Foi com surpresa que Francisco Mota se deparou com um Salão de Bruxelas a fazer lembrar os bons tempos do Salão de Genebra. Muitas marcas presentes, espaços bem organizados mas sem exageros decorativos e algumas genuínas novidades. O suficiente para ficar na dúvida se os salões de automóveis estão de volta.

A fórmula parecia morta, sem futuro ou pelo menos suficientemente antiquada para desinteressar a maioria dos construtores. As últimas edições dos salões de Paris e de Munique foram demasiado pobres para merecerem grande atenção da indústria automóvel. Já para não falar do fim do Salão de Genebra, que coincidiu com o início da pandemia mas que já vinha a definhar há vários anos, com a edição de 2024 a ser a última tentativa.




Foi com esta imagem que entrei na 101ª edição do Salão de Bruxelas, que utilizou as enormes instalações dos pavilhões do Brussels Expo. Mas não precisei de percorrer muitos passos para perceber que não era nada disso que me esperava. Espaço não falta (56 000 m2) mas a organização soube utilizar apenas o necessário e as 63 marcas presentes (carros de passageiros, comerciais e outros) que os organizadores anunciam agradeceram.





Nada de stands megalómanos, pelo contrário, tudo cenários discretos, alguns conhecidos do Salão de Paris do ano passado. Mas bem organizados e sem demasiados carros em exposição, pois é bom não esquecer que o Salão de Bruxelas sempre foi um evento para os concessionários locais venderem carros. E continua a ser, mas só depois de um dia reservado à Imprensa.




Um dia que me fez lembrar os melhores tempos do Salão de Genebra, antes de começar a deixar entrar tudo e todos no dia reservado aos profissionais da informação. Muitas marcas presentes, algumas ausentes, mas sobretudo expondo os modelos que realmente interessam ao público comprador, com uma mão cheia de supercarros trazidos por operadores multi-marcas.






Falei com alguns CEO e todos se mostraram favoráveis a esta nova fórmula de salões de baixo custo, claro que os organizadores belgas também deram uma ajuda, não cobrando às marcas os valores obscenos que terão acelerado o fim do salão de Genebra. Outro ponto que apreciaram foi a data, em Janeiro, perfeito para lançar um novo ano que todos esperam seja de sucessos. Entre os modelos expostos contavam-se cinco estreias mundiais, 14 estreias europeias e sete concept-cars.



Mas vamos ao que interessa, os carros em exposição. A Stellantis esteve em força, com todas as suas principais marcas que operam na Europa. A Peugeot mostrou o e-408, a versão elétrica que anuncia 453 km de autonomia. Na Jeep podia ver-se o Avenger 4xe, a versão semi-híbrida de tração às quatro rodas, uma raridade no segmento. A Lancia tinha o Ypsilon e a sua versão de ralis, para a classe R4, mais dedicadas a jovens iniciados. O bi-campeão de ralis pela Lancia, Mikki Biasion, esteve em palco para abençoar o novo modelo. Ainda foi falada, para o futuro, uma versão elétrica desportiva, de estrada, com os mesmos 280 cv do Alfa Romeo Junior Veloce.




A Lancia será lançada em quatro mercados da Europa este ano, para Portugal só vem em 2026, depois de ser lançado o segundo modelo, o Gamma, que recupera um nome antigo para um veículo de dois segmentos acima do Ypsilon. No final de 2027 será mostrado o novo Delta, do qual a marca ainda não diz grande coisa. Mas será uma surpresa se não tiver alguma coisa a ver com o mundo dos SUV.




A Citroën levou o novo C3 Aircross, que pode ter sete lugares, e o concept-car do C5 Aircross, numa versão 95% perto da que será vendida. Ambos mostram como será o futuro dos modelos da marca nos próximos anos, pelo menos em termos de estilo. Ao lado, a Opel trazia o Frontera, o restyling do Mokka e o novo Grandland PHEV, que partilha a mecânica com o novo Peugeot 3008.



Para terminar a ronda pela Stellantis, falta falar da Alfa Romeo, que voltava a mostrar o 33 Stradale e a Fiat, que trazia o Grande Panda. Já na DS, o Nº8 exibia uma nova fase da marca, com maior luxo no interior, estilo mais premium e o topo da tecnologia elétrica disponível neste momento no grupo. Falta só falar da Leapmotor, que mostrou em detalhe o C10, em versões elétrica e híbrida.



E vamos às novidades de outras marcas. A Toyota mostrava o Urban Cruiser, o regresso de um nome mas num SUV um pouco maior que o Yaris Cross e 100% elétrico. Foi feito em colaboração com a Suzuki que assim lança o eVitara. Ambos os modelos estão disponíveis com duas opções de bateria: 49 ou 61 kWh. A versão com maior bateria tem opção 4×4 com um segundo motor elétrico no eixo traseiro.



Novidade era também o Mazda 6e, uma berlina, para desenjoar dos SUV, com uma bela evolução do desenho elegante que tem marcado os anos mais recente do construtor japonês. Um rival do Série 3, ou a Mazda não quisesse ser a BMW japonesa. Trata-se de um modelo 100% elétrico feito com base no modelo vendido na China EZ-6. Tem tração atrás e opção entre duas baterias 68,8 kWh ou 80 kWh.


Ainda totalmente camuflado, a terceira geração do CLA foi mostrada pela Mercedes-Benz, adivinhando-se poucas mudanças estéticas face ao modelo atual. Novidade é o aparecimentomde uma versão elétrica na gama que terá versões híbridas e uma plataforma nova designada MMA. Duas baterias disponíveis para a versão elétrica, uma com 58 kWh e outra com 85 kWh.




Mais novidades? Por exemplo o citadino elétrico Hyundai Inster, marca que levou também o enorme Ioniq 9 e o concept-car a Hydrogénio, Initium. A Honda motrava um ligeiro restyling do HR-V e a Skoda levou o restyling do elétrico Enyaq, além do novo Elroq. A BYD expunha o Sealion 7 e a Porsche a nova geração Macan. A Audi tinha presente as novas gerações do A5 e A6 e a BMW trazia o M5 novo, ao lado do Mini Cooper de cinco portas.



Novo também o BYD Atto 2, logicamente mais pequeno que o Atto 3, deixando-o muito próximo do Dolphin. Em forma de concept-car, estava o Smart #5, mais um SUV inspirado nos 4×4 clássicos. A KGM mostrou o Actyon novo, muito próximo do Torres.


De resto, podia ver-se um Lamborghini Temerário, um Bugatti Bolide Type 35 Homage e o fabuloso concept-car Alpine Alpenglow. O supercarro Yangwang U9 também estava presente, bem como a super berlina elétrica Lucid Sapphire. Além destas novidades, o Grupo Volkswagen tinha em exposição toda a gama VW e Skoda, bem como modelos da Cupra, Seat e Porsche, já a pensar nos restantes dias do salão.º

Depois de ver o que Bruxelas conseguiu fazer, fico com a ideia de que os construtores que estiveram ausentes, talvez voltem a equacionar o seu regresso aos salões automóveis. Para isso, é preciso que os organizadores de Munique e de Paris ponham os olhos na fórmula usada pelos belgas, da qual podem tirar lições importantes. Uma coisa é certa, Bruxelas tem tudo para tomar o lugar do salão de Genebra.
Francisco Mota
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