Panda 4×4 do passado será cumprida também pelo Grande Panda.
É Grande…
O Grande Panda tem 399 cm de comprimento, 176 cm de largura e 157 cm de altura. Comparando com o Panda que passou a Pandina, são mais 34 cm de comprimento, mais 12 cm de largura e mais 2 cm de altura. Diferenças consideráveis que se tornam óbvias com um carro estacionado ao lado do outro. Este primeiro contacto começou na famosa pista oval de testes no topo da antiga fábrica da FIAT do Lingotto, em Turim. E também lá estava um exemplar do primeiro Panda, proveniente do museu da marca, o que facilitou a descoberta da fonte de inspiração para o Grande Panda.



Apesar da silhueta SUV, há muitas linhas que fazem lembrar o Panda de 1980, a começar pela inclinação do pára-brisas que é a mesma. O formato poligonal das cavas das rodas é outro piscar de olhos ao passado, reforçado com molduras negras que fazem a altura ao solo parecer ainda maior do que é (137 mm). Na base das portas está moldada na chapa o nome do carro, uma inspiração nas edições especiais de final da carreira do Panda original. O recorte da zona vidrada é diferente mas também sem linhas curvas e as barras no tejadilho também foram usadas no Panda.



O Panda original era feito de painéis e vidros planos para reduzir os custos de produção, o Grande Panda vai buscar alguma inspiração nessa característica, agora com objetivos estilísticos e não funcionais. Isso nota-se no capôt dianteiro e nas portas, mas também na tampa da mala e na vista traseira com luzes verticais e óculo com inclinação semelhante ao original. As janelas da fábrica do Lingotto serviram de inspiração para o desenho quadriculado da frente e dos próprios faróis de LED que desenham um “H”. Tanto o pára-choques da frente como o de trás têm a parte inferior em plástico escuro não pintado, como o Panda dos anos 1980, acrescentando detalhes a imitar metal na base, como se fossem proteções para todo-o-terreno.
Jogos de vídeo de 1980
No habitáculo também se encontram referências ao universo FIAT, como o contorno oval da superfície que agrega o painel de instrumentos e o monitor tátil central; sendo usado a mesma ideia para o contorno da consola, ambos evocando a pista oval do Lingotto. Também o almofadado quadriculado dos bancos evoca o dos bancos do primeiro Panda, mas as inspirações não param por aqui. O painel de instrumentos tem grafismos a lembrar os primeiros jogos de vídeo dos anos 1980, a sua leitura é muito fácil mas ainda está à espera de uma atualização de software que lhe vai trazer indicação de consumo médio e instantâneo, na versão elétrica. Por agora fica-se pela percentagem de carga da bateria e pela autonomia estimada pelo sistema.




O monitor central tátil é simples e fácil de usar dando razão à FIAT quando diz, com alguma piada, que o Grande Panda não é um “low cost” é um “love cost”. Ao lado está uma silhueta em miniatura do Grande Panda dentro de uma caixa em plástico transparente esverdeado, a percorrer a silhueta do Lingotto. Mais interessante é o segundo porta-luvas, colocado na parte superior do tablier e feito em fibra de Bambu… o alimento dos Pandas. Isto obrigou o airbag do passageiro a migrar para o tejadilho. A meia altura do tablier há uma prática prateleira aberta, que também havia no Panda, existindo acessórios para lá fixar dispositivos como um smartphone ou um tablet.





