9/6/2023. Enquanto a Lancia apresenta uma escultura e um “concept-car” que apontam para um futuro de modelos premium, um francês decidiu fazer voltar o Delta Integrale às competições, através do World RX, onde se usam veículos elétricos. O Delta com as cores da Martini foi um sucesso mediático instantâneo, enquanto isso, o “concept-car” voltou para o estúdio.
Desde os anos noventa, quando a Lancia abandonou o WRC e mandou o Delta Integrale para a reforma, que a direção da marca nunca mais teve um rumo bem definido.
Depois de ganhar 10 campeonatos de marcas, um recorde que ainda subsiste no WRC, os homens da Lancia acharam que o seguimento perfeito para esses sucessos nos ralis seria vender modelos de prestígio, tentando lutar com as marcas premium alemãs.

Claro que o plano falhou, clamorosamente, como dizem os italianos. A partir daí, a erosão da marca não parou até que se retirou de todos os mercados menos o de Itália, onde continua a vender a última geração do Ypsilon, feita com base no Fiat 500.
Um novo plano
Agora, a marca iniciou um novo plano de comunicação e de produto, que foi lançado com uma bizarra escultura para antecipar o estilo dos futuros modelos da marca.
Mais recentemente, mostrou o “concept-car” Pu+Ra HPE derivado dessa escultura, com linhas no mínimo estranhas, mesmo se os seus autores dizem que foram inspiradas por modelos do passado da marca, citando até o Stratos.

A ideia parece ser preparar o mercado para acolher uma Lancia de prestígio (outra vez…) na era 100% elétrica, com carros de desenho fora do comum e, supostamente, posicionados nos segmentos mais caros.
Esta é uma estratégia com muito para andar até se lhe ver o resultado, uma vez que parte do zero. Na verdade, para quem conhece a história antiga da Lancia, será mais fácil encontrar aqui uma razão para esta via premium. Mas será que existem assim tantos estudiosos da indústria automóvel?
O entusiasta francês
Enquanto isto acontece, dizendo a Lancia que o regresso será feito em apenas alguns mercados selecionados, entre eles o português, o que não deixa de ser inesperado, um francês fanático de automóveis de competição lançou outro plano que já está em marcha.

Guerlain Chicherit foi campeão de esqui e participa há muito em várias modalidades de desporto automóvel, tais como o Dakar ou o World RX, o campeonato do mundo de “rallycross”. Criou a sua própria equipa e participou em várias edições desta modalidade no passado, acumulando experiência.
Quando as regras do World RX passaram de motores a combustão para motores elétricos, em 2022, Chicherit decidiu fazer alguma coisa de diferente e foi buscar o antigo Lancia Delta HF Integrale dos anos 80 e 90 como base para o seu novo projeto.
Trazer o Delta para os World RX elétricos
A sua nova equipa, Special One Racing, tratou de pegar no antigo Delta e transformá-lo num RX1e, a classe rainha do World RX. A ideia era boa, mas havia um problema: o regulamento só aceita modelos com menos de cinco anos de idade e o Delta tem mais de 30 anos.

A solução foi pegar num Delta antigo, tirar o motor a combustão, instalar motores elétricos e uma bateria e homologar o “novo” modelo para ser vendido ao público. A lei francesa permite isso. Neste momento, só falta cumprir a outra parte do regulamento, que é vender pelo menos 50 unidades de estrada deste Delta elétrico.
Mais fácil na competição
Para a versão de competição, o trabalho era mais simples. A estrutura base do Delta pouco mais faz do que definir o estilo e algumas dimensões, pois existe uma estrutura tubular obrigatória que garante a rigidez e faz a ancoragem de todo o sistema elétrico e mecânico. Ainda assim, as dimensões reduzidas do Delta dificultaram a instalação de tudo isso.

O estilo exterior, com alargamentos ainda maiores que no passado e uma enorme asa traseira, foi mais simples, pois todos os painéis são em fibra de carbono. Até a frente vertical, com faróis falsos e grelha sem cromados, mas com o símbolo da Lancia.
Elétricos com 680 cv
No World RX, todas as equipas usam o mesmo sistema de propulsão, fornecido pela empresa austríaca Kreisel. Trata-se de dois motores elétricos de 250 KW e 440 Nm, um por eixo, além de uma bateria de 52,56 kWh e de dois inversores. O software também é igual para todos.
O resultado são carros elétricos de tração às quatro rodas com 500 KW (680 cv) de potência máxima e 880 Nm de binário, pesando 1300 kg. A organização do World RX anuncia que a aceleração 0-100 km/h se faz em 1,8 segundos, mais rápido que um F1.

Os elétricos são o ideal para a sucessão de corridas curtas que compõem um evento do World RX, que tem corridas na Europa, Ásia e África. Para lá do Delta EVO-e RX, os outros são versões eletrificadas dos modelos a gasolina que correram até 2021. A VW, com um Polo feito a partir dos antigos Polo WRC, mas agora com uma frente a lembrar o ID.3 tem dominado os acontecimentos.
Loeb e Martini
Para garantir que o seu plano tinha o máximo de alcance, Chicherit tomou mais duas decisões vitais: contratou o nove vezes campeão do mundo de ralis Sébastien Loeb (que correu no World RX entre 2016 e 2018) e mandou pintar os dois Delta com as cores da Martini, apesar de a marca de bebidas italiana não o patrocinar.

Na primeira prova deste ano, na pista portuguesa de Montalegre, os Delta Evo-e RX ainda não ganharam, mas não andaram longe dos melhores. Contudo, o retorno mediático deste regresso dos “Lancia Martini”, foi estrondoso, sobretudo nas redes sociais.
Conclusão
De cada vez que é decidido um novo futuro para a Lancia, lá vem o “fantasma” do Delta Integrale mostrar que talvez esse não seja o melhor sentido. Apesar de ter deixado de ser fabricado há três décadas, o multi-campeão de ralis continua vivo nas memórias dos mais velhos e nos jogos de vídeo dos mais novos. Talvez a Stellantis, dona da Lancia, lhe devesse dar uma atenção especial.
Francisco Mota
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