25/8/2023. Durante a minha “roadtrip” em Itália, pela zona da Emilia Romagna, consegui convencer a família a fazer uma visita ao museu da Ferrari em Maranello. Por entre memórias de carros que guieu no passado e alguns monstros sagrados, ficou a sensação que a marca mais conhecida do mundo podia oferecer mais.
Devo confessar que não foi muito difícil convencer a família a encaixar uma visita ao museu da Ferrari, em Maranello, na nossa “roadtrip” a Itália, de que falei aqui na Crónica à 6ª feira na semana passada e que pode ler seguindo o link no final deste texto. A grande ajuda veio da Netflix e do “Drive to survive” que ganhou fãs lá em casa.
Com um bilhete de família a custar 22 euros, por cada adulto e 5 euros, por cada menor de 19 anos, ainda houve que pagar a “Factory and Track Tour” em autocarro, que custou 20 euros, por cada adulto e 5 euros, por cada menor de 19 anos. Não é propriamente barato, mas as expetativas eram de uma manhã bem passada.
O edifício do museu foi renovado há alguns anos e tem um aspeto moderno, nem faltando um bar à entrada com um menu que pareceu adequado a visitantes mais interessados em carros que em comida.

Claro que é sempre possível reservar mesa no famoso restaurante Cavallino, mesmo ao lado da fábrica, mas saiba que se tornou numa unidade mais vocacionada para as bolsas de quem compra modelos da Ferrari, do que propriamente para os funcionários da fábrica, como conta a lenda.
Parque temático?
O acesso divide-se entre quem comprou bilhete antes, pela Internet, e quem o vai comprar no local. Os primeiros têm prioridade, o que atrasa a fila dos outros. Até aqui, o ambiente é um pouco o de um parque temático, com a diferença de ter sombra.
Quando finalmente recebemos autorização para entrar e pagar o bilhete, encontra-se um ambiente tranquilo e pouco ruidoso. Não vou dizer que parecem os fiéis a entrar no seu tempo, mas… já disse.

Sobem-se umas escadas e entra-se na primeira sala onde é feita uma comparação entre o passado e o presente. Lado a lado, um 250 LM de 1963 e um dos novos 812 GTS. Na verdade dois de cada, primeiro apenas com a estrutura e carroçaria em alumínio e depois em estado finalizado.
Sessenta anos de alumínio
Consegue ver-se a enorme evolução da tecnologia de produção de estruturas em alumínio e a tradição que a marca tem nesta área. Ao lado está uma réplica do escritório de trabalho do fundador Enzo Ferrari, com mobiliário e acessórios dos anos sessenta e setenta. Tal como ainda se pode encontrar no edifício junto à pista.

A sala seguinte é dedicada aos hipercarros, com a coleção completa da marca começando com o 288 GTO, seguindo o fabuloso F40, o F50, o Enzo e o La Ferrari. De todos, o mais icónico continua a ser o F40, mas o mais rápido, com 355 km/h de velocidade máxima ainda é o Enzo de 660 cv.
Vinte anos depois
Para mim, foi um reencontro com o mesmo Enzo que tive a oportunidade de testar na pista de Nardó em 2004, confirmando na altura a velocidade máxima. Uma história que fica para outra altura.

Na mesma sala podem ser vistos o La Ferrari de 800 cv e o seu motor e sistema híbrido num expositor ao lado do motor do Enzo. A maior complexidade (e peso) do modelo mais novo fica bem clara, limitando-lhe a velocidade aos 350 km/h. Ao lado estava a versão para clientes especiais guiarem em pista, o FXXK Evo.
Personalizar
A seguir, o visitante pode fazer de conta que é um cliente e “escolher” a personalização do seu novo Ferrari. Por entre cores de carroçaria, jantes, maxilas de travões, bancos, tipos de pele, tipos de tecidos, cores de pespontos e volantes, tudo se pode escolher, como se vê num F12 Tour de France personalizado.

