8/12/2023. A Nissan anunciou a sua estratégia de eletrificação para a Europa, que começa com a terceira geração do Leaf e continua com as gerações elétricas do Qashqai e Juke. Todos fabricados na Europa, ou mais precisamente no Reino Unido. Temas para a Crónica à 6ª feira do TARGA 67, assinada por Francisco Mota.
Não fosse o Brexit e as comemorações dos anunciados investimentos da Nissan na Europa extravasariam as fronteiras do Reino Unido. Mas há razões para o continente europeu também estar contente.
Depois de em 2021 a marca japonesa ter anunciado um investimento de mil milhões de Libras para serem aplicados nas suas unidades fabris do Reino Unido, em rota com o seu programa EV36Zero, a Nissan repensou o assunto.

O atraso da proibição de venda de veículos com emissões poluentes locais, de 2030 para 2035, uma medida do governo Inglês para alinhar as datas com a Europa, deixando assim de anteceder os outros países em cinco anos, não teve efeito na estratégia da Nissan.
Quando, há poucos dias, a Nissan anunciou a sua nova estratégia de eletrificação para a Europa, terá sido com alguma surpresa que se constatou um reforço do investimento. Em vez de 1 passou para 3 mil milhões de libras.
Leaf, Qashqai e Juke
Isso permitiu confirmar que, na fábrica de Sunderland, onde hoje são feitos o Juke, Qashqai e Leaf, vão suceder-lhes as versões 100% elétricas dos dois primeiros e a terceira geração do Leaf.
À única “gigafactory” inicialmente planeada, que será a primeira fábrica de baterias construída na Europa por um OEM, um fabricante de automóveis, vão seguir-se mais duas. Além disso, está ainda previsto mais um modelo elétrico, esse feito em França e com base na plataforma do novo Renault 5 elétrico.

A Nissan manteve o seu calendário de lançamentos e em 2030 só terá carros elétricos à venda na Europa. Concebidos e fabricados no Velho Continente. O que não admira, pois a marca tem quatro centros de pesquisa e desenvolvimento na Europa.
A presença da marca japonesa como fabricante na Europa começou há 40 anos, cinco anos depois abriu o primeiro centro de R&D e dez anos depois o primeiro centro de Design. Até agora, foram fabricados 14 milhões de Nissan na Europa, empregando hoje 11 000 trabalhadores, distribuídos por 10 instalações.
Concept-cars dão pistas
Quanto aos quatro modelos elétricos, já foram mostrados “concept-cars” que dão algumas pistas sobre que aspeto vão ter. O Chill Out antecipa as linhas do novo Leaf, que passa a ter um perfil de crossover coupé, muito diferente do atual. Será construído com base na plataforma CMF-EV do Grupo Renault e partilhada no âmbito da Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi. Estará à venda em 2026.

Os “concept-cars” Hyper Urban e Hyper Punk vão inspirar os novos Qashqai e Juke 100% elétricos, usando a mesma plataforma. Quanto ao citadino com base no Renault 5, será fabricado em França e deverá manter o nome e posicionamento do Micra, tendo já sido mostrado sob a forma do “concept-car” 20-23.
Novas baterias
A Nissan está a desenvolver novos tipos de baterias de Lítio sem Cobalto, que deverão estar no mercado em 2028 com custos de produção 65% inferiores, comparando com a bateria do atual Leaf.
Também estão a trabalhar nas baterias de eletrólito sólido, com o dobro da densidade energética, o triplo da velocidade de carregamento e redução de custos. Em 2024 vai ser aberta uma fábrica piloto para esta tecnologia, em Yokohama, no Japão para desenvolver a sua produção em série.

A estratégia da Nissan em relação aos carros elétricos é a de manter os preços acessíveis, como sempre aconteceu na marca. Não apostar nas baterias de grande capacidade, grande tamanho e grande peso e preço. Não embarcar nos elétricos de elite e “não deixar ninguém para trás”.
Tempo total de viagem
A prioridade vai para o desenvolvimento de baterias pequenas mas de carregamento mais rápido, sem se danificarem por isso. E esperar que a rede de carregadores públicos continue a crescer a um ritmo cada vez maior.
A Nissan acredita que o crescimento da procura de carros elétricos torna desnecessários os incentivos estatais e que cabe aos construtores fazer descer os custos de produção com novas tecnologias.
Para Shunsuke Shigemoto, vice-presidente para a área dos elétricos, “o mais importante não é a autonomia mas o tempo total de viagem. Ou seja, a autonomia mais o tempo de carregamento necessário para chegar ao destino.”

Com novas baterias e mais carregadores, os tempos de recarga para chegar ao destino seriam muito curtos e tornariam as baterias grandes desnecessárias.
Conclusão
Numa reunião em que esteve presente Cli Lyons, a vice-presidente para a região Europa, perguntei-lhe qual a relação de todo este plano com a Aliança e a resposta foi “nenhuma”, mostrando o crescente afastamento entre a Nissan e a Renault, mesmo na região Europa. Talvez seja a estratégia certa para a marca subir o próximo degrau na eletrificação, de que foi pioneira com o Leaf em 2010.
Francisco Mota
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