Os Diesel caíram em desgraça, mais na comunicação que nas vendas. Mas temos agora alguns dos melhores no mercado. É aproveitar enquanto não são proibidos e garantir um carro para mais vinte anos. Como este Q5 2.0 TDI de 204 cv.
Não preciso de fazer o histórico da queda em desgraça dos motores Diesel, todos sabem o que aconteceu e como foi enegrecida a imagem deste motor, que emite menos CO2 para a atmosfera que os a gasolina.
O irónico da questão é que temos agora no mercado alguns dos melhores Diesel de sempre, dotados de todas as contra-medidas para lhes reduzir ainda mais as emissões poluentes. Continuando a gastar pouco e com uma utilização mais suave que nunca.

Tudo isso é verdade em relação a este Audi Q5 40 TDI quattro, mas primeiro vamos às novidades desta segunda geração do modelo, lançada em 2017.
Restyling mudou pouco
É do restyling que estou a falar, claro. Tão subtil que muitos nem vão dar pela diferença. Para-choques com mais entradas de ar (algumas falsas), grelha negra, nova assinatura luminosa e novos desenhos de jantes. E está feito!

Um visual discreto e de muito bom gosto, com uma daquelas estéticas que parece preparada para se manter atual durante uma dezena de anos… ou mais.
Por dentro, a Audi usou a máxima do “se não está estragado, não arranjes.” Claro que o sistema de infotainment foi atualizado por um mais rápido, com ecrã maior e com resposta háptica dos botões virtuais. Contudo, perdeu o comando rotativo remoto (na consola) que ainda é a maneira mais segura de lidar com estes sistemas.
Interior continua atual
A consola mantém vários botões físicos, para funções secundárias e nem tão secundárias, como a mudança dos modos de condução. A climatização também continua a ter botões que se conseguem usar sem ter que olhar para eles e tirar a atenção da estrada.

De resto, o Q5 tem as qualidades de sempre, como a elevada qualidade de materiais e montagem, muito espaço nos cinco lugares (a fila de trás desliza em 12 cm e rebate 40/60) facilidade de acesso e mala de 550 litros.
Boa visibilidade, excelente tato do volante e banco muito bom
O condutor tem uma posição de condução alta que dificilmente poderá ser criticada, dada a correção da localização relativa do trio banco/volante/pedais; e a ampla regulação dos dois primeiros. Boa visibilidade, excelente tato do volante e banco muito bom: não é mole, mas é anatómico e tem bom apoio lateral.
Motor 2.0 TDI melhorado
O motor é a última evolução do 2.0 TDI, que foi muito melhorado ao nível dos atritos internos e recebeu um sistema “mild hybrid” que consiste numa segunda bateria de iões de lítio e um motor elétrico de 2 cv ligado à cambota, através de correia. Tudo a funcionar a 12 Volt.

Basta ligar o motor para perceber que a insonorização está muito bem feita. Não vou dizer que nem se ouve o som Diesel, mas posso dizer que não incomoda absolutamente nada.
Caixa de dupla embraiagem
A caixa é uma S tronic de dupla embraiagem e sete relações, quase sempre suave nas manobras, apenas com uma ou outra indecisão no trânsito. A disponibilidade do motor é o que se espera quando se tem 400 Nm a partir das 1750 rpm, ou seja, muito boa.

O motor entrega o binário de forma progressiva, não tem nenhuma explosão de força, nem mesmo quando atinge o patamar máximo, que dura até às 3250 rpm.
Fazendo-o subir para além disso, também não impressiona pela pujança. Com 204 cv, não é essa a sua obrigação na gama.
Híbrido para limitar consumos
O quatro cilindros tem ajuda do parceiro elétrico no arranque, no início das recuperações e depois regenera nas desacelerações e travagens, para carregar a bateria. Faz o seu papel sem que se note muito, em termos de condução.

