Numa altura em que comemora 75 anos, a Abarth lança o seu primeiro B-SUV elétrico. O Abarth 600e está disponível em versões de 240 e 280 cv e Francisco Mota já esteve em Balocco, a pista de testes italiana da Stellantis, para um Primeiro Teste. Fique a saber o que vale este desportivo elétrico.

A Abarth fez história através de variantes de modelos da Fiat, algumas destinadas ao uso em estrada, outras dedicadas exclusivamente à competição. O negócio das peças de preparação desportiva também foi um ponto forte da Abarth, em áreas tão distintas como as suspensões, escapes, jantes e muito mais. Mas a Abarth de hoje é muito diferente da Abarth do passado. A aposta nos modelos 100% elétricos começou com o Abarth 500e e continua agora com o Abarth 600e, com uma subida de potência e de prestações que merece atenção.
Abarth B-SUV elétrico
Se o Abarth 500e de 155 cv se posiciona como um citadino capaz de prestações entusiasmantes, acompanhadas por um estilo exterior bem desportivo e por um ambiente do habitáculo muito apelativo, já o 600e tem outras ambições. Desde logo na carroçaria de cinco portas e na plataforma e-CMP2, que é partilhada com todos os B-SUV das marcas da Stellantis. É uma plataforma multi energias, capaz de acolher motorizações 100% elétricas, mild-hybrid e só a combustão.



Em termos de dimensões, o 500e mede 3,64 metros, enquanto o 600e chega aos 4,19 metros, um pouco mais do que o Fiat 600e, devido aos para-choques maiores. Ainda assim, o 600e não é um dos B-SUV mais habitáveis do segmento, tendo relativamente pouco espaço nos lugares traseiros, sobretudo em comprimento e largura.
No caso deste Abarth 600e apenas estão disponíveis as versões 100% elétricas, em duas opções, o Turismo, e o Scorpionissima, tendo ambos o mesmo binário máximo de 345 Nm e um regime máximo de motor de 15 000 rpm. Face ao Fiat 600e 100% elétrico de 156 cv e 260 Nm, as mudanças são muitas, como seria de esperar de um Abarth.
200 km/h
Desde logo pela utilização de um motor específico e de uma bateria também diferente do 600e, mas com os mesmos 50,8 kWh úteis do Fiat. Com uma química diferente, o Abarth 600e consegue atingir os 200 km/h de velocidade máxima e a marca afirma que o modelo consegue fazer uma volta completa ao circuito alemão do Nürburgring, onde o 600e foi desenvolvido, sem perder rendimento, graças a um sistema de arrefecimento reforçado. A bateria carrega a um máximo de 100 kW DC.





Para conseguir essa performance, a Abarth montou uma barra estabilizadora extra, anexa à barra de torção traseira, com 140 mm de espessura. A suspensão é 25 mm mais baixa e 41% mais firme que no Fiat 600e e os pneus Michelin Pilot Sport 225/40 R20 têm maior dureza nos ombros e menor no centro, com 20% de redução de ruído. A direção é mais direta e também os travões foram melhorados, com discos ventilados Alcon de 280 mm na frente.
Travões naturais
Ainda nos travões, a Abarth decidiu não usar regeneração na travagem quando se usa o modo mais desportivo Scorpio Track. Na desaceleração, a regeneração está ativa, mas quando se pressiona o pedal de travão isso não acontece, para garantir um tato de pedal mais natural. Talvez o componente mais importante seja o autoblocante, que bloqueia a 36%, em aceleração e 34%, em desaceleração, garantindo um nível de tração muito superior. Com tudo isto, a Abarth garante que o 600e é capaz de gerar 1g de aceleração lateral em curva. Curiosamente, a Stellantis usou o seu simulador de Fórmula E para desenvolver este Abarth 600e.



Estão disponíveis duas versões do Abarth 600e, o Turismo de 240 cv (45 000 euros) e o Scorpionissima de 280 cv (49 000 euros), ambos vão estar à venda em Janeiro para as primeiras entregas. O Turismo anuncia uma aceleração 0-100 km/h em 6,2 segundos, enquanto que o Scorpionissima faz o mesmo em 5,85 segundos. Para o condutor estão disponíveis três modos de condução: Turismo, Scorpio Street e Scorpio Track. O primeiro é o equivalente ao modo Eco e está limitado aos 100 cv. Os outros chegam à potência máxima carregando no acelerador a fundo. Existe ainda uma função “B” para maior regeneração na desaceleração, mas não há patilhas.





Por dentro, há uma decoração evocando o escorpião tradicional da Abarth e instrumentos específicos no monitor tátil. Os bancos Sabelt desportivos têm uma parte das costas aberta, para refrigerar o corpo, e algumas superfícies são revestidas a Alcantara, se bem que a maioria usa plásticos duros. O painel de instrumentos é simples e há bons porta-objetos na consola, mas os botões da transmisão, espalhados na consola, não são intuitivos. A mala leva 360 litros de capacidade.
Em Balocco
Não falta o sintetizador de som exterior, que se pode desligar e que imita um motor a combustão, tal como no 500e. É uma questão de gosto, que na cidade e a baixa velocidade fará pouco sentido. Comecei este Primeiro Teste ao volante do Scorpionissima numa das pistas de testes do complexo de Balocco. Depois de umas quantas curvas em modo Turismo e Scorpio Street, passei ao modo Scorpio Track, notando desde logo uma reação mais rápida do acelerador, mas sem brusquidão.




A aceleração é bastante forte e continuada, sem um decréscimo aparente quando se aproxima da velocidade máxima. A tração é muito boa, devido ao eficiente trabalho do autoblocante Torsen. Mesmo na saída das curvas mais fechadas, as rodas da frente colocam todo o binário no piso, apenas com um pouco de “torque-steer”. A frente evita muito bem a subviragem, mantendo uma atitude neutra e eficiente que permite levar velocidades altas nas curvas mais rápidas.
Mais animação
Querendo um pouco mais de animação, é possível fazer rodar a traseira na entrada em curva ou mesmo em apoio, com um efeito bem medido e de controlo fácil. A direção dá uma ajuda, com uma assistência bem calibrada e boa rapidez. Quanto aos travões, confirma-se que a ausência de regeneração na travagem contribui para um fácil doseamento do pedal.



A segunda parte deste Primeiro Teste decorreu em estrada, fora da pista, ocasião para confirmar que a suspensão tem um tato firme, sobretudo em pisos mais degradados. Contudo, não tem um pisar demasiado castigador para os ocupantes do Abarth 600e. Esta segunda parte decorreu a bordo da versão Turismo de 240 cv. Claro que os 40 cv a menos se notam, mas não a ponto de considerar o Turismo uma versão realmente inferior ao Scorpionissima. Em estrada, a performance real não é muito diferente.
Conclusão
Neste momento, 10% do volume de produção dos modelos que dão origem aos Abarth são Abarth, mostrando o apelo que a eletrificação está a causar na marca fundada por Carlo Abarth. O fim da produção dos Abarth a combustão talvez não vá deixar tantas saudades como alguns pensavam.
Francisco Mota
Abarth 600e Scorpionissima
Potência: 280 cv
Preço: 49 000 euros
Veredicto: 4 estrelas
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