Depois de um Primeiro Teste nos Países Baixos, onde está sediada a BYD Auto Europe, agora chegou a vez de testar o Atto 3 em estradas portuguesas e aferir consumos e autonomias. Descubra isso e mais alguma coisa neste Teste TARGA 67, conduzido por Francisco Mota e fotografado por João Apolinário.
O Primeiro Teste do BYD Atto 3 nos Países Baixos tinha deixado boas impressões, como pode ler seguindo o link no final deste Teste TARGA 67. Mas sei como um exercício destes, muito limitado no tempo e feito em terreno desconhecido, pode ser incompleto. Por isso, só um teste nas estradas portuguesas, com tempo para fazer tudo, pode dar o veredicto correto.

“Build Your Dreams” é o nome da marca que se identifica como BYD, com origem na China e fundada há 27 anos, inicialmente como fabricante de baterias recarregáveis para eletrónica de consumo. Se teve um telemóvel Nokia nos anos noventa, o mais certo é que tenha andado com uma bateria BYD no bolso.
BYD Auto
O nascimento da BYD Auto, para construção de automóveis, aconteceu em 2003 na altura centrada em veículos comerciais e industriais com motor de combustão para o mercado interno. Mas, cinco anos depois, lançou o seu primeiro veículo elétrico, aproveitando o conhecimento que tinha das baterias.

Nos últimos nove anos, lidera as vendas de veículos eletrificados na China e produz mais carros que a Tesla, somando os 100% elétricos com os PHEV. Só no primeiro semestre de 2023 já entregou 1,25 milhões de BEV e PHEV, no caminho para duplicar os números do ano passado. É aquilo a que se costuma chamar um “gigante” da indústria, que poucos conheciam na Europa.
Agora, a Europa
A BYD tem estado a instalar-se nos vários mercados europeus, com parcerias locais feitas com alguns dos melhores importadores/distribuidores de cada país. Em Portugal, juntou-se à Salvador Caetano e abriu duas lojas, no centro de Lisboa e Porto, com pontos de assistência em Cascais e Gaia.

O Atto 3 pertence à mais recente geração de carros elétricos da BYD, utilizando a nova plataforma e-Platform 3.0 com bateria colocada sob o piso. A bateria é fabricada pela própria BYD segundo uma configuração única, com células em lâmina, em vez de cilindro.
Bateria em lâmina e LFP
Segundo a marca, isto facilita a gestão da temperatura, aumenta a segurança em caso de acidente e diminui o espaço ocupado em 50%, além de usar uma química LFP (Fosfato Ferroso de Lítio) mais resistente a incêndios e mais barata. Tem 60,48 kWh de capacidade útil e pesa 420 kg.

A autonomia anunciada é de 420 km, para ciclo combinado e de 565 km, para ciclo urbano, ambos segundo o protocolo WLTP. São valores alinhados com os do VW ID.3 com bateria de 58 kWh, apontado pela BYD como o principal rival do Atto 3.
Desenho conservador
O motor elétrico de ímanes permanentes tem 204 cv e 310 Nm, está colocado à frente, transmitindo tração às rodas dianteiras através de uma transmissão de uma velocidade. O desenho do Atto 3 é bastante conservador, sem detalhes demasiado vistosos, feito ao gosto europeu.

O perfil é o de um crossover, com suspensão ligeiramente mais alta e maior sensação de altura ao solo do que o ID.3, conseguida com o habitual “truque” dos aros pretos nas cavas das rodas. As luzes de trás têm uma forma original, ligadas por uma linha refletora. A frente tem as iniciais no centro de uma placa de efeito metálico.
Interior original
O interior é bem mais original, a começar pelo grande ecrã central tátil de 15,6” com um motor elétrico que o roda da horizontal para a vertical. Na prática é mais um “gadget” que outra coisa, pois na posição horizontal é mais fácil de usar.

As outras originalidades do habitáculo são as saídas de ar da climatização, os fechos das portas por cima dos altifalantes, a forma do punho da alavanca da transmissão e os cabos elásticos que delimitam as bolsas nas portas e se podem dedilhar como numa guitarra, emitindo sons a condizer.

Tanto no ecrã central como no pequeno painel de instrumentos atrás do volante, o tipo de letra usado é pequeno e difícil de ler. Os botões da consola central também são pequenos e não estão bem colocados. A ergonomia pode melhorar.
Boa qualidade
O tablier tem formas ondulantes e arredondadas que se repetem nas portas, a qualidade dos materiais está ligeiramente acima da média do segmento, com muitas zonas de tato suave.

