Numa altura em que os carros convencionais parecem em vias de extinção, a escolha é cada vez mais entre SUV e Crossover, mas qual será o melhor? VW Tiguan, do lado dos SUV e Citroën C4, do lado dos Crossover em comparativo, para procurar a resposta.
Os SUV tomaram o mercado dos familiares compactos de assalto, como o prova um dado concreto: ao fim de 40 anos, o modelo mais vendido da VW deixou de ser o Golf e passou a ser o Tiguan. Entre os dois, partilham a plataforma e quase toda a mecânica, mas o visual exterior é completamente diferente, bem como a experiência de condução.
Só que os SUV não estão sozinhos, algumas marcas apostam nos clientes que preferem um carro menos alto, mas com uma posição de condução acima dos carros “rasteiros”. São os Crossovers, de que o novo Citroën C4 é um bom exemplo.
Em vez de ter uma versão Crossover na gama, o C4 só está disponível como Crossover, com várias motorizações. Foi o regresso da marca ao segmento C, mas com um modelo muito diferente do anterior C4.
Conservador ou liberal?
Ao estilo mais quadrado do Tiguan, o C4 responde com um desenho de coupé de quatro portas com suspensão alta, recolhendo alguma influência do antigo Citroën GS. Ainda alguém se lembra dele?…

O VW é mais conservador também na face de família, o C4 estreou um novo rosto, com os originais faróis em “Y” deitado. Os pneus 195/60 R18 do C4 parecem ainda maiores do que são, devido ao desenho dos guarda-lamas.
O Tiguan tem pneus 215/65 R17 em jantes menos espetaculares, mas que se enquadram bem na carroçaria 149 mm mais comprida, mas com apenas mais 8 mm de distância entre-eixos.
Alto ou nem por isso?
As diferenças continuam no interior. A posição de condução do VW é um pouco mais alta, mas o banco acompanha melhor as costas do coudutor.
Os bancos do C4 são mais macios, mas têm menos apoio lateral e demasiado apoio lombar. O volante do VW também oferece melhor pega, tem uma posição menos inclinada, e regula em maior amplitude.

O tablier do C4 desilude pelo painel de instrumentos demasiado básico e pelo monitor tátil central, que tem uma organização menos lógica de usar que o do Tiguan.

Quanto à qualidade apercebida, a vantagem vai toda para o Tiguan, com o C4 a tentar “disfarçar” piores materiais com um estilo mais ousado nas formas.
Qual tem mais espaço?
Por ter as portas mais altas, o acesso ao interior do Tiguan é mais fácil, sobretudo nos lugares de trás, devido ao tejadilho descendente do C4. Na habitabilidade, o Tiguan também ganha e em todas as direções.
Tem muito mais espaço para as pernas nos lugares de trás e o banco desliza longitudinalmente em 1/3-2/3.

No C4 tem-se a sensação de estar a bordo de um familiar compacto normal, com menos espaço atrás e com o banco baixo, a obrigar a levar os joelhos altos e as pernas desapoiadas.
Além disso, a embaladeira é alta, o que obriga a levantar bem as pernas para entrar. No Tiguan, viajam cinco pessoas sem esforço, no C4 há menos largura.

A capacidade da mala do Tiguan é logicamente maior, como seria de esperar. O Tiguan anuncia 520 litros, contra os 380 do C4, e acrescenta ainda alavancas para rebater os bancos a partir da mala e regulação da inclinação das costas.
Como é guiar o Tiguan?
O Tiguan deste comparativo tem a mais recente versão do 2.0 TDI, com 122 cv, uma notável insonorização e muito pouca vibração. É um motor muito forte logo a partir das 1000 rpm, com a entrega dos 320 Nm de binário progressiva até às 3500 rpm. Acima disso, não vale a a pena insistir.
A caixa manual de seis relações é geralmente suave, mas mostrou alguma imprecisão nas passagens de terceira para quarta velocidades.

