O Audi Q6 e-tron quattro posiciona-se como um rival do BMW iX3 ou do Tesla Model Y, um SUV elétrico que estreia a nova imagem da marca. Aqui ao Teste TARGA 67 veio para vermos o que vale, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.

Para tirar as dúvidas, a Audi decidiu dar números ímpares aos modelos a combustão ou híbridos e números pares aos modelos 100% elétricos o que faz do Q6 e-tron quattro um SUV elétrico. Tem por rivais o BMW iX3 e o Tesla Model Y, só para dar dois exemplos, sendo feito sobre a plataforma PPE (Premium Platform Electric) partilhada com outros modelos do grupo Volkswagen. É uma base que usa uma arquitetura elétrica de 800 Volt, carregando até 270 kW DC, dizendo a Audi que, encontrando um desses raros carregadores, consegue ir dos 10% aos 80% de carga em apenas 21 minutos. Um facto notável pois a bateria NMC tem 100 kWh de capacidade bruta (94,9 kWh úteis).

Esta versão 55 e-tron tem dois motores elétricos, um por eixo, sendo o da frente assíncrono e o de trás síncrono. Tem portanto tração às quatro rodas, legitimando a designação quattro. No entanto, é o motor de trás que faz a maior parte do trabalho, o da frente só entra em ação se for preciso, o peso é de 2400 kg. A potência máxima combinada é de 433 cv e o binário atinge os 855 Nm. Com este arsenal, a Audi anuncia uma autonomia mista WLTP de 572 km e uma aceleração 0-100 km/h de 5,9 segundos, mas já vamos à dinâmica, que há muito para dizer.
Novo estilo
Começando pelo desenho, o Q6 e-tron insere-se na nova linguagem de estilo da Audi. As mudanças não são muitas, mas as suficientes para dar um ar fresco ao Q6 e-tron. Os alargamentos dos guarda-lamas são subtis mas bem evocativos dos Audi quattro de ralis dos anos 1980. Tal como algumas partes da grelha da frente, que leva os quatro aneis em preto, uma opção que não tenho a certeza se aprecio… Seja como for, os 4,771 metros de comprimento estão muito bem disfarçados, tal como os 1,648 m de altura e mesmo os 1,965 m de largura.




Por dentro, o ar de sofisticação está na linha do que a Audi fez no passado, até um pouco melhor. Bons materiais, excelente montagem e detalhes de decoração de bom gosto. O painel de instrumentos faz peça única e encurvada com o monitor central e ainda há um monitor separado para o passageiro da frente, com uma tecnologia que impede o condutor de o ver. Mais abaixo está o comutador dos modos de condução: Efficiency/Dynamic/Comfort/Individual/Off Road. Na consola, está o comando deslizante da transmissão, pequeno e pouco prático. Os comandos da climatização estáo dentro do infotainment, também não muito acessíveis.



Pior é o novo painel de botões táteis colocado na porta do condutor, que controlam não só os retrovisores, como as memórias dos bancos elétricos e faróis. Mais uma razão para ter que desviar os olhos da estrada. O volante também tem botões hápticos, como os da porta, sendo fácil tocar-lhes sem querer durante as manobras. O painel de instrumentos tem imensa informação, nem sempre fácil de ler, quanto ao monitor central, tem uma organização razoável estreando o sistema Android Auto no modelo. Tem também assistente de voz e HUD com realidade aumentada.
Muito espaço
Os bancos dianteiros são muito bons nesta versão 55 S-Line com bom apoio lateral e confortáveis. Não falta espaço no interior do Q6, sobretudo atrás, que não tem um piso muito alto e os bancos, definidos para dois passageiros são igualmente confortáveis. A mala tem 526 litros com os cinco lugares erguidos e ainda tem um compartimento para os cabos sob o capôt da frente, o chamado “frunk”. Esta unidade tinha o opcional teto panorâmico em vidro com cortina interior. A posição de condução é alta, como se espera de um SUV elétrico deste segmento. Mas a pega do volante é excelente e está muito bem posicionado face ao banco e aos pedais. Boa visibilidade, com a ajuda das câmaras, mas raio de viragem grande atingindo os 12,1 metros.



