[soliloquy id=”7675″]12/12/2020. O Conselho Europeu concordou em reduzir as emissões de CO2 em 55% até 2030. Esta revisão dos objetivos é mais severa que os 40% determinados há cinco anos. Como chegar lá?…
O acordo de Paris fez cinco anos esta sexta-feira e para lhe cantar os parabéns o Conselho Europeu decidiu rever as metas de emissões da gases que geram efeito de estufa.
Na verdade, a revisão das metas, a cada cinco anos, ficou logo determinada no acordo inicial de 2015, por isso não é de estranhar que tenha sido feita agora. O que é mais duvidoso é ter sido feita uma revisão para uma meta ainda mais exigente.
Segundo os dados mais recentes a que tenho tido acesso, as emissões de CO2 têm crescido nos últimos anos, não têm descido. Colocar uma meta mais exigente será realista, ou é apenas política?
Mas do que se fala, quando se fala de redução das metas de CO2? A meta anterior estabelecia uma redução de 40% de emissões até 2030, mas contando a partir de 1990.
O objetivo, ilusório, relacionado ou não, era (e é) impedir que a temperatura média do planeta suba 1,5 graus Celsius, face à era pré-industrial.
Grandes cotoveladas
No fim da reunião do Conselho Europeu desta sexta-feira comemorativa, os 27 líderes europeus bateram palmas, não deram abraços, mas deram muitas cotovelas. Ficaram contentes, tinham cumprido o seu papel.
Agora resta a todos os geradores de gases de efeito de estufa fazerem a sua parte, ou seja, tudo!
Dos políticos espera-se mais uma intervenção, daqui a outros cinco anos, realista ou utópica, isso pouco importa. O parlamento Europeu até já disse que o seu objetivo é aumentar a percentagem de redução para os 60%.
Mas como se consegue descer as emissões para menos de metade das que eram emitidas em 1990? E só falo dos automóveis. Talvez um bom ponto de partida seja comparar a poluição dos automóveis em 1990 e em 2020, no que ao CO2 diz respeito.
Como era em 1990?
Ao contrário de hoje, em 1990, as marcas não eram obrigadas a anunciar as emissões de CO2, mas anunciavam os consumos. E como há uma relação direta entre o combustível queimado e o CO2 emitido, podemos usar os consumos para a comparação.
Pegando no carro mais vendido na Europa, o VW Golf, é possível escolher modelos com potências semelhantes e ver as diferenças. Um Golf II 1.8 a gasolina, com 90 cv, tinha uma média de consumos de 9,2 l/100 km, em 1990.
Um dos novos Golf VIII 1.0 TSI de 115 cv anuncia um consumo médio de 5,5 l/100 km, em 2020. Surpresa!…
A redução de consumos anunciados é já de 40%. Os tais 40% do acordo de Paris 2015. Dizer que esta redução foi uma vitória da política parece-me muito duvidoso.
Como foi possível reduzir 40%?
Os consumidores procuram sempre carros menos gastadores e as marcas desenvolvem-nos e produzem-nos. Não foram precisas normas nem leis a “exigir” que se reduza o CO2.
Como se vão conseguir os próximos 15% de redução, agora impostos como meta? A resposta já está nos configuradores de muitas marcas e não passa pela transição para os veículos elétricos.
A generalização dos semi-híbridos, refiro-me aos “mild-hybrid” ou MHEV, está a tratar disso, com um custo relativamente reduzido para os construtores e benefícios para os consumidores.
Combustão interna banida?
Quando se lê títulos de jornais a exclamar que este ou aquele país vai “proibir” a venda de veículos com motor de combustão interna, geralmente fica de fora a palavra “só”. Na maioria dos casos, os países estão a dizer que vão proibir a venda de carros “só” com motor de combustão interna. Ou seja, todos vão ser “obrigados” a ter um grau de hibridização.
Mas isso já está em marcha e será realidade, com grande probabilidade, antes das datas “impostas” pelos políticos.
Mais difícil será atingir metas de neutralidade carbónica. O acordo de Paris aponta o ano de 2050 como o da neutralidade carbónica, para os países que o assinaram, dos quais saiu os EUA, mas que vai voltar ao compromisso, segundo o novo presidente. Mais ponderada, a China aponta 2060 como a data com a qual se compromete.
Conclusão
O anúncio feito esta semana parece assim ser mais uma manobra de propaganda e relações públicas em que o Conselho Europeu é especialista. Uma redundância, uma mão cheia de nada. Talvez por isso a sua assinatura pelos 27 Estados membros tenha sido tão fácil. No que aos automóveis diz respeito, nenhum deles tem que fazer nada para que a meta seja atingida.
Francisco Mota
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