Se há modelo que prova as mudanças que estão a acontecer na Skoda, é o Enyaq Coupé 80 RS. É um SUV, um coupé, tem motorização elétrica e ambições de desportivo. Para perceber se consegue ser tudo isto, é protagonista de mais um Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.
A Skoda desenvolveu um centro de excelência de elétricos na sede de Mladá Boleslav, na Chéquia, um passo fundamental para o seu posicionamento na Volkswagen. O Enyaq é lá produzido, uma prova das suas competências e da confiança que a VW tem na Skoda, marca que entrou no grupo em 1991.

O Enyaq foi o primeiro modelo nascido 100% elétrico na Skoda, partilhando a versão crossover da plataforma MEB com os VW ID.4 e ID.5, mas com carroçaria e interiores diferentes. Enquanto a VW apostou numa estética de rotura, a Skoda evoluiu o estilo dos seus modelos ICE (Internal Combustion Engine).
Identidade clara
O resultado mantém uma identidade de marca de que é fácil gostar. A versão SUV-Coupé do Enyaq pouco difere em dimensões da versão SUV, acrescentando 4 mm à largura e reduzindo 6 mm na altura.
A maior diferença está no tejadilho, que desce mais, do pilar central para trás, ao estilo “fastback”. Com isso, consegue reduzir o Cx de 0,27 para 0,234 e subir ligeiramente a autonomia.

Todos os Enyaq coupé têm tejadilho panorâmico em vidro, que não abre e não tem cortina interior. Os filtros usados fazem os possíveis para não tornar o interior numa estufa, mas num dia de Verão em Portugal, obrigam a levar o A/C ligado.
Quase o mesmo espaço
A vantagem de não ter cortina interior é que o espaço em altura nos lugares da segunda fila não é muito penalizado pela linha coupé do tejadilho, nem o acesso.

O Enyaq Coupé é um carro alto e comprido, com muito espaço para as pernas dos passageiros de trás e banco que favorece o transporte de dois, mas não rejeita o terceiro passageiros ao meio.
Há uma consola porta-objetos no local onde estaria o túnel central, mas é muito fácil de retirar. Uma das ideias “simply clever” como o clássico guarda-chuva dentro da espessura da porta do condutor.

A mala tem 570 litros, menos 15 litros que a versão SUV e menos alta, devido ao vidro mais baixo. Mas, retirando o fundo plano, há mais 15 cm de altura.
Ao volante
Na frente, a posição de condução quase nada muda em relação ao Enyaq SUV, mas tratando-se da versão 80 RS, conta com bancos desportivos confortáveis e com suficiente apoio lateral.

O volante anatómico “cai” perfeitamente nas mãos e a única crítica vai para o minúsculo botão deslizante para as posições R, N e D da transmissão, que é difícil de usar nas manobras. A posição P obriga a usar o travão de mão.
As mesmas questões
Outra crítica vai para o painel de instrumentos atrás do volante, muito pequeno e com informação afixada em ícones igualmente pequenos. O ecrã tátil central é grande (13”) mas a sua organização é confusa, apesar de haver botões físicos com os atalhos mais importantes, colocados mais abaixo. Os comandos da climatização estão no monitor, mas sempre visíveis na parte inferior, o que minora a dificuldade da sua utilização.

A visibilidade é boa para a frente e para os lados, para trás é pior e o óculo traseiro não tem escova limpa-vidros. O condutor tem seis modos de condução à escolha: Eco/Comfort/Normal/Sport/Traction/Individual.
Baixo consumo em cidade
Como a unidade deste teste estava equipada com amortecimento adaptativo DCC (Dymanic Chassis Control), notam-se diferenças no conforto, além da assistência da direção e sensibilidade do acelerador. O modo Traction garante que os dois motores estão sempre a funcionar, útil em estradas com neve.

Em condução a baixa velocidade e baixa aceleração, apenas o motor de trás é utilizado. Acontece em cidade onde o consumo que obtive, em modo Eco, se ficou pelos 14,5 kWh/100 km, equivalendo a 531 km de autonomia, valores bons para um carro que pesa 2264 kg.

Em autoestrada, circulando a 120 km/h estabilizados, o consumo que obtive foi de 21,1 kWh/100 km, com a autonomia a descer aos 363 km. A bateria de 77 kWh úteis pode ser carregada até 135 kW, demorando, num carregador com esta potência, 36 minutos a ir dos 10 aos 80%.
Muito civilizado
Em modo Eco, as recuperações são rápidas o suficiente em circuito urbano, com o binário a chegar suavemente às rodas. O pedal de travão podia ser mais progressivo mas existem várias hipóteses de jogar com a intensidade da regeneração.

No interruptor da transmissão pode ativar-se a posição “B” que aumenta bastante a retenção, sem levar o Enyaq à imobilização. No volante, há patilhas para mudar a regeneração entre três níveis, o que se revelou útil no trânsito das vias rápidas.
A suspensão é firme e os pneus de medida 235/50 R20, à frente e 255/45 R20, atrás também. Mas o resultado não é demasiado desconfortável, mesmo em mau piso. Sobretudo usando os níveis menos amortecidos, dos 15 (!) disponíveis. O raio de viragem é curto e a direção está bem assistida, facilitando a condução em cidade.
Boas prestações
Em auto-estrada, o modo Comfort mostrou ser aquilo que apregoa, proporcionando um andamento sem incómodos, mas não perdendo um tato bem controlado, que se nota mais no modo Sport. Os RS da Skoda não são versões radicais, preferindo um tato de condução bem controlado, mas sem perder conforto.

E é isso que se encontra neste Enyaq Coupé 80 RS. Os dois motores e a tração às quatro rodas permitem colocar no chão os 299 cv e os 460 Nm sem problemas de tração, levando os 0-100 km/h a cumprir-se em 6,5 segundos, com uma velocidade máxima de 180 km/h.
Dinâmica tranquila
A sensação de força é típica de um elétrico, mas sem exageros. Quando chega a altura de travar, sente-se bem o peso, mas os travões dão conta do recado sem reclamar muito. Depois, os pneus são capazes de levar a frente para a trajetória escolhida até velocidades de entrada em curva razoáveis.

A direção faz um bom trabalho, na precisão e rapidez, sempre de forma civilizada. O ESP tem uma posição Sport, mas não se espere que o diferencial central virtual deixe o eixo traseiro fazer rodar o RS sob potência.

Quando se exagera, sente-se as forças laterais a subir e a frente a subvirar. E não vale a pena insistir com o acelerador, pois a tendência não se altera, pelo menos em piso seco e aderente.
Conclusão
Como os outros RS da Skoda, também o Enyaq Coupé 80 RS é uma versão com boas prestações, razoável conforto e bom controlo de massas que resultam numa condução rápida e civilizada, sem ser muito entusiasmante. Para dele tirar o melhor partido, aconselha-se a não procurar os limites em cada curva e optar por uma toada com alguma margem, de forma a não romper a aderência disponível. A Skoda soube fazer nos elétricos RS aquilo que faz nos ICE RS e isso é algo de que nem todas as marcas se podem orgulhar.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Skoda Enyaq Coupé 80 RS
Potência: 299 cv
Preço: 53 287 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)
Ler também, seguindo o link:
Teste – Skoda Fabia 1.0 Monte Carlo: O peso de um nome