O volante tem patilhas para regular o nível de regeneração nas desacelerações, em três degraus e ainda um nível automático. Mas quando se volta a acelerar volta ao nível zero, que é um nível muito útil em descidas suaves e longas, por exemplo em autoestradas. Há ainda um botão “B” para acionar a função “one pedal” que imobiliza o Q6 no final de uma travagem, por exemplo no pára-arranca do trânsito citadino intenso. Em cidade a condução do Q6 e-tron revela-se muito fácil e suave com boa assistência da direção, progressividade do pedal de travão, boa entrega de binário, especialmente em modo Efficiency e sistema de regeneração com boa diferenciação entre os níveis disponíveis. Esta unidade está equipada com os opcionais suspensão pneumática e amortecimento adaptativo, garantindo conforto e bom controlo das massas, mesmo sobre bossas ou buracos citadinos, conferindo um pisar sofisticado com a sua suspensão independente às quatro rodas.
Consumo alto em cidade
No Teste TARGA 67 de consumos em cidade, com A/C desligado, em modo Efficiency e usando as patilhas, o consumo real registado em cidade foi de 20,8 kWh/100 km, o que equivale a uma autonomia real em cidade de 456 km. Não é um valor fantástico, considerando a capacidade da bateria. Passando para autoestrada, a 120 km/h de velocidade estabilizada, com a regeneração no mínimo e modo de condução mantido no Efficiency, o consumo real registado foi de 22,2 kWh/100 km, o que corresponde a 425 Km de autonomia real, um valor que, para autoestrada é comparativamente melhor do que o obtido em cidade, certamente com a contribuição de um Cx de 0,30.




Em autoestrada, a suspensão pneumática fez um excelente trabalho em termos de contenção dos movimentos parasitas, mantendo o Q6 muito estável, mesmo quando o piso é instável. Claro que há algumas das oscilações típicas dos SUV, mas de baixa amplitude. Os vidros duplos laterais trabalham em favor da insonorização, que está bem tratada ao nível dos ruídos aerodinâmicos e de rolamento. A velocidade máxima anunciada é de 210 km/h.
Dinâmica muito boa
Com pneus 255/45 R21, na frente e 285/45 R21, atrás, da marca GoodYear Eagle F1, o Q6 e-tron está bem equipado para explorar uma boa estrada secundária. Além dos modos de condução, o ESC também se pode posicionar em On/Sport/Off. O primeiro não é precoce, nem brusco; o segundo autoriza algumas liberdades mas é desligado que se fica a conhecer bem esta definição de suspensão, mais ainda escolhendo o modo de condução Dynamic.


Os 443 cv proporcionam boas prestações, sem serem do outro mundo, pois o peso não é baixo: 2400 kg. Ainda assim os 0-100 km/h em 5,9 segundos permitem fazer as retas com rapidez, chegando à zona de travagem para as curvas com muita inércia para conter. Os travões com discos de 375 mm, na frente e 350 mm, atrás, resolvem bem o assunto, com um pedal potente e resistente. O uso das patilhas é uma boa opção para estas situações. A direção nunca é pesada e tem um tato muito bom assim que se insere o Q6 e-tron em curva. O equilíbrio da suspensão pneumática e a aderência dos pneus praticamente anulam uma eventual subviragem, até porque a distribuição de binário dá prioridade às rodas traseiras. Curiosamente a utilização da função “B” pode ajudar a fazer rodar o Q6 e-tron na entrada em curva.



Depois de perceber a atitude dinâmica consistente do Q6 e-tron, é altura de aumentar o ritmo. Os motores não perdem força è medida que a velocidade sobe, mantendo uma disponibilidade muito boa, sem brusquidão. A suspensão evita inclinação lateral exagerada e o controlo de massas é muito rigoroso, sem ser excessivo nem desconfortável. O Q6 e-tron não é um desportivo radical, mas rapidamente se descobre o seu ADN. A partir do primeiro terço da curva, já se pode começar a aumentar a aceleração, passando a ser a tração traseira a mandar. A tendência sobreviradora surge com progressividade, sendo de fácil correção. É mesmo possível dosear a deriva da traseira para maior entretenimento do condutor, com a saída da curva a ocorrer já com Q6 e-tron direito e perfeitamente controlado. Em modo Confort, a atitude é muito mais neutra, para quem preferir mais tranquilidade.
Conclusão
Não há muitos SUV elétricos deste tamanho e peso que consigam um comportamento em curva assim: divertido mas progressivo, sem nenhuma da brusquidão na aceleração que é típica dos elétricos. Salvo algumas questões ergonómicas no habitáculo, este Q6 e-tron cumpre com distinção em quase todas as áreas, da qualidade à dinâmica, passando pela habitabilidade. Mas a eficiência, sobretudo em cidade, deixa a desejar, com uma autonomia relativamente curta para uma bateria tão grande.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Audi Q6 55 e-tron S-Line
Potência: 443 cv
Preço: 78 748 euros
Veredicto: 4 estrelas
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