O primeiro concept-car do ID.2 foi um fiasco, o responsável da “obra” foi despedido e a VW recuou. A versão quase final que agora mostrou, afinal, não passa de um Polo elétrico. Conheça todos os detalhes no TARGA 67.
Mostrado no meio da confusão que foi o salão de Munique de 2021, o primeiro concept-car ID. Life – o modelo utilitário elétrico posicionado abaixo do ID.3 e que irá fazer o Polo passar para a era elétrica – foi um fiasco. Não há outra maneira de o dizer.

A reação do público ao seu estilo neo-retro genérico foi negativa e ninguém entendeu soluções como o capót dianteiro feito de lona e um fecho de correr.

O estilo não se encaixava de maneira nenhuma com a gama VW ID, nem sequer representava uma revolução.
Chicotada psicológica
Claro que um “concept-car” nunca é a obra solitária de um só artista, há sempre uma equipa a trabalhar. Mas, quando as coisas correm mal, a chicotada psicológica atinge sempre o mesmo, o treinador da equipa. Josef Kaban, que antes tinha feito um bom trabalho na Skoda, certamente deverá ter continuado a defender a sua obra, por isso deu lugar a outro.

Entra em cena Andreas Mindt, novo chefe de design da VW, que tinha sido chefe do projeto Golf VII. A sua missão era apresentar a versão VW do utilitário 100% elétrico que será feito em Espanha, partilhando a nova plataforma elétrca MEB Entry com o Cupra Urban Rebel e também um modelo da Skoda.
Abaixo os ID asséticos
O conceito de estilo dá uma volta de 180 graus e Mindt dispara no sentido oposto: o ID.2 vai ser, afinal, um ultra-conservador Polo elétrico. Não admira que Mindt diga ter precisado de apenas seis semanas para desenhar este ID.2ALL. Até o pilar traseiro é o que sempre vimos no Golf.

O estilo aproxima-se muito mais da atual e última geração a gasolina do Polo, do que da linguagem de estilo dos ID, que tem servido de travão a números de vendas que a VW esperava maiores. E que, dizem, tem os dias contados.

Mindt afirmou que a versão SUV do ID.2 terá um estilo tão previsível e fácil de gostar como este ID.2ALL apontando para uma linguagem que mais não é do que uma evolução da que conhecemos dos atuais modelos a combustão da Volkswagen.
Estilo fez cair o CEO
Esta mudança de rumo no estilo, porque prejudicou as vendas da família ID, levou também à queda do anterior CEO da VW, Herbert Diess, substituído por Thomas Schäfer, que quer tornar a VW numa “marca amada”, como já foi no passado e ao contrário do caminho “frio e calculista” que estava a tomar com o estilo dos ID.

O novo modelo recebeu para já o nome ID. 2ALL (ID para todos, na tradução para português) talvez uma ironia face ao mal-amado ID. Life nesta versão “concept-car” que pode ver nas imagens. Mas a versão final será pouco ou nada diferente.
Os detalhes do ID.2
O ID.2ALL tem 4050 mm, o mesmo que o atual Polo, mas com espaço interior “ao nível do Golf”, nas palavras da VW, até porque tem 2600 mm de distância entre-eixos, um pouco mais que os 2560 mm do Polo.

Ao contrário do ID.3, um tudo atrás, o ID.2 terá motor e tração à frente, começando com 226 cv de potência máxima, mas outras versões estarão disponíveis, mais e menos potentes. A mala tem assim 490 litros, contra os 385 litros do ID.3.
As duas baterias disponíveis, ambas colocadas sob o piso, vão ter capacidades de 38 e 56 kWh, com a maior a anunciar uma autonomia em ciclo WLTP de 450 km. O carregamento poderá ser feito em carregadores rápidos DC até 120 kW, onde os houver, demorando 20 minutos para ir dos 10 aos 80%. A VW anuncia uma aceleração 0-100 km/h em 7,0 segundos e velocidade máxima limitada a 160 km.
Interior mais “normal”
Por dentro, o ID.2 tem um ambiente mais “normal” que o ID.3, com um painel de instrumentos digital novo, sem o pouco ergonómico comando da transmissão acoplado do ID.3; além de um ecrã tátil central de 12,9”, na versão mais cara. Volta a ter um comando rotativo para o volume e desaparecem os infames “sliders” sem iluminação noturna.

A versão final será apresentada em 2025, pouco antes de entrar em produção em Espanha e a VW garante que o preço ficará abaixo dos 25 000 euros, nessa altura.
ID.Polo ou outro nome?
Depois de ter dito que o ID.3 afinal não é o sucessor do Golf e que a sigla GTX, afinal não é a sucessora dos GTI, a VW já afirmou que o nome ID.Golf poderá ser usado no futuro, numa inversão da estratégia que deu origem à família ID.

Resta saber se o ID.2 terá mesmo este nome, ou se, tal como o ID.Buzz, receberá um nome alusivo a modelos passados. O mais óbvio seria ID.Polo, mas Schäfer já deu indícios de que a marca terá um modelo elétrico ainda mais pequeno que este ID.2, um ID.1 feito com base numa nova plataforma, que será partilhada também pela Skoda e que poderá, esse sim, receber o nome ID.Polo.
Ford Fiesta pode renascer
Outra possibilidade interessante é a plataforma MEB Entry vir a servir no futuro para o renascimento do Fiesta como modelo 100% elétrico, dentro do acordo que Ford e a VW celebraram para a partilha de plataformas e que deu já origem ao Ford Explorer, um SUV baseado no ID.4 da Volkswagen.

A Ford não confirma, nem desmente. Mas afirma que o Puma vai continuar a ser a sua grande aposta no segmento, capitalizando os excelentes números de vendas e de lucro que o modelo tem tido nas suas versões a combustão.
Um Puma elétrico, feito com base na plataforma do atual modelo a combustão, está prevista já para 2024. A segunda geração do Puma SUV será 100% elétrica, por isso teria toda a lógica que o modelo fosse feito com base na plataforma MEB Entry.
Conclusão
A importância que tem o estilo no sucesso de um automóvel nunca foi tão grande como nos elétricos. As mecânicas deixaram de ser um fator de fácil diferenciação. Por isso, é preciso acertar nos gostos do público. O estilo assético da família ID não está a resultar como a VW queria, por isso este regresso a uma linguagem ultra-conservadora e aos nomes que fizeram a história da marca.
Francisco Mota
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