A visibilidade é fácil em todas as direções, a direção tem o peso e a desmultiplicação certas e o conjunto suspensão/pneus fazem um trabalho muito bom em termos de conforto, mesmo em pisos mais difíceis como no empedrado.
O comportamento em curva tem pouca inclinação lateral, boa tração, mesmo quando se abusa do pedal da direita e um ESP que entra em cena sempre na altura certa.
Em autoestrada, a insonorização volta a impressionar, sobretudo a relativa ao rolamento e aerodinâmica. A suspensão não deixa o Tiguan fazer demasiadas os oscilações, mantendo sempre um controlo rigoroso da carroçaria.
Como é guiar o C4?
Passando para o C4 BlueHDI 130, temos também um motor Diesel de quatro cilindros, mas de cilindrada menor, apenas 1,5 litros de capacidade. No entanto, a potência de 131 cv até é superior, perdendo apenas 20 Nm no binário máximo.
No confronto das performances anunciadas, o Tiguan faz os 0-100 km/h em 10,9 segundos, enquanto o C4 precisa de apenas 9,5 segundos, resultado de um peso 197 kg inferior do Citroën.
Razões para este peso inferior podem ser encontradas na plataforma do C4, a CMP, que o grupo PSA usa principalmente me modelos do segmento B como o Peugeot 208. É uma plataforma mais simples, com suspensão traseira de eixo de torção, contra a suspensão multibraços do Tiguan.
O motor 1.5 BlueHDI está acoplado a uma caixa automática de conversor de binário e oito relações, que lhe dá uma boa suavidade de funcionamento e disponibilidade imediata, assim que se acelera.

Ao contrário do Tiguan, no C4 pode escolher-se entre três modos de condução: Eco/Comfort/Sport, que alteram a assistência da direção, sensibilidade do acelerador e rapidez da caixa em modo automático.
Contudo, a direção é sempre demasiado leve e transmite pouco tato da estrada. Em cidade, na manobras, isso até ajuda. O que não ajuda nada é a lentidão do botão para selecionar as posições PRND da caixa, que substitui a convencional alavanca.
Claro que a posição de condução mais baixa não é tão boa como a do Tiguan para ver o que se passa no trânsito mais à frente. Mas a principal crítica vai para a visibilidade difícil, sobretudo para trás, devido ao tejadilho mais baixo. A meio do vidro traseiro há um spoiler, o que também não ajuda.

Em piso ondulante, com bossas pouco agressivas, a suspensão com batentes hidráulicos progressivos oferece um bom conforto. Mas em buracos mais imprevistos, as jantes de 18” pioram o conforto visivelmente.
O volante tem patilhas para seleção manual da caixa e estão fixas no volante, ao contrário do que acontecia nos anteriores modelos da marca. A sua ação é rápida e divertida.
Mas o comportamento em estrada é pouco preciso, a suspensão é muito macia e deixa a carroçaria oscilar em excesso. A prioridade ao conforto, um dos valores de sempre da marca, terá chegado aqui a um exagero. O amortecimento não é suficiente em variadas situações.
Em autoestrada, o C4 está bem isolado dos ruídos de rolamento, mas menos dos aerodinâmicos.
E os custos?
Quanto a consumos, a média geral de ambos consegue ficar na casa dos cinco litros, com o Tiguan a gastar um pouco mais em autoestrada, devido ao maior peso e maior área frontal.
Resta comparar os preços. Considerando as versões base, o VW Tiguan 2.0 TDI 122 custa 40 357 euros, enquanto o Citroën C4 BlueHDI 130 EAT8 custa 33 508 euros. É uma diferença considerável, mas isso já era de esperar, dado o posicionamento diferente das duas marcas.
Conclusão
Então que resposta dar à pergunta inicial: qual o melhor, SUV ou Crossover? Comparando a habitabilidade, facilidade de condução em cidade, versatilidade e comportamento em estrada, o SUV Tiguan afirma-se como uma melhor escolha que o Crossover C4. O Citroën também tem as suas vantagens, mas são mais subjetivas, como o estilo ou a imagem da marca.
Francisco Mota
Citroën C4 BlueHDI 130 VW Tiguan 2.0 TDI 122
131 cv 122 cv
4,6 l/100 km 5,1 l/100 km
33 508 euros 40 357 euros
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