A posição de condução usufrui de bancos macios e confortáveis, com apoio lateral suficiente. O condutor vai relativamente alto, devido à bateria e o volante não tem regulação em alcance suficiente. No banco de trás, há espaço em comprimento, altura e largura para dois passageiros.

O piso é plano e o lugar do meio nem sequer é demasiado estreito. A mala tem 440 litros de capacidade, um bom valor para o segmento, tendo em conta que o comprimento total do Atto 3 é de 4,455 metros.
Muito suave em cidade
Há três modos de condução à escolha: Eco/Normal/Sport e depois ainda é possível regular a assistência da direção em separado em dois níveis. A intensidade da regeneração também se pode ajustar em dois níveis. Em ambos os casos, as diferenças não são muitas.

Suavidade é a palavra que vem à mente assim que se arranca pela primeira vez. Em modo Eco, conduzindo em cidade, o binário entregue às rodas da frente não é exagerado e o acelerador permite um doseamento fácil.
O mesmo se pode dizer do pedal de travão, que acaba a ser usado com maior frequência que o habitual em muitos carros elétricos, porque a intensidade da regeneração é baixa.
Fácil de guiar
A direção é leve mas não em excesso e consegue transmitir algum tato da estrada. O raio de viragem é curto, o que facilita as manobras, ao contrário da visibilidade para trás, ficando muito dependente das câmaras, que têm boa qualidade.

A suspensão e os pneus de medida 235/50 R18, com bastante altura, proporcionam um nível de conforto acima da média neste segmento. Só pisos muito partidos incomodam a suspensão McPherson, à frente e independente, atrás. O Atto 3 é fácil e confortável de guiar em cidade, sem pedir grande adaptação.
Bons consumos
No meu habitual teste de consumos em cidade, em modo Eco, com a regeneração no máximo e com o A/C desligado, obtive um valor de 14,1 kWh/100 km. Fazendo as contas à capacidade útil da bateria de 60,48 kWh, calcula-se uma autonomia real em cidade de 429 km.
Em autoestrada, a 120 km/h estabilizados, o consumo subiu aos 19,8 kWh/100 km, correspondendo a uma autonomia real em autoestrada de 305 km.

Tal como em cidade, a condução em autoestrada é muito suave e com poucos ruídos de rolamento, mas ouvem-se silvos aerodinâmicos. Os sistemas de assistência à condução não são demasiado intrusivos e a suspensão controla bem os movimentos parasitas da carroçaria.
Comportamento em curva
Passando ao modo Sport, ganha-se um pouco mais de sensibilidade no acelerador e a direção fica um pouco menos assistida, mas as diferenças são pequenas. A sensibilidade do travão também aumenta, ficando com um ataque inicial mais decidido.

A atitude em curva começa por ser neutra, com muita aderência, mas com mais inclinação lateral do que se poderia esperar, tendo em conta que o Centro de Gravidade é baixo. Efeito dos pneus de perfil alto e do peso que chega aos 1750 kg.
O motor mostra força suficiente e mantém-se mesmo quando a velocidade sobe, a máxima é de 160 km/h. Mas nas travagens nota-se que a retenção é baixa, seria melhor ter mais para ajudar os travões.
Competente sem entusiasmar
Não é preciso exagerar muito na entrada em curva para a subviragem aparecer e levar o controlo de estabilidade a intervenções bruscas. Está a precisar de uma afinação mais subtil.

Mas é possível fazer rodar um pouco a traseira na entrada em curva, com uma travagem tardia. As saídas de curvas fechadas a pleno acelerador podem levar o controlo de tração a ser chamado. O Atto 3 não é entusiasmante de guiar em estrada secundária, mas cumpre bem as necessidades de um carro deste tipo.
Conclusão
Com o Atto 3 a BYD mostra que sabe aquilo de que os consumidores europeus de familiares compactos elétricos gostam. As críticas são poucas e os méritos são muitos. E para quem estava à espera que a compra de um Atto 3 fosse um “negócio da China” vai ficar desapontado. A BYD diz que não quer ser a marca mais barata, mas a mais tecnológica.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
BYD Atto 3
Potência: 204 cv
Preço: 43 490 euros
Veredicto: 4 (0 a 5)
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