Mas, tendo em conta que este Q5 pesa 1880 kg, o consumo de 7,7 l/100 km que obtive no meu teste em cidade, terá certamente a sua contribuição.
Suspensão pneumática
A suspensão independente às quatro rodas, com molas pneumáticas e amortecedores variáveis é realmente muito confortável em modo Comfort. Passa por cima de pisos imperfeitos informando o condutor do estado do pavimento, mas sem o incomodar.
Há sete modos de condução, é muita coisa mas todos fazem sentido
A direção tem sempre o peso certo, seja qual for o modo de condução escolhido, entre os sete disponíveis: offroad/allroad/efficiency/comfort/auto/dynamic/individual. É muita coisa, mas todos fazem sentido.
Audi quattro…
O sistema de tração às quatro rodas é o quattro Ultra que só usa a tração atrás quando é mesmo preciso, poupando assim combustível. Por isso, o modo allroad faz sentido, por exemplo em dias de chuva ou neve, para manter a tração permanente às quatro rodas.

Em autoestrada, a rolar perto dos 120 km/h, o meu teste de consumo deu uma média de 6,0 l/100 km. Sempre em modo efficiency, portanto aproveitando os momentos em que a caixa deixa o carro deslizar em roda livre, quando se desacelera, chegando a desligar o motor Diesel.
Pouco ruído de rolamento ou aerodinâmico, muito conforto e um depósito de 70 litros que, a este ritmo, chega para uma autonomia máxima de 1166 km. Um recado para os elétricos…
Curva como um Audi
Sendo um “Audi quattro”, com caixa S tronic, suspensão pneumática e tanto binário, era impossível devolver o Q5 antes de o fazer passar por uma estrada com curvas exigentes. E o resultado só não me surpreendeu porque conheço bem a atitude da Audi em relação a estas coisas.

Apesar do alto Centro de Gravidade e do peso, a inclinação lateral em curva é reduzida, mesmo quando se leva mais velocidade. A sensação de estabilidade domina a experiência de condução rápida.
A aderência dos pneus 255/45 R20 está bem acima das solicitações que o 2.0 TDI de 204 cv lhes pode fazer. O Q5 entra em curva com precisão e imensa aderência, só obrigando a movimentos mais amplos dos braços porque o volante não é pequeno e a direção não é muito direta, para facilitar a condução todo-o-terreno.
Exagerando um pouco…
Claro que, exagerando na entrada, a frente acaba por subvirar, mas o ESC trata bem da situação. Desligando-o (e fica desligado) é possível ver aquilo de que o quattro é capaz.
A transmissão consegue ir passando mais binário para as rodas de trás, deixando terminar a curva com uma ligeira deriva da traseira
Entrando em curva com a velocidade certa e depois aumentando progressivamente a aceleração, à medida que o carro “assenta” nas quatro rodas, a transmissão consegue ir passando mais binário para as rodas de trás, deixando terminar o desenho da curva com uma ligeira deriva da traseira.
Não chega a ser um “powerslide”, mas ajuda a fazer a rotação, poupando até os pneus da frente. Se o piso for menos aderente, o efeito e o divertimento são maiores, claro.
Conclusão
Este Q5 40 TDI (ou 2.0 TDI, para se perceber melhor) mostra o estado de maturidade a que chegou este projeto, feito com base na plataforma MLB Evo e fabricado no México. É um daqueles carros que apetece comprar e ficar com ele durante 20 anos, ou até que os Diesel sejam proibidos. Por isso, se tem acesso a um financiamento de 72 340 euros (99 095€, na unidade que guiei) decerto não se vai arrepender do investimento. Ou então pode optar pelo 35 TDI de tração à frente e 163 cv, que custa 60 202 euros, sem opcionais.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Audi Q5 40 TDI quattro Ultra S Tronic
Potência: 204 cv
Preço: 72 340 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)
Ler também, seguindo o LINK:Audi Q5: só “plug-in” e Diesel “mild hybrid”