A gama Renault Austral tem muito por onde escolher, mas nem sempre o mais potente e mais sofisticado será a melhor opção. Poderá este 1.3 TCe MHEV 160 ser a escolha acertada? Respostas em mais um Teste TARGA 67.
O Austral reposicionou a Renault no importante segmento dos C-SUV, fazendo esquecer a carreira difícil do seu antecessor, o Kadjar.
Para a Renault, o segmento C foi designado como a sua grande prioridade, por continuar a ser muito relevante no nosso continente e por permitir margens que o segmento abaixo não autoriza.

E a marca francesa não poupou esforços para colocar no mercado um produto atual, capaz de rivalizar com os mais vendidos do segmento na Europa, nomeadamente o Peugeot 3008 e o VW Tiguan.
Nova plataforma
Ponto de partida é a nova plataforma CMF-CD, partilhada com outros modelos da Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi e que marcou uma evolução significativa.

Maior rigidez torcional e maior flexibilidade, em termos de motorizações, transmissões e até suspensões. Já testei o Austral E-Tech Full Hybrid aqui no Targa 67, agora é altura do 1.3 TCe, que a marca também chama Mild Hybrid 160.
Micro-híbrido
O motor é o conhecido 1333 cc de quatro cilindros, injeção direta a gasolina, 16 válvulas e turbocompressor. Está aqui acompanhado por um alternador/motor de arranque de 12 Volt, alimentado por uma pequena bateria de 0,15 kWh.

A parte elétrica serve apenas para gerir o Stop Start alargado e dar uma pequena ajuda a muito baixa velocidade. Em nenhuma altura é capaz de mover o Austral sozinha. É mais um micro-híbrido, que um “mild-hybrid”.
O estilo Renault
Com proporções convencionais para um C-SUV, o Austral tem 4,51 metros de comprimento e um estilo alinhado com o dos mais recentes modelos da marca, onde se destaca a última interpretação dos faróis e farolins em forma de “C”.

Há um declive na linha de cintura, na zona das portas traseiras, que dá personalidade à silhueta. O pilar traseiro tem um vidro, a bem da visibilidade.

Por dentro, o Austral segue a mesma linha de modelos recentes da Renault, como por exemplo o Mégane E-Tech Elétrico, com o qual partilha o tablier.
Questões ergonómicas
Lá está o volante com formato quase quadrado e o painel em “L” invertido que junta numa só entidade visual o painel de instrumentos digital e o ecrã central tátil, disposto na vertical.

Mais abaixo, há uma fila de teclas para o comando fácil e rápido da climatização. Um ponto a favor da ergonomia. Outro é a “manche” deslizante na consola, que serve de apoio à mão direita, quando os dedos estão a comandar o ecrã tátil.
Ainda em termos ergonómicos, aplausos também para o comando da transmissão, feito através de uma prática haste na coluna de direção.
Embirrações…
Contudo, esta zona está um pouco sobrelotada, pois também lá estão as hastes convencionais dos “piscas” e faróis, as patilhas da caixa de dupla embraiagem e… uma embirração minha.

O antiquado satélite de comando do rádio, com os seus minúsculos botões, já devia ter ido para a reforma há muito tempo. Foi uma novidade da Renault há mais de vinte anos, agora está desatualizado.
Apesar do aspeto invulgar, o volante tem uma boa pega e inclui o botão redondo do Multi Sense, o seletor de modos de condução Comfort/Eco/Sport/Perso. Os outros botões são um misto de táteis e físicos.
SUV sem exageros
A posição de condução tem amplos ajustes do volante e banco, que é confortável e tem apoio lateral suficiente. É alta, como se espera de um C-SUV, mas sem exagero.

A visibilidade para trás depende muito do uso da ajuda da câmara traseira, pois o vidro é baixo. Para a frente e para os lados não há problemas.
O ecrã tátil central tem uma superfície brilhante que faz reflexos, mas uma organização razoável e as funções Google Auto funcionam muito bem, facilitando a interação com o sistema, mesmo através de comandos por voz. Só falta um botão rotativo para o volume de som.
Muito espaço
Os materiais do interior contam com plásticos macios no topo do tablier e portas da frente, além de pespontos contrastantes em vários sítios. As aplicações com efeito preto piano, madeira e pele da versão Iconic que testei, resultam bem.