Ao centro, a meio da consola, está o módulo da climatização, bem mais fácil de usar do que se estivesse algures dentro do infotainment. Entre os bancos está o gatilho encastrado usado por milhões de modelos da Stellantis, para comando da transmissão, que não é muito prático e vem acompanhado por minúsculos botões P e C, com o segundo a diminuir a intensidade da regeneração na desaceleração e a disponibilidade de binário nas acelerações pequenas a moderadas. Quanto à qualidade dos materiais, há a dizer que são todos duros, mas de acabamento suficientemente bom para não se pensar muito nisso. Os azuis que se podem ver nas imagens contêm material oriundo de um novo tipo de reciclagem, a FIAT diz que cada carro leva o equivalente a 140 embalagens térmicas de sumos, vulgarmente conhecidas como “tetra pak”, que contêm cartão e alumínio.
Ao volante
O volante tem dois raios e uma mistura de teclas físicas e botões hápticos que não são muito intuitivos. Estranhamente, para ligar o motor roda-se uma chave tradicional, supostamente para poupar nos custos de produção. As regulações do volante, em altura e alcance, são pouco amplas, mas a posição de condução, pelo menos para a minha estatura, é correta. Um pouco mais alta que num utilitário convencional, dotada de um banco confortável e com apoio lateral suficiente e pedais bem posicionados. A visibilidade é boa. A sensação de habitabilidade nos lugares da frente é suficiente, tal como nos lugares da segunda fila, que têm razoável espaço para os joelhos, altura e acesso amplos e largura limitada, dois passageiros vão bem, três não.




O piso é alto em relação ao assento, dificultando o apoio das coxas no banco. A mala tem 361 litros de capacidade e um espaço para guardar os cabos da bateria sob o piso, não há “frunk” sob o capôt dianteiro. O que há é um cabo espiral, arrumado na frente e acessível através de uma portinhola na grelha. O cabo está fixo ao sistema elétrico numa ponta e tem a ficha para carregamento a 7 kW AC, na outra. Evita sujar-se as mãos com os cabos normais que se arrastam pelo chão e com 4,5 metros de comprimento permite aceder ao ponto de carga, mesmo com o Grande Panda estacionado de marcha atrás. A tomada para os carregadores rápidos de 100 kW DC está atrás, sob o terceiro pilar, no mesmo lugar do bocal do depósito de gasolina nas versões com motor de combustão.


Como já se percebeu, este Primeiro Teste TARGA 67 incidiu na versão elétrica que usa um motor transversal dianteiro de 113 cv e tração à frente, alimentado por uma bateria de química LFP com 45 kWh de capacidade, que a FIAT anuncia ter uma autonomia de 320 km. Mas a estrutura tem espaço para uma bateria maior, que a FIAT lançará se a procura assim o ditar. Uma versão mais barata, com menor autonomia também é possível. A outra opção no lançamento é o semi-híbrido ou “mild hybrid” que a marca chama simplesmente Hybrid. Usa o conhecido motor turbo de três cilindros e 1,2 litros PureTech com 100 cv (já na última evolução, com distribuição por correia) ajudado por um motor/gerador elétrico de 28 cv montado dentro de uma caixa de dupla embraiagem. Também aqui, há a possibilidade de oferecer no futuro a versão de 136 cv, já apresentada pela Opel e Citroën ou mesmo a variante sem sistema híbrido e com caixa manual deste mesmo 1.2 turbo de 100 cv, para ter uma versão base.
As versões
Quanto a versões disponíveis no lançamento, o elétrico disponibiliza apenas as versões RED e a La Prima. A que usei neste teste foi a segunda. A RED associa-se à organização humanitária com o mesmo nome e distingue-se por ter jantes em aço brancas que dão ao Grande Panda um ar mais rústico, tal como nos antigos Panda 4×4, além de um nível de equipamento menos completo que o La Prima. Quanto ao semi-híbrido, está disponível nas versões Pop, Icon e La Prima, com a segunda a ter dois pacotes opcionais: Tech ou Style. A FIAT anunciou que já tem 15 000 encomendas em carteira, a poucos dias de começar as vendas.



