[soliloquy id=”5735″]Crónica – 08/05/2020. Dados da International Energy Agency mostram um quadro surpreendente na descida de CO2 durante a pandemia Covid-19. Apesar de não haver carros nas ruas, o CO2 não desapareceu. Como é possível?…
Com a informação que já existe neste momento, os especialistas de IEA (International Energy Agency) estimam que a descida de emissões de CO2 no final de 2020 será de 6%, face a 2019.
É um número considerável, equivalente ao total das emissões de CO2 anuais da Índia, para dar uma referência.
Será a maior descida de sempre, desde que há registos, duas a três vezes mais do que aconteceu durante as duas crises petrolíferas dos anos 1970.
Segundo a IEA, a maior responsabilidade para esta descida vai ficar a dever-se a uma quebra de 50% no trânsito por estrada.
É verdade que a quebra na aviação foi ainda maior, estimada em 65%, a nível global. Mas este setor só representa 3% do total das emissões de CO2.
Procura de petróleo desceu
Outra comparação que pode ser feita é na quebra da procura de petróleo. Na crise financeira de 2008, a quebra para 2009 foi de 1,3 milhões de barris de petróleo por dia.
Olhando para os dados já existentes de 2020, a quebra relativa a igual período de 2019 é de 10 milhões de barris de petróleo por dia.
Mas esta quebra de emissões de CO2 da rodovia não é homogénea em todos os países, nem em todas as cidades.
Para demonstrar isso mesmo, a IEA comparou os dados de emissões entre Paris e Nova Iorque no passado mês de Março, com o mesmo mês de 2019 e as conclusões são elucidativas.
CO2 só baixou 20%, em Nova Iorque
O confinamento levou a que as ruas de ambas as cidades ficassem desertas, cenários inimagináveis, sobretudo para duas das mais congestionadas cidades do planeta.
Mas o desaparecimento quase total do trânsito não teve as mesmas consequências, em ambas as cidades. Em Paris, as medições efetuadas indicaram uma quebra de 72% no CO2.
Mas em Nova Iorque, o caso foi bem diferente, com as emissões de CO2 a só descerem uns míseros 10%. Como é isto possível?…
As razões para a diferença
As explicações dos especialistas da IEA são interessantes. Paris não tem em redor centrais de produção de energia alimentadas a combustíveis fósseis.
Como é sabido, desde há muitos anos que a França optou pelas centrais nucleares, que fornecem 70% da energia consumida no país.
Daqui não saem emissões de CO2 significativas. O problema é outro, os resíduos nucleares. Mas isso é outro assunto.
Em Nova Iorque, pelo contrário, ainda há centrais alimentadas a petróleo e carvão. Mas o problema é maior que isso.
O aquecimento doméstico
Em Nova Iorque, a maior percentagem de emissões de CO2 tem origem nos sistemas de aquecimento doméstico e de locais de trabalho. Os automóveis têm um peso muito menor no total.
Por isso, mesmo com as ruas sem carros, as emissões de CO2 na região continuam a ser de uns impressionantes 80% do normal.
Claro que estes números de Nova Iorque levantam a questão dos efeitos reais da redução de emissões dos automóveis, no total nas emissões de CO2. Na verdade, outras cidades terão uma situação semelhante, o que torna a questão ainda mais intrigante.
Por isso, os especialistas da IEA dizem que os comportamentos individuais não chegam para reduzir o CO2, é preciso uma política que transforme a maneira como a energia é produzida. Os carros nem sempre são os maus da fita.
Conclusão
Mas há esperança. Após a crise financeira de 2008, o consumo de energia elétrica com origem fóssil desceu na Europa e nunca mais voltou aos níveis anteriores, tendo sido, em parte substituída pela geração de energia a partir de fontes sustentáveis.
Espera-se, por isso, que a crise da Covid-19 possa ter um efeito semelhante ao de crises anteriores e que o pico da curva de emissões de CO2, provenientes do automóvel, já tenha sido atingido em 2017 na Europa, como alguns defendem.
Francisco Mota
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