21/4/2023. “Há quatro anos ninguém imaginaria que a eletrificação da Jeep já estivesse a este nível.” Quem me disse isto foi Christian Meunier, o CEO da marca com quem tive a oportunidade de falar informalmente. O futuro da marca americana do grupo Stellantis nunca pareceu tão prometedor e Meunier explicou como a eletrificação se tornou essencial.
21/4/2023. Não é preciso um esforço de memória muito grande para regressar ao lançamento do primeiro Jeep 4xe e recordar a maneira um pouco cética como a ideia foi inicialmente recebida: “um Jeep eletrificado?!” exclamaram muitos.
A história da marca, que agora passou a ser uma frase escrita em alguns dos seus modelos “since 1941” parecia um lastro demasiado pesado, quando chegou a altura de enfrentar a realidade da eletrificação. Os clientes mais tradicionalistas nem queriam ouvir falar do assunto.
Como convencer entusiastas de décadas do Wrangler, que o futuro era eletrificado? A solução passou por manter a identidade da marca, em todos os seus modelos, como me explicou Meunier.
Tem que ser competente “offroad”
“Um Jeep tem que ter boas capacidade de utilização offroad, caso contrário, não é um Jeep” e isso aplica-se mesmo a modelos de tração apenas a duas rodas. Como é o caso do B-SUV elétrico Avenger.
Numa ótica de levar as sinergias ao limite, poderia esperar-se que a partilha de componentes entre o Avenger, o Peugeot 2008, o Opel Mokka e o DS3 pudesse descaracterizar o modelo da marca americana. Mais ainda porque é o primeiro Jeep desenhado e construído na Europa.

“Estamos a estudar a hipótese de vender o Avenger nos EUA, mas o segmento lá é muito pequeno” confidenciou Meunier. A prioridade é mesmo a Europa, onde o modelo se venderá exclusivamente em versão elétrica, à excessão de Espanha e Itália, onde um 1.2 turbo de 100 cv estará disponível.
Só em 100% elétrico
Talvez a marca não perdesse em vender esta versão noutros mercados, o diretor da fábrica da Polónia, onde o Avenger está a ser construído, disse-me, quando lá estive, que fazer uma ou outra versão não levanta nenhum problema: “é só dizerem que mix pretendem. Nós estamos preparados.”
Mas a estratégia da Jeep para o Avenger não é vender volume, pelo menos por agora. A estratégia é maximizar a margem de lucro e assumir o posicionamento premium.
Fazer do Avenger “o Fiat 500 da Jeep”, apesar de Meunier não gostar muito desta analogia, porque faz lembrar que a Fiat nunca conseguiu alargar esta estratégia para outros modelos da sua gama.
Avenger é o mais fácil
O futuro da Jeep, como de todas as marcas, passa pelos modelos 100% elétricos e o Avenger é apenas o primeiro. E talvez o de sucesso mais fácil, apesar de não ser nada barato ao custar 39 700 euros, na versão de entrada no nosso país.

Mas a Jeep já tem 20 000 unidades vendidas, mesmo antes de as entregas começarem em Junho. Um sinal mais positivo do que este será difícil. O outro sinal é o Avenger ter vencido o The Car Of The Year 2023, o prémio mais prestigiado da indústria automóvel atribuído deste 1964, e de que tenho a honra de integrar o júri.
“The Car Of The Year” foi surpresa
“Ficamos surpreendidos com a vitória no The Car Of The Year”, admitiu Meunier, acrescentando que “é um prémio muito importante para nós e que premeia o esforço de toda a equipa.”
Historicamente, a vitória no The Car Of The Year costuma adicionar vendas ao modelo eleito, pela enorme repercussão que tem através dos seus 60 jurados, oriundos de 23 países europeus. Pelos vistos, o efeito já começou a funcionar.
O papel dos 4xe
Mas o primeiro e bem sucedido passo na direção da eletrificação foi mesmo o lançamento das versões 4xe, que estão disponíveis em toda a gama, incluindo no Wrangler, o que permite à marca dizer que já tem uma gama totalmente eletrificada.
Os eletrificados contaram para a Jeep ultrapassar o milhão de unidades vendidas em 2022. Entre 2010 e 2022 multiplicou por sete as suas vendas globais. Já não são uma marca de nicho.
Líder nos “plug-in”
Nos EUA, os 4xe são até os híbridos “plug-in” mais vendidos no país, tendo sido muito bem aceites pelos compradores. Mesmo os defensores do Wrangler, perceberam que o sistema “plug-in” não subtrai nada à experiência de conduzir um Wrangler fora de estrada, muito pelo contrário, acrescenta o binário elétrico a baixos regimes que melhora as aptidões de condução “off road.”

“Sabe qual é a percentagem de versões 4xe que vendemos nos EUA?” perguntou-me Meunier. Face à minha falta de resposta, disparou: “são 40%.” Uma adesão muito rápida a novas tecnologia, seja para que marca for.
Dois grandes 100% elétricos
A seguir aos 4xe, vêm os 100% elétricos feitos a pensar no mercado americano, que ainda é o maior da Jeep. E a marca já os começou a mostrar em versões que, nas fotografias, parecem próximas aos produtos finais.
Com base na mesma plataforma STLA Large, a Jeep vai lançar em 2024 o Recon, que é anunciado como o equivalente elétrico do Wrangler, com as mesmas, ou melhores capacidades na condução offroad.
Depois, o Wagoneer S, um grande SUV mais luxuoso com 600 cv e 640 km de autonomia, destinado a enfrentar os melhores grandes SUV elétricos do mercado, entre os quais o BMW iX não pode deixar de ser visto como a referência do momento.
Líder nos SUV EV
O objetivo da Jeep continua a ser o mesmo que tem sido repetidamente declarado nos últimos anos: ser a marca líder entre os especialistas de SUV elétricos em 2030.
Para isso precisa de ter modelos em todos os segmentos, e não está longe de o conseguir. O plano está traçado e mais novidades vão surgir nos próximos meses, nomeadamente um substituto elétrico para o Compass.

A única pergunta que Christian Meunier continuou a não me dar resposta, apesar de já lhe a ter feito noutras ocasiões, é saber como vai concretizar o anúncio de que o Avenger terá uma versão 4xe. Será um 100% elétrico, com um motor elétrico por eixo? Ou será um “plug-in” como os outros 4xe?
Para esta plataforma e-CMP2, a Stellantis nunca teve nem uma, nem outra, o que implica mais investimento, algo que o grupo tende a reduzir ao mínimo.
Conclusão
Meunier também me disse que tinha acabado de ter uma tele-conferência de uma hora com Carlos Tavares e o português, CEO do grupo, lhe garantiu que o ia ajudar naquilo que ele precisa para continuar o sucesso da Jeep. “Wait and see”, como diriam na Jeep.
Francisco Mota
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