Quanto ao espaço, nos lugares da frente é mais que suficiente e na segunda fila a altura é generosa, o comprimento para as pernas também. O túnel central é baixo e até há espaço para esticar os pés sob os bancos da frente.
A mala tem 500 litros de capacidade e a boca de carga não é muito alta, existindo um compartimento sob o piso. O banco de trás rebate 40/60, costas e assento, o que começa a ser raro. E desliza em 160 mm no sentido longitudinal.
Em cidade
Primeiras impressões em cidade chegam do funcionamento silencioso do motor a gasolina, com muito boa resposta, mesmo em modo Eco, que diminui bastante a rapidez do acelerador.

Os 270 Nm às 1800 rpm são mais que suficientes e o quatro cilindros é bem ajudado pela caixa automática de dupla embraiagem e sete relações.
No entanto, o sistema stop/start mostrou-se algo brusco a arrancar o motor e engrenar a primeira velocidade – quase parece que levei um toque por trás de outro carro.
Pneus castigam conforto
A unidade que testei tinha pneus de medida 235/45 R20, um perfil muito baixo para os pisos em pior estado, onde o conforto fica comprometido, pois o peso das enormes jantes também não ajuda.

A direção tem um tato razoável, a assistência certa e rapidez suficiente. Sem o sistema 4Control de direção às rodas de trás, o raio de viragem não é tão curto (11,2 m contra 10,1 m) mas é o suficiente. Os travões são fáceis de dosear a baixa velocidade.
Consumos em cidade e autoestrada
No meu teste de consumos em cidade, com A/C desligado, obtive um valor de 8,4 l/100 km que, nos tempos que correm, não é brilhante. Este Austral pesa 1464 kg, o que nem é muito.

Em autoestrada, os 160 cv permitem viajar com uma reserva de potência disponível debaixo do pé direito. Mas a suspensão volta a desiludir.
Há demasiadas oscilações longitudinais, sempre que se passa sobre uma bossa ou lomba e chegam ruídos fortes, quando se passa sobre uma junta de dilatação. Pouco confortável, tanto mais que se notam alguns ruídos de rolamento e aerodinâmicos.
No meu teste de consumos em autoestrada, sempre com A/C desligado e a 120 km/h estabilizados, obtive um valor de 6,4 l/100 km, o que já merece elogios.
Em modo Sport
Passando a uma estrada secundária, para experimentar o modo Sport e o comando manual da caixa, a primeira sensação vem do claro aumento de rapidez do pedal do acelerador, que torna a condução logo mais viva.
A caixa de dupla embraiagem é rápida e obediente, quando se usam as patilhas, fornecendo um bom nível de controlo sobre o motor.

Adotando uma condução moderadamente rápida, a suspensão da frente resiste muito bem à subviragem nas entradas em curva mais ousadas. E a inclinação lateral não é nada exagerada.
Mais depressa…
Com pneus tão largos, não seria de esperar outra coisa que não fosse excelente tração das rodas dianteiras na saída de curvas lentas ou em arranques. A Renault anuncia os 0-100 km/h em 9,7 segundos e 175 km/h de velocidade máxima limitada.

Aumentando o ritmo, o Austral continua a oferecer uma atitude bastante neutra e até admite alguma provocação na entrada em curva, deixando então a traseira deslizar um pouco até o ESC entrar em campo.
A dinâmica é muito controlada e fluída, muito transparente nas suas reações. Para mim, prefiro-a à versão com 4Control, que me parece sempre mais artificial.
Conclusão
Se há algo que se pode apontar a este Austral é que as capacidades dinâmicas desta versão, estão acima das possibilidades do motor, fazendo parecer que tem pouca potência. Talvez tivesse sido melhor prescindir um pouco dos limites dinâmicos em favor de maior conforto. Quanto ao sistema micro-híbrido, não acrescenta nada de significativo à condução ou aos consumos em cidade. A Renault tem outras opções na gama Austral para atingir esses objetivos.
Francisco Mota
(fotos de João Apolinário)
Renault Austral 1.3 TCe MHEV 160 Iconic
Potência: 160 cv
Preço: 41 700 euros
Veredicto: 3 (0 a 5)
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