Ao lado, está o limite a que o programa de personalização pode chegar, na forma do P80/C, um modelo feito em 2019 por encomenda numa única unidade. Um puro “track-car”, feito com base no 488 GT3. Uma história que merece mais “estudo”.

Outra história pouco conhecida é a do 150 LM de 2014, um protótipo feito com base no La Ferrari e que explorava a possibilidade de um regresso da marca ao mundial de endurance. Não teve seguimento e o carro foi vendido a um colecionador, que o emprestou ao museu.
Fórmula 1
A visita entra depois na sala da Fórmula 1, dominada por um “banking” negro onde estão expostos “show-cars” dos monolugares da era Schumacher e ainda um 126 CK de Gilles Villeneuve. Talvez a parte mais pobre da visita.

Interessantes os troféus em exposição e os capacetes dos pilotos campeões do mundo pela marca – Ascari, Fangio, Hawthorn, Hill, Surtees, Lauda, Scheckter, Schumacher e Räikkönen. Há também uma fabulosa coleção de miniaturas artesanais de alta qualidade, à escala 1/43, de todos os F1 da marca.
Carros de sport
A sala seguinte é dedicada aos carros de sport, como se chamavam nos anos cinquenta. Um 166 MM Vignale de 1952 e um 340 MM de 1953 fazem as honras e mostram como a Mille Miglia era a corrida mais importante da altura, ambos foram feitos para a competição que percorria estradas públicas italianas.

Para representar os anos sessenta nesta categoria, um 246 SP de 1962 e um fabuloso 330 P4. E não é um P4 qualquer. Trata-se do segundo classificado nas 24 horas de Daytona de 1967, prova em que a Ferrari conquistou os três primeiros lugares, para grande raiva da Ford.
O fabuloso 330 P4
Este chassis #0856 foi reconstruído no departamento Ferrari Classiche e devidamente certificado. Ambos os serviços estão à disposição dos colecionadores de todo o mundo.

Para mostrar a força que a Ferrari teve no passado, está no museu um carro que foi feito… para o museu. Explico. Trata-se do Indy 637 de 1986, um carro destinado à Fórmula Indy dos EUA, mas que nunca saiu de Itália.
Bluff em escala real
A sua função foi ameaçar a FIA de que a Ferrari saia da F1 se fosse imposta a regra de serem usados apenas motores V8, como o então presidente da federação, Jean-Marie Ballestre, desejava. O susto foi tão grande, que os V12 da Ferrari continuaram a ser autorizados na F1.

Antes da obrigatória passagem pela loja de recordações, com preços à altura da fama da Ferrari (um boné custa, no mínimo, 40 euros) ainda foi possível ver um SF90 Stradale e um 296 GTB, modelos do atual catálogo da marca. Para o final ficam os simuladores de F1 e GT, a custar 30 euros, o primeiro e 25 euros, o segundo, por cada 10 minutos.
“Tour” é uma desilusão
Quanto à “Factory and Track Tour” foi um fiasco. É feita num autocarro fechado, sem autorização para sair nas breves paragens e sem autorização para tirar fotos.

As histórias, contadas pela guia, são interessantes, mas pouco mais. A parte da pista resume-se a uma passagem de poucos metros do lado de fora das vedações, mal se vê o asfalto.
Em Modena, existe o museu Enzo Ferrari, podendo comprar-se um bilhete conjunto para visitar os dois museus, 30 euros por cada adulto e 12 para cada menor de 19 anos. Talvez valha a pena, mas já não consegui convencer a família a uma segunda dose.
Conclusão
O museu Ferrari em Maranello percorre o essencial da atividade da Ferrari, mas a quantidade de modelos expostos é escassa. Esperava ver mais do glorioso passado da marca de Maranello. A apresentação dos modelos varia entre o muito interessante, o desleixado e o simplesmente pobre. Não é um museu para especialistas, mas a oportunidade de estar em frente a um 330 P4 verdadeiro, valeu a visita.
Francisco Mota
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