A Leapmotor chegou a Portugal. O seu modelo de “ataque” é o citadino T03, um rival do Dacia Spring, como o provou o Primeiro Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por Jorge Cunha.

A Leapmotor foi fundada em 2015 na China e produziu o seu primeiro carro quatro anos depois. O citadino T03 chegou em 2020 ao mercado chinês e a gama não tem parado de crescer. É uma marca de “value for money”, ou seja, uma concorrente direta da Dacia, com a diferença de apenas ter modelos elétricos na Europa.
Leapmotor e Stellantis
O mais pequeno é precisamente o T03, um rival direto do Dacia Spring. Mas já vamos ver o que vale este citadino elétrico. Primeiro, vale a pena recordar que a Leapmotor assinou uma joint-venture com a Stellantis, para a distribuição e comercialização da Leapmotor fora da China, através da Leapmotor International. Nesse contrato, a Stellantis ficou com 51% do negócio e tem aspirações de chegar aos 100%.

A Stellantis tem também aspirações a construir modelos da Leapmotor na Europa e, talvez, noutras regiões fora da China, aproveitando o imenso parque industrial do grupo Stellantis. Só para se ter uma ideia, na China, a Leapmotor fabricava 1037 carros, em 2019 e em 2024 terminou o ano com 293 724 unidades vendidas, tendo como objetivo chegar às 500 000 unidades já em 2025. Esta aceleração levou a Leapmotor a posicionar-se como a segunda marca que mais elétricos produz na China.
A 15ª marca
Qual o interesse da Stellantis em acrescentar a 15ª marca ao seu vasto portefólio? Em primeiro lugar porque lhe dá acesso a alguma tecnologia própria da Leapmotor, tanto em termos de hardware como de software. Depois, porque consegue posicionar a Leapmotor como uma marca de “value for money”, devido aos baixos custos de produção na China, entrando num segmento em que ainda não estava, sobretudo com modelos elétricos.

Quanto ao T03, trata-se de um citadino de 3,620 m de comprimento e 1,577 m de largura, com cinco portas mas apenas quatro lugares. O estilo talvez seja o ponto menos conseguido do T03, para lá do nome que mais parece um código interno da Leapmotor. As formas arredondadas exteriores parece invocarem uma nostalgia indistinta.

O resultado não é muito bom, mas não faltam as luzes diurnas em LED, tecnologia usada também para as luzes de trás. As jantes são de 15” e há um teto de abrir em vidro com 42” de diagonal e cortina interior. A única opção que existe é a escolha da cor, não existem opcionais, nem pacotes de opcionais, só há uma versão, com muito equipamento de série. Sobretudo considerando que estamos a falar de um modelo do segmento A.
Só uma versão
Vale a pena falar de alguns equipamentos de série, tais como os espelhos retrovisores elétricos e aquecidos com indicador de mudança de direção. O painel de instrumentos digital de 8”, existindo também um monitor central tátil de 10,1” que integra navegação e comandos por voz. Há ainda a função câmara de marcha-atrás e ligação Bluetooth para emparelhar o smartphone. Além de botões no volante.


O ambiente no habitáculo é melhor do que é a norma no segmento A, com um desenho simples mas que transmite uma sensação de qualidade mais que suficiente, apesar de só existirem plásticos duros no interior. O monitor central tátil está colocado sob as grelhas centrais da climatização e integra, em rodapé, alguns atalhos, mas não é um exemplo de ergonomia.
Espaço aproveitado
Os bancos da frente têm encostos de cabeça integrados para reduzir custos, são razoavelmente confortáveis, mas têm pouco apoio lateral e são curtos para as pernas. O espaço não é abundante, apesar de os bancos estarem muito próximos um do outro e de a consola estar reduzida ao mínimo. Os botões dos vidros elétricos têm movimento invertido: fecham, empurrando para a frente e abrem, puxando para trás. O volante só regula em altura e muito pouco.


A posição de condução é aceitável, com pouco espaço para os pés e um banco posicionado alto, mas a visibilidade beneficia com isso. Quanto ao banco de trás, só leva dois passageiros, mas com espaço suficiente em comprimento e altura. A mala tem 210 litros e o banco rebate por inteiro, mas não há uma chapeleira. Nem lugar para os cabos da bateria sob o piso, nem existe um “frunk”, o espaço está contado.
Três modos de condução
Este Primeiro Teste ocorreu em estrada secundária e um pouco de cidade. A resposta do motor de 95 cv e 158 Nm é suficiente para os dois ambientes de condução em que testei o T03. Sem nenhumas pretensões, como é óbvio. Há três modos de condução (Normal/Sport/Eco) que se escolhem numa página do infotainment e que não são muito diferentes na resposta do acelerador. A assistência da direção também se pode ajustar em separado em três níveis, com o nível menos assistido a parecer o melhor.

A ligação do volante com a estrada não é muito minuciosa, mas a direção tem a rapidez suficiente e não se gera nenhuma sensação de instabilidade, mesmo a velocidades mais altas. A Leapmotor anuncia uma aceleração 0-100 km/h em 12,7 segundos, que a tração à frente não tem dificuldade em realizar; e a velocidade máxima é de 130 km/h. Suficientes para os objetivos citadinos do T03.
Faz o que deve
A suspensão é confortável o suficiente, até porque os pneus de medida 165/65 R15 não são muito baixos; e os travões são fáceis de modular. Aumentando o ritmo em curva, instala-se a subviragem, que o ESC controla razoavelmente. Não é um pequeno citadino ágil e divertido de guiar um pouco mais depressa, mas cumpre no que à segurança ativa diz respeito e nem é muito pesado: 1175 kg. Notei um exagerado zunido do motor colocado na frente.

A bateria do T03 é de 37,3 kWh e química LFP, podendo ser carregada até 48 kWh DC, demorando 48 minutos para ir dos 0 aos 80 %. Também pode ser carregada a AC até 11 kWh, demorando 3h30 minutos para ir dos 30 aos 80 %. Está integrada na estrutura monobloco, poupando no peso e acrescentando rigidez.

Quanto à autonomia, não tive tempo para fazer as habituais medições TARGA 67, isso ficará para um teste mais prolongado. A Leapmotor anuncia uma autonomia mista de 265 km e citadina de 395 km.
Conclusão
Com a Leapmotor, a Stellantis passa a ter disponível uma marca especializada e elétricos de baixo custo para vender na Europa e não só. Claro que o grupo Europeu não comprou a marca chinesa (por enquanto?…) mas fez uma operação que parece ter todos os contornes da conhecida frase “se não os consegues vencer, junta-te a eles!”
Leapmotor T03
Potência: 95 cv
Preço: 18 400 €*
*preço com desconto comercial
Ler também, seguindo o link: Primeiro Teste – Dacia Spring: Melhorou em quase tudo