Voltar ao segmento B com um modelo chamado Uno ou Punto, não seria o que o público comprador desejaria, nesta era dos SUV, acredita a FIAT, que não descarta a hipótese de estes nomes ainda virem a ser usados para os modelos que a marca prepara. O futuro não será só o Grande Panda, os técnicos e estilistas estão a trabalhar em mais modelos, maiores, feitos com base nesta mesma plataforma. Nada está confirmado, mas não arrisco muito se disser que se esperam mais SUV com estilo inspirado em modelos antigos e bem sucedidos da FIAT. Um deles já está definido e já existem maquetas à escala real, mas a FIAT não dá mais detalhes.
Às voltas no Lingotto
Este Primeiro Teste TARGA 67 começou na pista do Lingotto, sem autorização para circular na pista oval e nos seus inclinados “bankings”, mas com a oportunidade de descer o “caracol” de vários andares até à rua, como fizeram milhões de modelos da FIAT aqui produzidos durante décadas. Nas ruas mal conservadas de Turim, a primeira impressão vem da suspensão, que tem um tato firme e controlado, mas não transmite pancadas secas para o habitáculo. A direção está bem assistida, não é demasiado leve e o pedal de travão é fácil de modular. Não existem modos de condução para escolher nem um botão “B” para maior regeneração na desaceleração, pelo contrário, o botão “C” proporciona o oposto, para quem prefere fazer o trabalho de travagem sem ajuda elétrica e com uma resposta mais amortecida do acelerador. Em ambos os casos, a calibração está bem feita, sendo duas maneiras naturais de guiar em cidade. Os 113 cv são mais que suficientes em cidade, com arranques rápidos mas não do estilo foguete. Claro que os pneus 205/50 R17 não têm problemas em lidar com o binário de 125 Nm.


Saíndo para as estradas secundárias às portas de Turim, a potência máxima continua a parecer suficiente para um B-SUV elétrico com ambições de pequeno familiar, a FIAT anuncia um valor de 11 segundos para a aceleração 0-100 km/h. A suspensão controla bem os movimento da carroçaria, permitindo uma atitude estável na maioria das situações. Em curvas mais fechadas, feitas a velocidade um pouco mais alta, claro que se nota uma certa inclinação lateral, mas não em exagero, pois a colocação da bateria sob o habitáculo mantém o Centro de Gravidade relativamente baixo.
Ágil o suficiente
Exagerando um pouco na entrada em curva, é claro que a subviragem surge cedo, mas o ESC entra em ação de forma decidida sem ser brusca. Se for preciso desacelerar bruscamente a meio de uma curva longa e a velocidade mais alta, a traseira pode deslizar um pouco, mas muito pouco e, mais uma vez, o ESC está lá para ajudar. Sem ser um exemplo de agilidade, a condução do Grande Panda vai certamente satisfazer a maioria dos condutores, até porque os 1554 kg acabam por não estragar a experiência de condução.


Uma rápida passagem por uma “autostrada” permitiu perceber que os ruídos de origem aerodinâmica e de rolamento são baixos e que a suspensão faz um bom trabalho, seja em termos de controlo, seja de conforto. A FIAT anuncia uma velocidade máxima de 132 km/h. Para chegar a um Veredicto, ficou a faltar testar os consumos e autonomias, uma tarefa que vou deixar para um teste mais prolongado em estradas portuguesas. Por isso não vai encontrar no final deste Teste TARGA 67 a habitual nota de 0 a 5.
Conclusão
Para a FIAT, a “smart car” é uma plataforma ideal, que as marcas francesas da Stellantis de início não queriam na Europa, segundo me disse Olivier François, o CEO da FIAT. Mas terá sido Carlos Tavares a pressionar para que ela viesse mesmo para a Europa. A FIAT aponta a Dacia e o mercado de usados como os principais rivais do Grande Panda e espera também clientes que estejam a fazer um “downgrade” no seu automóvel, optando por um modelo mais simples. Uma coisa ficou clara neste Primeiro Teste TARGA 67, não vão encontrar um produto “low cost”, vão encontrar um automóvel competente, com algum charme e com objetivos muito bem definidos. E por preços abordáveis: o elétrico começa nos 23 547 euros e o híbrido nos 18 616 euros.
FIAT Grande Panda La Prima Electric
Potência: 113 cv
Preço: 26 547 euros
Ler também, seguindo o Link:Teste – Fiat Panda Hybrid: híbridos não se medem aos palmos