[soliloquy id=”5936″]Crónica – 29/5/2020. A organização do Salão de Genebra rejeitou um empréstimo para realizar a edição de 2021. Por uma razão simples: os expositores (as marcas) só querem voltar em 2022.
O comunicado da GIMS (Geneva International Motor Show) chegou há dois dias e anunciava que esta entidade, a fundação criada há 100 anos para organizar o Salão de Genebra, tinha recusado um empréstimo estatal para realizar a edição de 2021.
A notícia, dita assim, pode parecer estranha, numa altura em que este tipo de apoios relacionados com os efeitos económicos da Covid-19 estão por todo o lado.
Mas a GIMS diz que as condições do empréstimo de 16,8 milhões de francos suiços, vão contra os estatutos da fundação e o propósito da sua criação.
Salão 2020 cancelado à última da hora
Recorde-se que o salão de Genebra de 2020 foi cancelado a quatro dias da sua abertura, devido a uma norma emitida pelo estado que proibia todas as reuniões com previsão de mais de mil participantes.
Como a edição de 2019 tinha tido 600 000 visitantes mais 10 000 (!) jornalistas estava fora de hipótese realizar a edição deste ano, face à ameaça da Covid-19.
A GIMS avaliou os seus prejuízos deste cancelamento à última da hora em 11 milhões de francos suíços. Mas podiam ter sido maiores, se a iniciativa de não realizar o salão tivesse sido sua e tomada mais cedo. Nesse cenário, alguns seguros deixavam de ter efeito.
No seguimento deste cancelamento, a GIMS pediu ajuda financeira ao cantão de Genebra, talvez na esperança de poder receber uma ajuda a fundo perdido.
Empréstimo, não subsídio
O estado preferiu propor uma garantia para um empréstimo de 16,8 milhões, para cobrir os prejuízos de 2020 e ajudar na realização da edição de 2021. Mas a GIMS disse que não.
A primeira das duas condições que a GIMS não aceitou foi a obrigatoriedade de contratar a empresa Palexpo SA (dona das instalações onde se tem realizado o salão) para organizar a edição de 2021.
A GIMS diz que isso vai contra os seus estatutos e contra o propósito da sua criação como fundação.
A segunda condição do empréstimo é a garantia de que se vai realizar a edição de 2021. E aqui é que a GIMS chega a um beco sem saída.
Marcas não querem Genebra em 2021
Segundo a própria fundação, são os expositores (as marcas) a pedir para não se realizar a edição de 2021 e só voltar a haver salão em 2022.
Por outras fontes, sei que algumas marcas estão mesmo com vontade de não voltar a Genebra. Nunca mais. Uma reação epidérmica, sem dúvida.
Dizem que não gostaram da maneira como a GIMS lidou com o cancelamento, que lhes fez subir os prejuízos de forma que consideram desnecessária ao deixar a anulação para tão tarde.
Por isso, agora precisam de mais tempo para amortizar este custo. Isto para as que ainda pensam em voltar a Genebra em 2022.
O salão Digital… funcionou!
Outras marcas descobriram, à força, que as conferências de imprensa, que deveriam ter sido realizadas no salão e que foram substituídas por eventos digitais, afinal até funcionaram bem. Sou testemunha disso e concordo que foi uma boa alternativa.
Tudo somado, a GIMS não aceita o empréstimo porque, na realidade, não sabe se o vai poder pagar, tendo em conta o “não” que as marcas parece estarem a dar à realização da edição 2021 do Salão de Genebra.
E este é o salão preferido por todos, marcas e jornalistas. Realiza-se num país “neutro” em termos de fabricantes de automóveis, tem dimensões realistas e costumava concentrar todos os fabricantes. Se bem que ultimamente, cada vez mais têm falhado.
A GIMS diz que é o maior evento anual da Suiça, tendo a edição de 2019 arrecadado uma receita de 200 milhões de francos suiços.
Mas nem isso lhe valerá de muito, numa altura em que os construtores estão a braços com uma crise profunda e uma desconfiança crescente em relação ao retorno do investimento feito num salão.
Por isso, o salão de Genebra 2021, parece estar fora de questão.
Francisco Mota
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